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Marcelo Odebrecht diz que Lula sabia da existência da conta "Amigo"

14/04/2017 20h01

Em depoimento ao Ministério Público Federal, Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira, afirmou que Lula sabia da existência da conta "Amigo", que contabilizava R$ 35 milhões da empresa destinados para o "projeto político" do ex-presidente, como uma doação de R$ 4 milhões ao Instituto Lula em 2014.


A intermediação para o uso da conta era entre Marcelo e o ex-ministro Antonio Palocci, mas as negociações envolvendo diretamente o ex-presidente e Emílio Odebrecht, seu pai, não eram debitadas desse valor. "A gente pagava, entre aspas, duas vezes", diz Marcelo. "Palestras, viagens de aviões e reforma do sítio não foram abatidos dessa conta." O executivo afirma que não se envolveu e nem tinha muito conhecimento dessas negociações.


Segundo Marcelo, uma sinalização de que Lula sabia da conta surgiu em meados da eleição de 2010. "Na campanha de 2010, nós íamos aparecer doando relativamente pouco, porque desde 2008 eu vinha fazendo pagamentos a pedido de Palocci, que seriam abatidos do valor que eu doaria em 2010", diz Marcelo. "A preocupação era de que o Lula soubesse que eu não estava doando só o que aparecia, para depois ele não vir cobrar mais. Então eu pedia para meu pai: 'Avisa o presidente que a gente está doando para a campanha da Dilma, mas na verdade desde 2008, nós doamos já R$ 200 milhões, R$ 100 milhões que eu fechei com o Palocci, e aí estimei que R$ 100 milhões foram fechados pelos meus executivos pelos candidatos do PT."


"Uma maneira de saber que o Lula sabia é que o Palocci veio pra mim e disse (e não teria como saber disso se não tivesse escutado de Lula): 'Marcelo, seu pai falou pra Lula que vocês já acertaram R$ 300 milhões'. Eu falei 'Peraí, foi 200, no que incluiu 100'", diz. "Na prática, eu não sei se o Palocci estava jogando verde pra colher maduro, pra tentar arrancar mais 100, mas na prática esse assunto ficou assim. 'Pô, Marcelo, gerou desconforto, porque seu pai falou pro Lula que eram 300'. Depois de idas e vindas, ele deixou de mexer no assunto. Pra mim, isso foi uma referência de que Lula sabia do assunto."


Marcelo conta ainda que Paulo Okamoto e José Carlos Bumlai lhe procuraram para pedir R$ 10 milhões relativos a um terreno para o Instituto Lula. Acabaram saindo R$ 12 milhões de outra conta, "Italiano". "Mencionei que precisava da aprovação do Palocci e que tinha provisionado um valor com ele. Se ele concordasse em retirar do provisionamento, não teria problema."


No depoimento, Marcelo detalha como chegou ao valor de R$ 35 milhões. "Em meados de 2010, do valor que tinha negociado com Palocci, que seria meu apoio até 2010, tinha um saldo de cerca de R$ 40 milhões, além do saldo que era do Rio, de R$ 50 milhões", diz Marcelo. "Era o valor que mais ou menos tinha. Deixa uma coisa pra campanha, tinha valor aproximado de R$ 40 milhões. A ideia inicial, que eu tinha combinado com ele, era doar o mais cedo possível para eles administrarem."


Mas, segundo Marcelo, "eles sempre se mostraram complicados de oficializar o que recebiam". "Ele não queria aparecer que tinha recebido, e esse negócio de doação acabou não ocorrendo. Aí vinham uns pedidos picadinhos. E eu já tinha provisório esses R$ 35 milhões. Qualquer pedido que viesse, seria desses R$ 35 milhões."