Campos Neto e ata do Copom mostram visão pessimista para inflação e receio com fiscal

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - A reabertura do ciclo de comunicação do Banco Central após a decisão de elevar os juros básicos evidenciou uma visão mais pessimista para a inflação, enquanto preocupações sobre a credibilidade dos números fiscais do governo ganharam força, conforme ata da última reunião do Copom e declaração do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.

Na ata do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) que marcou a primeira elevação da Selic em dois anos, em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, o BC excluiu do texto a menção feita em julho de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) "tem arrefecido". O documento foi divulgado na manhã desta terça-feira.

Segundo a autarquia, dados sugerem uma deterioração da composição da inflação, ainda que o número agregado não tenha divergido significativamente do que era esperado, citando uma interrupção no processo desinflacionário no período mais recente.

"O Comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma trajetória de taxa de juros mais elevada", acrescentou, ao reforçar que o balanço de riscos para a inflação deixou de estar equilibrado e passou a ser assimétrico, com maior peso dos riscos de alta de preços.

Em evento organizado pelo J. Safra logo após a divulgação da ata, quando se encerra o período de silêncio da diretoria do BC, Campos Neto disse que o número mais recente de inflação foi "até melhor", mas defendeu que se observe o quadro mais completo, antes de ressaltar que a seca no país gera alerta sobre os preços de alimentos e energia.

“A dinâmica de inflação ainda preocupa o Banco Central,” disse.

A meta central estabelecida para a inflação no país é de 3%, mas as expectativas do mercado para os preços à frente seguem persistentemente acima desse alvo, tema que o BC destacou como “fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê".

As atenções do mercado na quarta-feira estarão voltadas para a divulgação de números do IPCA-15 de setembro, com economistas consultados pela Reuters prevendo uma alta de 0,30% no índice, de 0,19% no mês anterior. Em 12 meses, a expectativa é de que o número chegue a 4,30%, ante 4,35% em agosto.

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As análises do BC também têm focado nos riscos de surpresas positivas na atividade e no mercado de trabalho apertado pressionarem a inflação. Na ata, a autarquia avaliou que o crescimento real de salários acabará impactando preços caso seja persistente, embora o momento e a magnitude desse movimento sejam incertos.

"A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias seguem indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada", disse a ata.

PREOCUPAÇÃO FISCAL

Em meio a críticas de analistas sobre iniciativas criativas adotadas pelo governo na gestão das contas públicas, o BC enfatizou a importância da credibilidade e da transparência nessa área.

"Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", afirmou.

O trecho do documento que defende regras previsíveis e transparência dos resultados fiscais representa um passo adicional na comunicação do BC, já que não fazia parte da ata da reunião do Copom de julho.

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Entre as ações do governo criticadas por especialistas estão uma proposta para bancar o auxílio-gás a famílias carentes fora do Orçamento, o uso de fundos privados para financiar políticas públicas e a tentativa de usar a captação de recursos esquecidos por correntistas em bancos para turbinar o resultado primário, ponto que enfrenta discordância do BC.

Na sexta-feira, o governo afrouxou a contenção orçamentária adotada para cumprir regras fiscais, argumentando que seus cálculos apontam para uma receita maior que a esperada compensando uma elevação de despesas obrigatórias. O congelamento de verbas foi reduzido de 15 bilhões de reais para 13,3 bilhões de reais.

Na apresentação desta terça, Campos Neto disse que o aumento observado no prêmio de risco captado na parte longa da curva de juros futuros parece estar associado a uma dúvida sobre números fiscais do país, ressaltando que o tema das contas públicas é importante para a atuação da política monetária.

Tanto a ata do Copom quanto Campos Neto ponderaram que a autarquia incorpora em seus cenários uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo. O presidente do BC afirmou ainda que o aumento do risco nas leituras de mercado "parece exagerado".

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