Lula diz acreditar que não seria possível tentativa de golpe de Estado sem Bolsonaro

Por Fernando Cardoso

(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira que acredita que não seria possível uma tentativa de golpe de Estado no Brasil sem a participação de seu antecessor, Jair Bolsonaro, depois do ex-presidente tornar-se alvo de operação da Polícia Federal nesta quinta por tentativa de "golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito", ao lado de ex-ministros e auxiliares de seu governo.

Falando em entrevista à Rádio Itatiaia, durante visita ao Estado de Minas Gerais, Lula ainda afirmou que não é seu papel dar "palpite" sobre ações sigilosas da PF, mas defendeu que os envolvidos na suposta tentativa de golpe sejam investigados.

"Eu acho que não teria acontecido sem ele (Bolsonaro). O comportamento dele foi muito diferente. Ele passou o tempo inteiro mentindo sobre as eleições, mentindo sobre as urnas", disse Lula.

"Não cabe ao presidente da República ficar dando palpite em uma atuação dessa. Obviamente tem muita gente envolvida, muita gente que vai ser investigada", acrescentou.

De acordo com Lula, a tática de Bolsonaro ao criticar frequentemente o processo eleitoral brasileiro e questionar o uso das urnas eletrônicas no pleito visava desmoralizar a democracia no país para favorecer a possibilidade de uma ruptura.

"Na verdade era uma tática de criar na sociedade um descrédito. Você desmoraliza o processo, aí você pode acabar com o processo", argumentou.

Mais cedo, a PF deflagrou operação na qual o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a apreensão do passaporte de Bolsonaro e o impediu de manter contato com demais investigados.

De acordo com fonte com conhecimento do assunto, alguns dos principais auxiliares de Bolsonaro, incluindo o general Walter Braga Netto, ex-ministro e ex-candidato a vice-presidente da chapa de Bolsonaro, e os ex-ministros Paulo Nogueira Batista (Defesa), Anderson Torres (Justiça), e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional, também foram alvos de mandados de busca e apreensão.

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As fontes afirmaram ainda que o ex-assessor de Bolsonaro para assuntos internacionais Filipe Martins foi preso no âmbito da operação.

Ao todo, a PF cumpre quatro mandados de prisão preventiva, 48 medidas cautelares e 33 mandatos de busca e apreensão. Os alvos são acusados de participação em "organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder".

A Reuters tentou contato com os alvos da operação ou sua defesa mas não obteve resposta imediatamente.

O ex-chefe da Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten, confirmou a entrega do passaporte do ex-presidente e a proibição dele manter contato com os demais investigados.

"Em cumprimento às decisões de hoje, o presidente @jairbolsonaro entregará o passaporte às autoridades competentes", disse Wajngarten.

(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito, em Brasília)

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