Yellen diz que Argentina enfrenta "transição difícil" e está aberta às ideias do FMI

Por Andrea Shalal

SÃO PAULO (Reuters) - A Argentina está conversando com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre um possível novo programa de financiamento com metas diferentes para a economia em dificuldades, disse a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, depois de se reunir com o ministro da Economia do país latino-americano, Luis Caputo.

O novo governo do presidente liberal Javier Milei está disposto a tomar medidas "muito promissoras" para lidar com os problemas da economia, disse Yellen à Reuters na quinta-feira, após sua primeira reunião com Caputo.

Milei se comprometeu a reverter a crise na Argentina -- onde a inflação está em 250% e 57% das pessoas vivem na pobreza -- com medidas de austeridade rígidas, uma mensagem que foi bem aceita pelos mercados e investidores, mas criou tensão com sindicatos e governadores regionais.

"Eles herdaram uma situação incrivelmente difícil, e acho que as medidas que eles anunciaram que estão dispostos a tomar são muito promissoras", disse Yellen à margem de uma reunião do Grupo dos 20 em São Paulo. "Será uma transição realmente difícil, pois eles tentarão manter a política fiscal sob controle."

Caputo negou na quinta-feira uma reportagem da mídia de que o governo estava negociando um novo programa de empréstimos com o FMI no momento, mas disse que o credor global estava aberto a tais discussões com seu maior devedor.

Um programa de empréstimo de 44 bilhões de dólares da Argentina com o FMI saiu dos trilhos no ano passado em meio ao aumento da inflação e ao aprofundamento do déficit fiscal. Os dois lados estão discutindo como renovar o acordo. Um novo acordo seria um passo mais significativo que envolveria novos fundos para uma economia com reservas de moeda estrangeira no vermelho e controles rígidos de capital.

Uma autoridade do FMI, que pediu para não ter seu nome revelado, disse que o credor estava concentrado em apoiar as políticas do governo argentino que ajudassem a restaurar a estabilidade macroeconômica, acrescentando que seria "prematuro" que os dois lados discutissem detalhes sobre qualquer novo programa.

Yellen disse que Caputo estava "muito aberto às ideias do FMI".

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"Eles estão potencialmente falando sobre um novo programa e estabelecendo metas diferentes. Eles estão trabalhando com o FMI e continuarão a fazê-lo", disse ela.

Yellen disse que o longo histórico de crises financeiras e inadimplência da dívida da Argentina foi um estudo de caso quando ela lecionava na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e que a maioria dos analistas considerava o fracasso do país em controlar os déficits orçamentários como sua falha fundamental.

"Este é um país que costumava ser um dos mais ricos do mundo. Nos últimos 100 anos, eles aparentemente tiveram dezenas de crises financeiras e não pagaram sua dívida internacional nove vezes. Eles sofreram com inflação alta, hiperinflação e todos os males macroeconômicos", disse ela.

Durante a reunião, Caputo disse a Yellen que seu governo sabia que haveria tempos difíceis pela frente, mas que estava confiante de que suas reformas dariam início a um ponto de inflexão.

Yellen elogiou o que disse a Caputo serem "medidas importantes" do governo de Milei para restaurar a sustentabilidade fiscal, ajustar a taxa de câmbio e combater a inflação.

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