Taxas futuras de juros sobem em sintonia com Treasuries após fala de Powell

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs com prazos a partir de janeiro de 2026 fecharam a segunda-feira em alta, pela terceira sessão consecutiva, acompanhando o avanço firme dos rendimentos dos Treasuries no exterior, numa sessão em que o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, projetou mais dois cortes de 25 pontos-base nos juros dos EUA este ano, e não de 50 pontos-base.

Na ponta curta da curva brasileira as taxas ficaram próximas da estabilidade, mantendo a precificação majoritária de alta de 50 pontos-base da taxa básica Selic em novembro.

No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,01%, ante os 10,997% do ajuste anterior.

A taxa para janeiro de 2026 estava em 12,32%, em alta de 5 pontos-base ante o ajuste de 12,269%. O vencimento para janeiro de 2027 marcava 12,38%, em alta de 8 pontos-base ante o ajuste de 12,305%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,44%, ante 12,359%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,37%, ante 12,296%.

No início do dia as taxas futuras chegaram a oscilar em baixa no Brasil, em um ambiente favorável, naquele momento, a ativos de maior risco em todo o mundo -- incluindo o real brasileiro --, após o anúncio de novas medidas para estimular a economia chinesa.

Mas as taxas dos DIs migraram para o território positivo já nos primeiros minutos da sessão, puxadas pelo avanço dos yields enquanto investidores aguardavam com ansiedade por um discurso de Powell, marcado para a tarde.

A partir das 14h55 (horário de Brasília), quando Powell começou a falar, os rendimentos dos Treasuries aceleraram os ganhos, o que também fez as taxas futuras no Brasil atingirem os picos do dia.

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Em sua fala, Powell afirmou que prevê mais dois cortes nas taxas de juros este ano, totalizando 50 pontos-base, "se a economia tiver o desempenho esperado", embora o Fed possa fazer cortes mais rápidos, se necessário, ou mais lentos.

Os comentários de Powell geraram a percepção de que, após cortar os juros em 50 pontos-base em setembro, o Fed tende a desacelerar o ritmo já em novembro, na próxima reunião de política monetária.

No Brasil, às 15h08 -- logo após o início da fala de Powell -- a taxa do DI para janeiro de 2026 atingiu a máxima de 12,35%, em alta de 8 pontos-base ante o ajuste da sexta-feira. Perto do mesmo horário a taxa do DI para janeiro de 2031 marcou a máxima de 12,47%, em alta de 11 pontos-base.

Além da influência vinda do exterior, as preocupações em torno da inflação e do equilíbrio fiscal brasileiro continuaram a permear os negócios nesta segunda-feira.

Após dados robustos do mercado de trabalho terem sustentado a curva no encerramento da última semana, em meio à avaliação de que haverá impactos negativos sobre a inflação, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou na noite de sexta-feira que a bandeira tarifária de outubro será vermelha patamar 2. Esta é cobrança adicional mais alta na conta de luz e não era acionada desde agosto de 2021.

“Mais uma má notícia para a inflação: a Aneel elevou a bandeira tarifária para vermelha 2... elevando a chance de o IPCA fechar acima do teto da meta este ano caso não ocorra alguma reversão da bandeira para dezembro”, disse o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, em comentário enviado a clientes. “O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) considera bandeira amarela para dezembro deste ano conforme sua última ata”, lembrou.

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No campo fiscal, o relatório Focus indicou que a mediana das projeções do mercado para o resultado primário é de déficit de 0,60% do Produto Interno Bruto em 2024 e de 0,73% em 2025. A inflação projetada é de 4,37% para 2024 e de 3,97% em 2025 -- em ambos os casos acima do centro da meta perseguida pelo BC, de 3%. Já a projeção para a Selic é de dois aumentos de 50 pontos-base, em novembro e em dezembro, com a taxa básica encerrando 2024 em 11,75% ao ano.

Com isso, os economistas que abastecem o Focus se alinharam à precificação na curva de juros brasileira, que também indica duas elevações de 50 pontos-base ainda este ano.

Perto do fechamento a curva brasileira precificava 74% de probabilidade de o BC subir a Selic em 50 pontos-base em novembro, contra 26% de chance de nova elevação de 25 pontos-base. Na sexta-feira os percentuais eram de 73% e 27%, respectivamente.

No fim da tarde os rendimentos dos Treasuries seguiam em alta firme. Às 16h31, o rendimento do Treasury de dois anos -- que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo -- tinha alta de 10 pontos-base, a 3,66%. Já o retorno do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 6 pontos-base, a 3,806%.

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