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América Latina pode ser alternativa a desabastecimento na Europa e China, diz BID

A América Latina pode ser a solução para os problemas de abastecimento causados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, afirmou presidente do BID - SHANNON VANRAES
A América Latina pode ser a solução para os problemas de abastecimento causados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, afirmou presidente do BID Imagem: SHANNON VANRAES

08/06/2022 07h37Atualizada em 08/06/2022 07h37

A América Latina pode ser a solução para os problemas de abastecimento e para realocar negócios de outras regiões. A declaração foi dada nesta terça-feira (7) pelo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mauricio Claver-Carone, durante a Cúpula das Américas.

Pelos recursos e oportunidades que oferece, "a América Latina e o Caribe podem ser uma solução para esses problemas de abastecimento, seja de manufatura na Ásia ou de alimentos e energia na Europa", declarou o executivo, que participa da reunião de Cúpula das Américas em Los Angeles, em alusão à guerra na Ucrânia, que produz grãos e combustíveis para o mundo,

"A questão é melhorar a infraestrutura", considerou Claver-Carone, destacando que os bancos centrais latinos "foram exemplares em se antecipar ao Federal Reserve" americano e tomar medidas para que "a inflação não os pegue de surpresa".

O executivo explicou que, "desde a guerra russa na Ucrânia, para todos os países da região, com exceção de Argentina, El Salvador e Bolívia, o risco-país diminuiu", enquanto o da China aumentou. "Isso nunca havia ocorrido na História", destacou.

'Nearshoring'

Tudo isso motiva os investidores a verem nessa região um atrativo para o "nearshoring", ou transferência de seus negócios de um país para outro, considerado mais próximo ou conveniente.

Segundo Claver-Carone, "todos os dias vemos exemplos de empresas que querem se mudar da Ásia para a América Latina e o Caribe", projetos que o BID também financia. "Sim, há discórdia política, populismo de esquerdas e direitas, mas existe um consenso do empresariado para transferir suas operações", manifestou.

Claver-Carone esclareceu que sua posição "não é anti-China, mas pró-América Latina e Caribe". Segundo cálculos do BID, o ganho potencial para a América Latina e o Caribe das oportunidades de nearshoring poderia representar um aumento de até US$ 78 bilhões em novas exportações de bens e serviços.

Um grupo bipartidário de senadores apresentou na terça-feira uma resolução pedindo mais apoio às iniciativas de reshoring e nearshoring, "para realocar as cadeias de suprimentos globais nos Estados Unidos e com nossos aliados regionais no hemisfério ocidental".

A resolução destaca "os riscos para a segurança nacional e prosperidade econômica dos Estados Unidos" se continuarem dependendo "de forma desproporcional das redes de abastecimento baseadas exclusiva ou principalmente na China".

Financiamento

Claver-Carone lembrou que, em 2021, o BID bateu recordes de financiamento na região, com US$ 23,5 bilhões entregues, dobrando a média habitual da entidade. Participam dessas operações tanto o BID quanto seu braço do setor privado, BID Invest.

O governo de Joe Biden anunciou que irá propor uma "reforma ambiciosa" no Banco Interamericano "para abordar melhor o desafio de desenvolvimento da região, uma vez que o setor privado tem um papel central".

"Um aumento da participação de capital dos Estados Unidos no BID Invest enviaria uma mensagem importante de apoio à região e aumentaria os investimentos de impacto em áreas que incluem nearshoring, digitalização, clima e energias renováveis", disse Claver-Carone.

Banco Mundial reduz previsão de crescimento

O Banco Mundial reduziu drasticamente suas previsões de crescimento global para este ano devido à guerra na Ucrânia e alertou para os riscos de um "período prolongado de baixo crescimento e alta inflação", especialmente para países de baixa renda.

A instituição com sede em Washington agora prevê um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) global de 2,9%, ante a previsão de 4,1% em janeiro.

"O resultado é um risco crescente de estagflação", acrescentou, referindo-se à combinação de inflação alta e estagnação econômica. Esta desaceleração ocorre após uma recuperação sustentada em 2021 (+5,7%) depois da profunda recessão causada pela pandemia de Covid-19.

Os economistas do Banco Mundial esperam que essa taxa de crescimento continue até 2023-2024, com a guerra na Ucrânia afetando a atividade, o investimento e o comércio no curto prazo. Isso se soma ao enfraquecimento da demanda e ao levantamento gradual das medidas de ajuda dos governos.

"Devido aos danos combinados da pandemia e da guerra, o nível de renda per capita nos países em desenvolvimento será quase 5% inferior este ano do que a tendência que havia sido projetada antes da Covid-19", aponta o comunicado.

(Com informações da AFP)