Dengue explode no Brasil com 365 mil casos e ao menos 40 mortes no início de 2024

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O contágio da população pela dengue explodiu no Brasil nas cinco primeiras semanas do ano, causando ao menos 40 mortes e atingindo 364,8 mil casos prováveis, quase quadruplicando o número de pessoas afetadas em relação ao mesmo período de 2023, segundo dados do Ministério da Saúde.

A exponencial elevação dos casos de dengue ocorre na semana em que o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhamon, visita o país. Ele já se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e se colocou à disposição para uma parceria na produção de uma vacina brasileira contra a dengue.

Desde o início do ano, já foram registrados 364.855 casos prováveis da doença, ante 93.298 da mesma época do ano passado -- um aumento de 291%. Até o momento, foram 40 óbitos confirmados, além de outros 265 em investigação.

    Segundo Estado mais populoso do país, Minas Gerais decretou situação de emergência com o objetivo de facilitar o enfrentamento da dengue, assim como Goiás, Acre e o Distrito Federal. A cidade do Rio de Janeiro também tomou a mesma providência às vésperas de receber milhares de turistas para o Carnaval.

MAIS AÇÕES E RECURSOS

Em pronunciamento nacional no rádio e na TV na noite de terça, a ministra da Saúde disse que a situação de emergência da dengue exige "ações adicionais" dos entes federativos e da população. Ela anunciou a ampliação para 1,5 bilhão de reais de repasses de recursos a Estados e municípios -- a pasta já havia entregue 256 milhões de reais.

Nísia destacou ainda a instalação do centro emergencial para coordenar operações de combate à dengue com os demais entes regionais. Estados também têm adotado medidas de reforço, como São Paulo, que criou um centro específico.

Em nota à Reuters, o Ministério da Saúde disse que desde 2023 está em constante monitoramento e alerta quanto ao quadro da epidemia no país. Afirmou ainda que adquiriu todo o estoque de 5,2 milhões de doses de vacina do laboratório Takeda, que será entregue entre fevereiro e novembro deste ano. Outras 1,32 milhão de doses serão fornecidas sem custo ao governo federal.

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"É importante reforçar que outras aquisições podem ser feitas se houver nova disponibilidade de doses ao Ministério da Saúde", ressaltou a pasta, em comunicado.

    Por ora, o público-alvo da vacinação -- que começará em breve -- será composto por crianças e adolescentes entre 10 a 14 anos e as doses devem ser remetidas a locais com alta taxa de transmissão nos últimos dez anos e com maior número de casos em 2023 e 2024. A pasta também disse apoiar o desenvolvimento de imunizantes pelas indústrias nacional e internacional e busca ampliar a cobertura para todo o Brasil.

A ministra disse que a pasta vai coordenar um "esforço nacional para ampliar a produção e o acesso a vacinas para dengue", embora não tenha precisado um cronograma para isso ocorrer.

"Convoco todos e todas para uma mobilização nacional, dos governos e de toda a sociedade, para que juntos enfrentemos os atuais surtos e, em breve, possamos fazer com que a dengue seja uma doença do passado", afirmou.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou também na terça-feira que vai adotar um rito acelerado para a aprovação da vacina contra a dengue que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan. Esse procedimento também foi adotado para as vacinas desenvolvidas contra a Covid-19.

Nas clínicas privadas no país, a corrida pela vacina do laboratório Takeda aumentou bastante nos últimos dias e já se registra falta dela em muitos lugares. O imunizante, que custa cerca de 400 reais por dose, tem de ser ministrado duas vezes num prazo de três meses para garantir a sua eficácia.

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    A vacina pode ser administrada na rede privada a pessoas de 4 a 60 anos. Contudo, na segunda-feira o laboratório informou que vai priorizar a imunização da rede pública e será limitada a venda em clínicas privadas.

CAPITAL DA DENGUE

Mesmo sendo a unidade da federação com maior renda per capita familiar e que recebe recursos locais e federais para a área de saúde, o Distrito Federal vive a situação mais delicada do país em relação à dengue.

    Na capital federal, o número de casos prováveis de dengue em cinco semanas, 45.782, já superou o de todo o ano passado, 38.584. Essa quantidade de casos possíveis é também 1.200% a mais que no mesmo período de 2023, que foi de apenas 3.521.

O DF também registra a maior taxa de incidência do país, com 1.625 casos prováveis por 100 mil habitantes -- a média nacional, a título de comparação, é de 170.

    Na segunda-feira, foi inaugurado um hospital de campanha da Força Aérea Brasileira em Ceilândia, a região administrativa mais populosa do DF e distante cerca de 30 quilômetros do centro de Brasília. A promessa é que a estrutura militar realize 600 atendimentos por dia durante 24 horas.

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Militares e voluntários também estão sendo convocados para intensificar ações de combate ao mosquito. Em uma medida excepcional, a Justiça de Brasília autorizou inclusive agentes de saúde a entrar nas casas desocupadas para debelar focos da dengue.

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