Bloqueio de verba do Prosub não adiará submarino nuclear, mas pode aumentar custo, diz comandante da Marinha

Por Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, afirmou nesta segunda-feira que o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) sofreu um bloqueio de recursos de quase 200 milhões de reais que resultou no desligamento de cerca de 200 pessoas envolvidas no projeto, mas assegurou que não haverá atraso na entrega do primeiro submarino de propulsão nuclear do país, ainda que possa haver aumento de custo.

O Prosub tinha 1,7 bilhão de reais provisionados na Lei Orçamentária Anual, mas sofreu um bloqueio de 199,9 milhões de reais no âmbito de um bloqueio de 446 milhões de reais decidido pela Junta de Execução Orçamentária nas despesas discricionárias do Ministério da Defesa.

Apesar do corte, e de eventuais novos impactos sobre o processo de produção, o prazo para a entrega do submarino de propulsão nuclear que representa o ápice do programa não será postergado, segundo Olsen. A estimativa é que o submarino ficará pronto em 2034 e será incorporado à frota da Marinha em 2037.

“Não acredito que venha a comprometer o projeto. Pode impor renegociação de contratos, o que é feito desde o início da parceria estratégica em 2008”, disse Olsen. "Não acredito que impacte no prazo de entrega, mas talvez no custo“, acrescentou.

O contingenciamento de recursos, de acordo com o comandante, impactou diretamente o estaleiro Itaguaí Construções Navais (ICN), que atua na construção dos submarinos. A empresa demitiu cerca de 200 trabalhadores, o que representa menos de 10% do efetivo envolvido no projeto, segundo Olsen.

Três submarinos convencionais do projeto já foram entregues, e um quarto está previsto para o ano que vem.

No mês passado, durante visita ao Brasil do presidente francês, Emmanuel Macron, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama, Janja, batizaram o submarino Tonelero, que faz parte do Prosub, uma parceria do Brasil com a França.

Nesta segunda-feira, o comandante da Marinha defendeu, ainda, uma ampliação dos investimentos do Brasil em defesa mediante a maior tensão geopolítica global. Olsen lembrou as crises no Oriente Médio e tensões na América do Sul, como entre Guiana e Venezuela e a invasão da embaixada do México no Equador, uma estação espacial chinesa na Argentina -- país que pode também construir um base naval em parceria com os EUA.

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”Me preocupa o entorno estratégico. A estratégia nacional de defesa define o Atlântico Sul como área de interesse prioritário. Temos influência de potências internacionais no nosso entorno estratégico, e ele está se tornando conturbado. O país precisa estar preparado. Nenhum Estado pode ser pacífico sem ser forte“, disse o comandante da Marinha.

“Os gastos de defesa (no mundo) estão crescendo exponencialmente e procuramos mostrar a necessidade imperiosa de assegurar o reaparelhamento das Forças Armadas com investimentos."

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