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"Não demonizo o lucro", diz presidente da Febraban a senadores

24/04/2018 13h30

(Atualizada às 14h13) O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, afirmou nesta terça-feira (24) que, de fato, a inadimplência caiu no país nos últimos meses, mas ela é apenas um dos componentes do spread e, consequentemente, da taxa de juros cobrada dos consumidores. O spread é a diferença entre o custo do dinheiro para o banco (o quanto ele paga ao tomar empréstimo) e o quanto a instituição cobra para o consumidor na operação de crédito.

"Nosso problema não é só a taxa de inadimplência. É a taxa de recuperação dos créditos, que é muito baixa", disseem audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE)do Senado.

Portugal voltou a citar a baixa recuperação de crédito, de apenas 16% dos créditos com garantias, e o sistema tributário como fatores de custo. Segundo ele, há descasamento no pagamento de impostos sobre provisões e o uso dos benefícios tributários.

"Isso é um custo, é um financiamento ao Tesouro. Os bancos têm R$ 130 bilhões em créditos tributários por causa desse mecanismo", afirmou.

Questionado sobre o cadastro positivo, Portugal disse que o setor apoia a medida e que ela vai permitir que as informações dos bancos sobre crédito sejam dadas para outros participantes do mercado e que o bancos tenham acesso ao histórico de informações sobre crédito não bancário, como pagamentos de contas de luz e água.

O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) tinha estranhado o fato de Portugal ter agradecido ao Senado pela aprovação da medida do cadastro positivo. Em tom de brincadeira, o senador tinha questionado se o Senado não tinha "entregado as galinhas às raposas".

Respondendo às críticas feitas sobre o lucro dos bancos, Portugal disse que o lucro é uma manifestação de aceitação social. "Quanto alguém produz algo com valor, as pessoas consomem e isso se materializa no lucro. Não demonizo o lucro", disse.

Na sequência, Portugal voltou a mostrar que o retorno sobre o patrimônio dos bancos no Brasil está em linha com o de outros países.

Recuperação

O presidente da Febraban admitiu que o ritmo de recuperação da atividade decepcionou de certa maneiraneste primeiro trimestre, mas ele diz haver uma recuperação em curso.

"O que estamos discutindo é se a taxa de crescimento será o dobro do ano passado ou triplo", afirmou Portugal.

O executivo apresentou diversas hipóteses para essa decepção com o crescimento. Primeiro, a recuperação do mercado de trabalho tem se dado mais com emprego informal, que deixa o trabalhador menos propenso a tomar crédito.

Outra explicação recai sobre a incerteza política que poderia estar afetando o nível de investimento. "Estamos saindo de uma recessão mais profunda que tivemos há capacidade ociosa grande e isso já dificultaria aumentos de capacidade", disse.

Portugal lembrou a questão do mercado de crédito, que tem apresentado recuperação lenta. "O estoque não está mudando, mas na margem tem alguma recuperação", disse.

Sobre o crédito direcionado, o executivo afirmou que essa modalidade vem caindo e realmente deveria cair. "Mudamos a maneira de encarar o BNDES e essa é uma medida positiva no longo prazo."

Juros

Segundo Portugal, a discussão sobre se juros caíram menos do que deveriam sempre ocorre de tempos em tempos. "O BC, no Relatório de Inflação, tem estudo mostrando que atualmente a queda da Selic tem se refletido nos juros no mesmo padrão dos últimos 15 anos", disse ele.

Sem citar o economista chefe do UBS, Tony Volpon - que teve estudo sobre spread bancário mencionado por senadores -, Portugal disse ficar "esperançoso com economistas apresentando modelos diferentes, mas o banco dele não atua no mercado de crédito".

Volpon divulgou um estudo mostrando que os spreads bancários estão de 15 pontos a 20 pontos de onde deveriam estar considerando o comportamento da Selic e da inadimplência.

"Quem sabe esses modelos serão validados pela área de crédito e esse banco vai começar a atender empresas no crédito", questionou Portugal.

O dirigente da Febraban disse, ainda, estranhar o fato de os grandes bancos internacionais concentrarem capacidade fora do segmento de varejo bancário. "Por que não atuam nessa área se a margem é tão boa?", questionou.

O que vimos, segundo Portugal, foi a saída de bancos estrangeiros, como HSBC e Citi do varejo. "É um paradoxo. Bancos que poderiam se expandir, saem do mercado."