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Ato em defesa de Lula em SP reafirma sua candidatura à Presidência

25/04/2018 22h05

Políticos, artistas, intelectuais e integrantes de movimentos populares fizeram na noite desta quarta-feira um ato suprapartidário em São Paulo contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Centenas de pessoas lotaram o Teatro Oficina para defender a liberdade de Lula, a união das esquerdas em defesa da democracia e para criticar a decisão da Justiça de manter o ex-presidente sem o contato com outros presos, além de proibir a visita de amigos e religiosos.

O debate aberto sobre o substituto do ex-presidente na eleição presidencial, no entanto, foi interditado. O professor e ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira disse não acreditar que Lula será candidato e afirmou que o PT precisa ser realista e articular uma nova candidatura, mas sua fala foi recebida com resistência pela militância.

"A prisão de Lula é uma injustiça e ninguém está feliz com isso", disse Bresser-Pereira a uma plateia com centenas de apoiadores do ex-presidente. "Ele é elemento central na eleição, mas não creio que será candidato. Temos que ser realistas. Há o momento em que tem que se pensar nisso seriamente", afirmou. Em seguida, disse que é preciso saber quem Lula vai apoiar e foi interrompido por gritos de "Brasil, urgente, Lula presidente". O ex-ministro tentou retomar o assunto, mas a resistência continuou. "Viva a democracia, viva a utopia. Mas digo que ninguém conseguirá governar se não tiver projeto. É preciso se dar conta disso. Não podemos esperar eternamente e temos responsabilidade pela frente."

Na segunda-feira, Bresser-Pereira participou de um encontro com o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad - cotado como plano B do PT - no escritório do ex-ministro Delfim Netto, para discutir uma aproximação dos candidatos de centro-esquerda e a eventual construção de um plano comum de governo.

Ao anunciar que Bresser-Pereira falaria aos apoiadores de Lula, o vereador Eduardo Suplicy, mestre de cerimônia do evento, pediu para que o ex-ministro falasse justamente sobre esse encontro de segunda-feira. Os participantes do encontro, no entanto, repetiram o apoio à candidatura de Lula.

Pré-candidato ao Senado em São Paulo, o ex-deputado Jilmar Tatto pediu "desculpas" a Bresser-Pereira e disse que votará no Lula. A plateia aplaudiu.

O tom dos discursos no evento, no entanto, foi outro, contra a prisão de Lula.

O ex-ministro Celso Amorim defendeu a "ideia da união das forças progressistas" pela democracia e liberdade do ex-presidente.

Amorim disse que em dois momentos de sua vida teve vergonha do Brasil. A primeira vez, disse, foi durante a ditadura militar, quando estava em Londres e viu a notícia da morte de um estudante torturado. A segunda foi quando a juíza Carolina Lebbos, da 12ª Vara de Execuções Penais de Curitiba, proibiu a visita do prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel e do escritor Leonardo Boff a Lula, entre outros que foram vetados pela magistrada. "Isso é contra as regras da ONU", disse, criticando em seguida o fato de o ex-presidente estar isolado. "A solitária só é em casos muito graves", afirmou. "É uma vergonha."

Amigo antigo de Lula, o escritor Frei Betto afirmou que o ex-presidente é um preso político e a proibição de visitas é contra a lei. "A lei permite que parentes, amigos e integrantes da mesma opção religiosa tenham acesso a ele", afirmou. "Fiquei preso por quatro anos. Dois anos como preso político e dois anos como preso comum e nunca sofri isso."

Frei Betto demonstrou preocupação com o fato de Lula estar isolado, em uma "cela solitária". "Quem passou pela solitária sabe como é difícil. A pior inimiga é a imaginação", afirmou. O escritor pediu para que as pessoas mandem cartas para Lula e que, para isso, devem enviar as correspondências para o instituto do ex-presidente, em São Paulo. Betto pediu ainda que haja mais atos em defesa do ex-presidente.

A monja Cohen disse que é preciso resistir e a ideia que Lula representa está "viva e solta".

Diretor-presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto relatou que tem acordado "três, quatro vezes" durante a noite pensando na prisão do ex-presidente. "O que posso assegurar é que Lula está preso injustamente", disse. "É a mais grosseira farsa que estamos vivendo neste país", defendendo também a realização de novos atos em defesa do ex-presidente.

O presidenciável do Psol e líder do MTST, Guilherme Boulos, afirmou que o país vive a "mais grave crise na frágil democracia desde o fim da ditadura" e que Lula foi preso para impedir que dispute a Presidência. "A questão da liberdade de Lula não é só do PT, deve ser de todos que defendem a democracia. Não podemos naturalizar as injustiças porque isso é o fim da democracia, da injustiça", disse Boulos. "Nossas diferenças não vão nos impedir de estarmos juntos na batalha democrática."

Os pré-candidatos ao governo paulista Luiz Marinho (PT) e Lisete Arelano (Psol) dividiram o palco e pregaram a união em defesa de Lula e da democracia. "Estamos na mesma trincheira democrática", disse Marinho.