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Saud opta pelo silêncio na CPMI: "quando falei a verdade, fui preso"

31/10/2017 11h48

(Atualizada às 14h00) O ex-diretor de Relações Institucionais do grupo J&F Ricardo Saud preferiu ficar calado durante a sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS. "Eu não queria frustrar Vossas Excelências, mas gostaria de lembrar que meu acordo, minha suspensão, está cautelar, e eu vou permanecer em silêncio dentro do meu direito constitucional", afirmou.


Diante da insistência de parlamentares da comissão, Saud disse que, na primeira vez que sentou para "falar a verdade", foi preso. Portanto, reforçou que permaneceria calado.


"As palavras do senhor [segundo as quais] quero ajudar o país, eu quero, mas a primeira vez que sentei para falar a verdade, eu fui preso. Já pensou se eu continuar falando? Vou ficar calado", disse Saud ao presidente da CPMI, o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), que questionou se ele não tinha interesse em continuar colaborando com o país.


Indagado pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS) sobre se ele se sente constrangido em plenário, Saud afirmou que está há 40 anos no Senado e se sente à vontade. "Aqui nesta casa, estou há 40 anos. Eu me sinto muito à vontade. Nada de constrangimento", disse o ex-executivo.


Saud está preso no complexo da Papuda, em Brasília. Ele foi detido com o empresário Joesley Batista em setembro, após um pedido do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot ser acatado pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).


O advogado de Saud pediu sua dispensa da sessão, mas a presidência da CPMI negou. "Ele tem o direito de não responder, mas nós temos o direito de indagá-lo mesmo assim", afirmou o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO).


O ex-executivo da J&F limitou-se a dizer que, tão logo as premissas do acordo sejam restabelecidas, ele será o "mais interessado" em falar. "Não me escondo atrás de ninguém. Quando minhas premissas forem restabelecidas, quero falar, e muito", repetiu.


O relator da CPMI, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), fez uma série de questionamentos a Saud sobre as omissões e irregularidades da JBS, mas a resposta do empresário foi sempre a mesma: "Permanecerei em silêncio".


Wesley Batista




O presidente da Comissão encerrou a reunião sem ter cumprido o principal objetivo da sessão, que era ouvir o ex-diretor do grupo J&F.


Ao fim da sessão, Marun disse que Saud mantém uma esperança "impossível" de que os benefícios de sua colaboração premiada sejam confirmados. Ele acrescentou que a antiga cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR) já "lavou as mãos" em relação a Saud.


Ataídes Oliveira (disse que o colegiado deve ouvir Wesley Batista, do grupo J&F, e o ex-procurador Marcelo Miller nos próximos dias 7 e 8, respectivamente. "O silêncio dele o condena. Não há dúvida disso", afirmou, acrescentando ter chegado à conclusão de que Marcelo Miller arquitetou o "projeto criminoso" envolvendo as delações premiadas dos irmãos Batista.