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Dólar tem 1ª queda em 7 sessões após BC amenizar intervenções

19/08/2016 17h16

A decisão do Banco Central de reduzir a intervenção no mercado de câmbio levou o dólar a registrar a primeira queda em sete pregões nesta sexta-feira. Com isso, o real manteve-se descolado de seus pares, mas desta vez para cima. Nas últimas sessões, a moeda brasileira performou pior que a média de outras divisas emergentes.

No fechamento, o dólar comercial caiu 0,95%, a R$ 3,2061, maior queda diária em duas semanas.

Na semana, contudo, a moeda americana subiu 0,66%. No mesmo período, caiu ante o peso mexicano, o rand sul-africano e a lira turca.

É a segunda semana consecutiva de alta do dólar no Brasil, o que não ocorria desde maio.

Esse desempenho mais fraco do real decorreu justamente da atuação mais intensa do BC. Mas, após ontem o desalinhamento atingir seu ápice, o BC voltou atrás e decidiu ofertar 10 mil contratos de swap cambial reverso em leilão nesta sexta-feira. Desde quinta-feira da semana passada, as ofertas estavam em 15 mil.

Analistas entendem que, ao modificar novamente o lote de swaps reversos ofertados, o BC indica que a atuação será discricionária - ou seja, não seguirá padrões estabelecidos previamente e ocorrerá de acordo com as condições de mercado. Além disso, tal ação reforça o discurso do próprio BC de que não tem como meta zerar o estoque de swaps cambiais tradicionais, hoje pouco abaixo de US$ 45 bilhões. Se mantivesse ofertas diárias de 15 mil contratos de swap reverso, a autarquia terminaria o estoque em meados de novembro. Agora, com 10 mil, deve encerrá-lo no fim de dezembro.

A questão que se coloca é que, para parte do mercado, idealmente o BC deveria chegar ao fim do ano com um estoque de swaps tradicionais bem menor, o que daria margem para a autoridade monetária voltar a utilizar esse instrumento como forma de suavizar qualquer pressão indesejada de alta do dólar vinda do exterior.

"Acho que o BC pode ter percebido também que o real ficou mais sensível à questão do juro nos Estados Unidos por causa de toda a alta [do real] neste ano", afirma o diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues. "Por isso, acho que o processo de redução do estoque de swap será ainda muito dependente dos desdobramentos da política monetária americana. Não será uma linha reta", acrescenta.

Esse raciocínio está alinhado com a postura cautelosa do BC com o atual bom momento para emergentes. Na semana passada, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse que não se deveria tomar a situação benigna atual para emergentes como "necessariamente permanente", já que existem riscos que podem afetar a disponibilidade de liquidez global. Diretores do BC reunidos com economistas do mercado financeiro foram na mesma linha, tom já presente na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, divulgada no fim de julho.

"Como não se sabe como estará o exterior no fim do ano e nem mesmo aqui, seria prudente o BC ter mais espaço para usar esses instrumentos à frente", diz o professor e coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da FGV/EESP, Emerson Marçal.

O pesquisador diz que, apesar das idas e vindas das atuações, o BC ainda parece mais inclinado a deixar o câmbio flutuar, mas, como já dito pela própria autoridade monetária, mantendo em aberto o uso com "parcimônia" de ferramentas, se necessário.

As atuações, porém, não devem mirar uma reversão da tendência de baixa do dólar. Um real mais forte, segundo Marçal, seria melhor para o BC, uma vez que ajudaria a acelerar a convergência da expectativa de inflação para 2017 ao centro da meta, o que daria mais conforto para o início do ciclo de afrouxamento monetário.

O pesquisador diz que, apesar da valorização de 23% do real ante o dólar neste ano, a moeda brasileira ainda está próxima do que poderia se chamar de equilíbrio.