Governo propõe meta fiscal zero para 2025 e afrouxa alvo também para anos seguintes

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O governo propôs uma meta de superávit primário zero para 2025, confirmaram nesta segunda-feira os ministérios da Fazenda e do Planejamento, em uma redução do esforço fiscal anunciado anteriormente, que previa superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano.

Ao apresentar o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que será enviado ao Congresso com os parâmetros para a preparação do Orçamento, a equipe econômica ainda previu uma trajetória com superávit primário de 0,25% do PIB em 2026, 0,5% do PIB em 2027 e 1% do PIB em 2028.

As novas estimativas para as contas do governo central representam um alongamento da melhora fiscal, que passaria a ser mais gradual, contra previsão anterior de atingir um saldo positivo de 1% do PIB já em 2026. Na prática, a mudança atrasa o processo de estabilização da dívida pública.

Pelos cálculos apresentados pela equipe econômica, a dívida bruta do governo seguirá em alta até 2027, quando atingirá 79,7% do PIB, iniciando trajetória de queda em 2028.

Em valores nominais, o compromisso do governo é de alcançar déficit zero em 2024 e 2025, e superávits de 33,1 bilhões de reais em 2026, 70,7 bilhões de reais em 2027 e 150,7 bilhões de reais em 2028.

Em entrevista à imprensa, o secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Gustavo Guimarães, afirmou que a nova trajetória de metas para os próximos anos mantém o compromisso do governo com a sustentabilidade da dívida pública.

"Todos nós queremos juros mais baixos, crescimento econômico robusto, emprego e renda para a população, e sabemos que dependemos da confiança de todos os agentes na estabilidade fiscal", disse.

Para o secretário, a nova trajetória de resultados primários ainda é desafiadora, mas “plenamente possível”.

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SALÁRIO MÍNIMO

O projeto da LDO também traz estimativa para o salário mínimo no próximo ano. O patamar deve ficar em 1.502 reais, segundo o governo, ante o nível atual de 1.412 reais.

O valor do piso nacional já havia sido anunciado mais cedo nesta segunda pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, juntamente com a meta de déficit zero para 2025.

O reajuste leva em conta a política de ganhos reais, retomada pelo governo, que considera a inflação do ano anterior e a variação do PIB de dois anos antes. O patamar poderá ser alterado a depender do desempenho da inflação até o fechamento deste ano.

Com a meta de resultado primário zero para 2025, o governo poderá, na prática, fechar o próximo ano com déficit nas contas sem ferir as normas vigentes. Isso porque o arcabouço estabelece que o alvo tem uma margem de tolerância de 0,25% do PIB para mais ou para menos.

Pelos dados apresentados nesta segunda, o governo estabeleceu para o ano que vem uma previsão de 2,320 trilhões de reais em receitas líquidas. Também definiu em 2,349 trilhões de reais as despesas primárias totais.

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Os valores consideram 39,9 bilhões de reais em desembolsos com precatórios que não serão computados na meta após decisão do Supremo Tribunal Federal. Com isso, apesar da meta zero, o governo espera fechar 2025 com um superávit de 10,8 bilhões de reais.

Os números dizem respeito às contas do governo central, que incluem os resultados do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central. O dado não incorpora gastos do governo com juros da dívida pública.

A trajetória de melhora fiscal anunciada pelo governo ao aprovar o novo arcabouço para as contas públicas ano passado envolvia a dependência de uma forte ampliação de receitas, estratégia que passou a esbarrar em resistências políticas.

Entre os esforços propostos pela administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ampliar receitas e reduzir benefícios tributários, o Legislativo tem imposto dificuldades em medidas como a reoneração da folha salarial de 17 setores da economia, redução de benefício a municípios e extinção de um programa de apoio ao setor de eventos.

Nesta segunda, Haddad afirmou que mesmo com a flexibilização do alvo, será necessário continuar negociando com o Congresso para reduzir despesas públicas e recompor receitas, argumentando que o governo convive desde 2015 com um déficit estrutural nas contas.

“Não é uma coisa nova, não é uma coisa boa. O Brasil não está crescendo mais por causa disso, está crescendo menos. Nosso esforço é colocar ordem nisso”, disse.

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Na apresentação desta segunda, a equipe econômica ainda apresentou projeções de economia potencial com revisão de despesas públicas. A previsão é que o governo possa economizar cerca de 9 bilhões de reais por ano com um pente-fino em benefícios previdenciários e mudanças de regras anunciadas para o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro).

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