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Para analistas, cortes na Argentina têm pouco efeito econômico

29/01/2018 22h58

O presidente argentino, Mauricio Macri, anunciou nesta segunda-feira o congelamento de salários de ministros, secretários e subsecretários de seu governo e o corte de 20% de cargos hierárquicos do setor público. Apesar de ter dito que o objetivo das medidas é reduzir o déficit fiscal, a mensagem tem mais impacto político que econômico.


"A ideia é dar o exemplo à sociedade. O governo vem tomando medidas de austeridade, como cortes de subsídios e aumento das tarifas de serviços públicos, e isso nunca é bem recebido pela opinião pública", observa Julio Burman, da Universidade de Belgrano. "Macri quer mostrar aos cidadãos que o ajuste não recai apenas sobre os argentinos, mas também sobre funcionários públicos."


A tentativa de passar a imagem de um governo que busca o fim de privilégios, Macri proibiu parentes de ministros em cargos públicos, como é caso de Mariana Triaca, diretora do Banco de la Nación Argentina e irmã do ministro do Trabalho, Jorge Triaca.


Além do congelamento dos salários de ministros, secretários e subsecretários por um ano, haverá redução de 20% dos 3.500 cargos comissionados da administração pública. Com as medidas, o governo quer economizar US$ 77 milhões anuais e reduzir o déficit.


"Economizar o equivalente a 0,01% do PIB é nada perto de um déficit fiscal de 6,1%", afirma o economista Guillermo Schwartzer.


Thomaz Favaro, da consultoria Control Risks, lembra que entre 2001 e 2014 o número de vagas no setor público cresceu 70%. "Houve um inchaço da máquina pública durante o kircherismo", diz.


A antecessora de Macri, Cristina Kirchner, criticou o corte anunciado e disse que o presidente está cortando justamente o que aumentou desde que assumiu o poder, em janeiro de 2016.


O ano de 2016 foi o primeiro em oito anos em que não houve aumento nas vagas do setor público. Apesar da contração de 0,4%, houve aumento de cargos comissionados, como ministros, secretários e diretores, segundo pesquisa da Associação Argentina e Orçamento e do Centro de Implementação de Políticas Públicas para a Equidade e o Crescimento.


"Macri parece buscar se proteger da Argentina que vem adiante, com uma agenda de reformas nada fácil e de enorme custo político. Ele quer pode dizer: 'Todos nós fizemos um esforço. Meus funcionários também'", afirma Pablo Knopoff, do Instituto Isonomia, em Buenos Aires.


Ele compara o anúncio de hoje a um guarda-chuva para o governo se blindar de futuras críticas. "Quanto mais guarda-chuvas abrir, mais fácil pode ser governar."