Dinâmica de inflação no Brasil ainda preocupa o BC, diz Campos Neto

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - A dinâmica da inflação ainda preocupa o Banco Central, afirmou nesta terça-feira o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, ressaltando que a seca no país gera receios em relação aos preços dos alimentos.

Em palestra no evento J. Safra Brazil Conference 2024, organizado pelo J. Safra em São Paulo, Campos Neto afirmou que o número mais recente de inflação foi "até melhor", mas que, ao se observar o quadro mais completo, a "dinâmica de inflação ainda preocupa o Banco Central".

"Ainda não tem uma certeza absoluta em relação à influência da mão de obra apertada na inflação", comentou Campos Neto, ao abordar um dos fatores de pressão sobre os preços que vêm sendo citados pelo BC. "O que parece mais evidente é que o Brasil está crescendo um pouco acima do potencial na margem", acrescentou.

Ao mesmo tempo, Campos Neto pontuou que o crescimento potencial do país melhorou ao longo dos últimos anos, na esteira das reformas econômicas realizadas pelo país -- inclusive durante a pandemia de Covid-19. "Ainda temos muitas reformas para fazer, não podemos parar", defendeu.

Ao tratar da influência dos desastres climáticos recentes sobre os preços, Campos Neto destacou que os lugares mais afetados pela seca, em todo o mundo, são exatamente os mais intensos na produção de alimentos. Segundo ele, isso traz "certa preocupação" em relação aos preços de alimentos.

CENÁRIO FISCAL

Durante o evento, Campos Neto também afirmou que o aumento recente observado no prêmio de risco captado na parte longa da curva de juros futuros parece estar associado a dúvidas sobre os números fiscais do Brasil.

Na sexta e na segunda-feiras, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) de longo prazo dispararam no Brasil, em razão da desconfiança dos investidores quanto à capacidade de o governo Lula equilibrar as contas públicas. Nestes dois dias, a taxa do contrato para janeiro de 2033, por exemplo, subiu mais de 40 pontos-base, em meio ao processo de aumento de prêmios de risco na curva.

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Campos Neto afirmou que o prêmio de risco na ponta longa "parece um pouco exagerado", mas reconheceu que ele é fruto do questionamento sobre o "número fiscal" do governo e sua "transparência".

"De fato, percebemos que houve aumento do prêmio de risco na parte longa, o que parece estar associado a uma dúvida em relação aos números da parte fiscal", reforçou.

Na noite de sexta-feira, os ministérios do Planejamento e da Fazenda apontaram a necessidade de o governo ampliar em 2,1 bilhões de reais o bloqueio de verbas de ministérios para cumprir o limite de gastos deste ano, totalizando uma contenção de 13,3 bilhões de reais. Segundo projeções da equipe econômica, o governo central fechará 2024 com déficit primário de 28,3 bilhões de reais.

Questionado sobre os impactos da área fiscal sobre a política monetária, Campos Neto afirmou que o BC utiliza os números das contas públicas como "input" para seus modelos. Além disso, ele disse esperar que haja uma desaceleração dos gastos do governo em função da própria dinâmica do arcabouço fiscal.

"O próprio arcabouço força uma diminuição em termos de gastos fiscais. O quanto é, nós não nos arriscamos a dizer", afirmou, acrescentando que o fiscal é importante para a "função reação" do BC.

Na quarta-feira passada, em função das preocupações com a inflação, o BC decidiu elevar a taxa básica Selic em 25 pontos-base, para 10,75% ao ano.

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(Por Fabrício de Castro, em São Paulo; reportagem adicional de Bernardo Caram, em Brasília)

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