Gás Verde vai fornecer biometano para fábrica da Haleon no RJ e mira mercado de frotas

Por Letícia Fucuchima

SÃO PAULO (Reuters) - A Gás Verde fechou um contrato para fornecer biometano para a Haleon, em projeto que atenderá todo o consumo de gás da fábrica da empresa de saúde na cidade do Rio de Janeiro, tornando a unidade "carbono neutro" em 2025, disseram as companhias à Reuters nesta terça-feira.

O acordo, que envolve o fornecimento de 830 mil metros cúbicos por ano de biometano para alimentar caldeiras, complementa o portfólio de clientes do gás renovável da Gás Verde, que planeja triplicar seu volume de produção até 2026 e mira novos contratos para "descarbonizar" indústrias em seus processos produtivos e frotas de veículos pesados.

O novo contrato será atendido por meio da planta de biometano de Seropédica (RJ), a maior da América Latina, onde a Gás Verde produz atualmente uma média de 140 mil m³/dia com o processamento de biogás de aterro sanitário. O insumo será transportado por caminhões, também movidos a biometano, até a fábrica de Jacarepaguá.

Líder global em saúde do consumidor, a Haleon nasceu após um "spin-off" da GSK e é dona de marcas como Advil, Eno, Centrum, Sensodyne e Corega. A companhia substituirá todo seu consumo de gás natural na unidade fluminense, que será a primeira do grupo britânico no mundo a utilizar o biocombustível.

Com o biometano e outras iniciativas, como compra de energia renovável no mercado livre e geração própria solar, a fábrica de Jacarepaguá zerará em 2025 suas emissões de CO2, que são da ordem de 1,8 milhão de toneladas por ano.

Graziela Soares, diretora da fabrica de Jacarepaguá, destacou que a alternativa do biometano pôde ser implementada sem grandes modificações na planta, tendo se mostrado mais atrativa do que outros projetos de descarbonização avaliados, como eletrificação da rede, que elevaria demais o custo produtivo.

"É um ganha-ganha... Do ponto de vista do custo, ficamos com um custo neutro num primeiro momento... E a partir do sexto ano, já tem uma economia frente ao gás que vem da própria rua. Então além de fazer um bem ao meio ambiente, a gente fica com custo mais competitivo", apontou.

O biometano é um gás de origem renovável que serve como substituto de combustíveis fósseis, como gás natural e diesel, e que vem ganhando mais atenção diante da agenda de transição energética. Ele resulta do processamento do biogás, que por sua vez é obtido de resíduos orgânicos urbanos e agropecuários, como de aterros sanitários e da industria da cana.

Continua após a publicidade

Maior produtora de biometano do país, a Gás Verde investiu mais de 1 bilhão de reais nos últimos 24 meses em suas plantas do insumo, que já é fornecido para grandes indústrias como a siderúrgica Ternium e a fabricante de bebidas Ambev.

A empresa prevê chegar ao final do ano com uma produção de 200 mil m³/dia e triplicar esse volume até 2026, para 600 mil m³/dia, principalmente a partir da conversão de suas usinas térmicas movidas a biogás, que deixarão de gerar energia e passarão a produzir o biometano.

Marcel Jorand, CEO da Gás Verde, destacou a previsão de aumento importante da produção no Rio de Janeiro, com a entrada de novas unidades em São Gonçalo e Nova Iguaçu, e diz que a empresa busca novos contratos de fornecimento, sobretudo para alimentar frotas de caminhões com o biometano.

"Esses mesmos clientes que usam (biometano) no processo produtivo vão ter interesse para frotas, que fazem 'outbound' e 'inbound' na fábrica, que levam insumos", explicou.

O executivo aponta ainda que a companhia pretende seguir crescendo com novas plantas, apoiadas em biogás de aterros sanitários de menor porte e de resíduos do agro, e defendeu a criação de um mandato para o biometano no âmbito do projeto de lei Combustível do Futuro, em discussão no Congresso.

"(O mandato) traz previsibilidade de demanda, que traz bancabilidade... O Capex para as plantas é muito alto, quando você traz previsibilidade de que vai ter demanda perene, isso traz mais conforto para quem quer financiar o empreendedor".

Continua após a publicidade

(Por Letícia Fucuchima)

Deixe seu comentário

Só para assinantes