Fed vê três cortes de juros em 2024 e Powell apoia abordagem mais lenta

Por Howard Schneider e Ann Saphir

WASHINGTON (Reuters) - O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, disse nesta quarta-feira que as recentes leituras de inflação elevada não mudaram a "história" subjacente da queda lenta das pressões de preços dos Estados Unidos, mas acrescentou que os dados também não reforçaram a confiança do banco central norte-americano de que a batalha contra a inflação foi vencida.

Powell, falando após uma reunião de política monetária na qual as autoridades deixaram os juros inalterados e mantiveram suas perspectivas de três cortes nos custos de empréstimos este ano, disse que o momento dessas reduções ainda depende de as autoridades se tornarem mais seguras de que a inflação pode continuar a cair em direção à meta de 2% do Fed em uma economia que continua a superar as expectativas.

Os relatórios de inflação do início do ano mostraram que as pressões sobre os preços permaneceram "elevadas", na opinião do Fed, mas "não mudaram realmente a história geral, que é a de uma inflação caindo gradualmente em uma trajetória às vezes instável para 2%", disse Powell a repórteres. "Também não acho que essas leituras tenham aumentado a confiança de ninguém" em relação a um declínio contínuo da inflação.

A decisão sobre quando cortar os custos de empréstimos dependerá de mais dados, disse Powell, para determinar se as leituras decepcionantes que começaram o ano continuarão.

"Queremos ser cautelosos", disse o chefe do Fed, reiterando uma abordagem lenta para os cortes na taxa básica, que tem sido justificada pela força contínua da economia dos EUA, deixando autoridades sem pressa para flexibilizar a política monetária enquanto a atividade e o mercado de trabalho continuarem a crescer.

Embora as autoridades tenham afirmado sua visão de três cortes nos juros de juros este ano, elas também atualizaram suas perspectivas de crescimento econômico e projetaram um progresso ligeiramente mais lento em relação à inflação ao longo do ano.

A taxa de juros de referência "overnight" do Fed, como esperado, foi mantida estável na quarta-feira, na faixa de 5,25% a 5,50%, onde se encontra desde julho.

As projeções econômicas trimestrais atualizadas mostraram expectativa mediana de que o núcleo do índice PCE, excluindo alimentos e energia, aumente a uma taxa de 2,6% até o final do ano, em comparação com os 2,4% das projeções divulgadas em dezembro.

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Ainda assim, 10 das 19 autoridades do Fed ainda veem a taxa básica em queda de pelo menos 0,75 ponto percentual até o final deste ano, uma visão mediana definida pela primeira vez em dezembro e mantida apesar da recente inflação mais forte do que o esperado.

Em dezembro, onze autoridades previram três cortes de 0,25 ponto percentual para o ano, e a nova visão de política monetária veio junto com uma perspectiva melhorada para a economia norte-americana.

O crescimento agora é visto como sendo de 2,1% para o ano, em comparação com apenas 1,4% projetado em dezembro, enquanto a taxa de desemprego é vista como encerrando o ano em 4%, abaixo dos 4,1% previstos em dezembro e pouco diferente da taxa de desemprego de 3,9% registrada em fevereiro.

Uma medida importante, a taxa básica de longo prazo, foi elevada em um 0,1 ponto percentual, de 2,5% para 2,6%, refletindo a opinião de algumas autoridades do Fed de que a economia dos EUA pode suportar custos de empréstimos mais altos no futuro.

O Fed deu início a um ciclo agressivo de aperto da política monetária há dois anos, em resposta a um aumento da inflação que acabaria atingindo o maior patamar em 40 anos, mas manteve sua taxa básica na faixa de 5,25% a 5,50% desde julho passado.

As projeções mais recentes mostram que a mediana dos formuladores de política monetária espera que a taxa de juros de referência "overnight" do Fed caia 0,75 ponto percentual em 2025, menos do que o 1 ponto percentual projetado em dezembro como parte de uma trajetória de corte de juros ligeiramente desacelerada, e em 0,75 ponto também em 2026, o mesmo previsto anteriormente.

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"A atividade econômica tem se expandido em um ritmo sólido. Os ganhos de emprego permaneceram fortes e a taxa de desemprego permaneceu baixa", disse o Fed em sua decisão aprovada por unanimidade após reunião de dois dias.

A declaração também repetiu que as autoridades ainda estão buscando "maior confiança" em um declínio contínuo da inflação antes de começarem a cortar a taxa de juros, linguagem adotada na reunião do Fed de 30 e 31 de janeiro que provavelmente permanecerá em vigor até pouco antes da primeira redução da taxa básica.

Antes da reunião, investidores haviam se firmado em uma previsão de início dos cortes na taxa básica em junho. Essa visão foi amplamente reforçada pelo resultado da reunião, mas também deixa a perspectiva da taxa mediana próxima de um ponto de inflexão, fato que poderia dar uma influência desproporcional aos próximos relatórios de inflação.

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