Campos Neto diz que inflação de serviços é ponto de atenção e vê pressão de salários

SÃO PAULO (Reuters) - A inflação de serviços no Brasil é um ponto de atenção, com salários começando a "pressionar um pouco" os preços, disse nesta segunda-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ponderando que o cenário no país ainda é benigno apesar de números marginalmente piores no setor.

Falando em evento da Associação Comercial de São Paulo, Campos Neto reafirmou que a variação dos preços no Brasil caminha em direção à meta, em um processo de convergência, mas destacou que a inflação de serviços ainda roda acima do observado antes da pandemia de Covid.

"A gente ainda entende que tem uma convergência benigna da inflação, tem um ponto de atenção para a parte de serviços, que a gente tem falado, a gente está vendo que essa parte de salários começou a pressionar um pouco", disse, ressaltando que o desemprego no Brasil "surpreendeu bastante" com número mais baixo que o esperado.

Os dados de inflação de janeiro, divulgados pelo IBGE no início do mês passado, mostraram desaceleração, mas acenderam alerta sobre o setor de serviços, que teve alta de preços quando excluídos da conta itens mais voláteis, como passagens aéreas.

Campos Neto afirmou que o BC fez várias análises sobre a dinâmica de inflação de serviços e disse entender que não há nada hoje que acenda algum tipo de luz vermelha, mas que é preciso estar atento.

"A gente teve números de inflação de serviços, especialmente núcleos de serviços marginalmente piores... Tem alguns números com uma piora marginal, mas dentro ainda de um cenário que a gente entende que é benigno", afirmou.

Na reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a taxa básica de juros foi cortada em mais 0,50 ponto percentual, a 11,25% ao ano, o BC debateu a dinâmica do setor de serviços, apontando que um mercado de trabalho mais apertado pode retardar a convergência da inflação para a meta.

Para Campos Neto, as expectativas de inflação estão relativamente estáveis em um nível acima da meta, o que é uma preocupação para o BC.

Ele voltou a afirmar que os juros reais no Brasil são altos, mas vêm reduzindo a diferença em relação a outros países.

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Em relação ao quadro fiscal do Brasil, o presidente do BC disse que a projeção do mercado para este ano é ruim, ressaltando acreditar que o governo tem condições de entregar um resultado que surpreenda para melhor.

O mais recente boletim Focus, no qual o BC capta projeções de agentes do mercado, aponta expectativa de déficit primário neste ano de 0,78% do Produto Interno Bruto (PIB), dado que pouco variou nos últimos meses, mesmo após a aprovação de uma série de medidas que prometem incrementar as receitas do governo.

Sobre a atividade econômica, Campos Neto disse que 2024 começou com um processo de revisão para cima das projeções de crescimento feitas pelo mercado para este ano. Segundo ele, essa melhora pode indicar o efeito cumulativo de reformas estruturais feitas nos últimos anos.

Em meio a atritos entre países com conflitos na Ucrânia e em Gaza, Campos Neto disse ainda que os riscos geopolíticos subiram muito, começando a gerar custo na oferta de bens, com impacto sobre a logística global e preços de produtos.

No evento, Campos Neto ainda defendeu a evolução da autonomia operacional do BC para a autonomia financeira, tema que é tratado em proposta apoiada pela autoridade monetária que tramita no Congresso.

(Por Fernando Cardoso, em São Paulo, e Bernardo Caram, em Brasília)

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