Dólar tem queda após sequência expressiva de ganhos, mas cautela permanece

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar passou a cair nesta quarta-feira, perdendo fôlego depois de avançar por cinco pregões consecutivos, mas com o apetite por risco dos investidores ainda limitado por temores fiscais domésticos e pelo pessimismo em relação ao Federal Reserve.

Às 10h20 (de Brasília), o dólar à vista caía 0,38%, a 5,2485 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,76%, a 5,2545 reais na venda.

Segundo operadores, essa desvalorização é um movimento de ajuste depois de, na véspera, o dólar à vista ter fechado em alta de 1,64%, chegando a 5,2686 reais na venda. Foi o maior valor de fechamento para a moeda norte-americana desde 23 de março de 2023 (5,2898).

Em cinco dias úteis, a divisa acumulou elevação de 5,23% ante o real, de forma que a leve fraqueza do dólar nesta manhã não chega nem perto de compensar o salto recente.

"Dado o fato de uma volatilidade tão alta ter acontecido em um período tão curto, é difícil olhar para frente e dizer se o dólar deve se manter nesse patamar ou se ele deve recuar", disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.

"O ponto é que, quando acontecem esses movimentos, a ancoragem de preço costuma mudar, então é possível que a gente veja o dólar entre 5,10 e 5,20 durante um tempo ainda, mesmo que não tenham mudado muito os fundamentos da moeda", completou ele.

A recente alta do dólar veio em linha com movimento global de reprecificação dos cortes de juros pelo Federal Reserve após a divulgação de dados fortes sobre a economia norte-americana.

Operadores precificam agora cortes de 0,40 ponto percentual dos juros pelo Fed em 2024, drasticamente abaixo do 1,50 ponto esperado no início do ano.

Continua após a publicidade

Isso aponta para um cenário de juros altos por mais tempo nos EUA, elevando a atratividade do mercado de renda fixa norte-americano e, consequentemente, do dólar.

"Localmente, os investidores também reagiram à piora no que tange o fiscal, após a decisão do governo de não apresentar superávit fiscal em 2025", disseram em relatório a clientes Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter, e dois analistas-chefes do banco.

A frustração dos mercados veio após decisão do governo de afrouxar a meta de resultado primário para zero para o próximo ano, em uma redução do esforço anunciado anteriormente, que previa superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Enquanto isso, investidores "seguem atentos à geopolítica no Oriente Médio, visto que Israel ameaçou retaliar pelos ataques aéreos que sofreu do Irã no fim de semana", disseram economistas da Guide Investimentos em nota, embora tenham chamado a atenção para um clima mais ameno no exterior.

Nesta quarta-feira, dando algum suporte ao real, os contratos futuros do minério de ferro saltaram para o nível mais alto em mais de cinco semanas, ajudados pela melhora no mercado de aço e pela expectativa de reabastecimento por parte das siderúrgicas antes de um feriado na China.

Deixe seu comentário

Só para assinantes