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Decisão do BC alimenta desconfiança do mercado e dólar passa R$ 4,15

21/01/2016 13h55


A decisão surpreendente do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa Selic inalterada, em 14,25% ao ano, provoca alta do dólar e uma disparada na inclinação da curva de juros: enquanto os contratos curtos caem, as taxas longas avançam, refletindo a crescente desconfiança do mercado com a capacidade e disposição do BC em usar a política monetária de forma apropriada.

As alterações nos juros começaram na terça-feira, quando o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, deu indicações de que os juros poderiam subir menos. A reviravolta da sinalização do BC, a manutenção do juro e o comunicado que acompanhou a decisão do Copom provocam uma mudança drástica nas expectativas, que agora passam a incluir estabilidade da Selic por mais tempo. Cresce no mercado a leitura de ingerência do governo na decisão do colegiado do BC, o que, para agentes financeiros, compromete as próximas decisões do Copom e toda a credibilidade do Banco Central.

Juros

Embora o mercado já tivesse feito uma correção expressiva de posições após a surpresa com declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, na terça-feira, a aposta majoritária ainda era de alta de 0,25 ponto percentual e de aumento de pelo menos 1 ponto percentual da Selic ao longo de 2016. Hoje, os investidores correm para ajustar posições e incluir a possibilidade de estabilidade da Selic por mais tempo. Assim, as taxas de juros de curto prazo têm forte queda nesta quinta-feira.

Às 13h40, o DI janeiro de 2017 - que captura as apostas para a Selic ao fim de 2016 - caía a 14,820% ao ano, ante 15,145% no ajuste anterior.

O DI janeiro de 2018 recuava a 16,120%, frente a 16,370% no último ajuste.

Na ponta longa, o DI janeiro de 2021 subia a 16,860%, contra 16,800% no ajuste da véspera. As taxas longas sobem mesmo com o clima mais ameno no exterior, o que indica que o mercado está fazendo hoje ajustes basicamente por causa das incertezas locais.

Câmbio

O dólar dispara ante o real, ficando a menos de 2% de seu pico histórico alcançado em setembro do ano passado. O mercado intensifica a demanda pela moeda após a decisão de juros do Banco Central, que reforçou leituras de ingerência política e aumentou dúvidas sobre a disposição do governo em conduzir a política macroeconômica de forma mais ortodoxa.

Na máxima, a cotação foi a R$ 4,1723, apenas 1,79% abaixo do recorde histórico de R$ 4,2484 alcançado em 24 de setembro de 2015. O real é a segunda moeda que mais perde valor contra o dólar nesta quinta-feira, atrás apenas do rublo russo, que desaba mais de 4%.

Depois da súbita reviravolta do BC nesta semana ao indicar menos propensão a subir os juros, contrariando toda a sinalização anterior, o mercado teve reforçadas as desconfianças quanto a influências da ala desenvolvimentista do governo sobre a política monetária.

Às 13h45, o dólar comercial subia 1,24%, para R$ 4,1536. O dólar para fevereiro tinha alta de 1,23%, para R$ 4,163, após máxima de R$ 4,1840.

Bolsa

O Ibovespa opera em alta nesta quinta-feira, em linha com as bolsas da Europa e Estados Unidos. O índice subia 0,65% às 13h45, para 37.892 pontos.

Os mercados iniciaram o dia em acomodação, após uma sequência de reações fortes. Mas no meio da manhã o tom positivo passou a prevalecer, reagindo à decisão do Banco Central Europeu de manter as taxas de juros da região, mas sobretudo às declarações do presidente do BCE, Mario Draghi. Ele afirmou que a dinâmica da inflação na zona do euro se enfraqueceu mais do que o previsto e que espera taxas de juros nos níveis atuais, ou mais baixos, por um longo período de tempo.

As commodities seguem em queda. O minério de ferro caiu 0,8% na China e o barril de petróleo tipo WTI perde 1% no mercado americano. A despeito disso, as ações de commodities na Bovespa aproveitam o dia mais calmo para uma recuperação técnica e sobem. Segundo operadores, há um leve alívio no mercado de ações após a decisão do Banco Central de manter a taxa Selic em 14,25% ao ano, já que aumento de juros sempre representa maior concorrência para a renda variável.