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Com ajuda de Fed, dólar cai pelo 3º dia em meio à ação do BC

23/05/2018 18h11

O dólar cravou a terceira queda consecutiva frente ao real nesta quarta-feira, o que não acontecia desde meados de abril. No fechamento, a moeda americana caiu 0,56%, a R$ 3,6248. Na mínima, chegou a R$ 3,6181, bem distante dos patamares de quase R$ 3,80 alcançados na semana passada.

A dinâmica de preço do câmbio denota que o endurecimento de tom do Banco Central, algo cobrado pelo mercado nos últimos dias, tem surtido efeito. Em entrevista ontem ao Valor PRO, Ilan Goldfajn, presidente do BC, disse não ter "preconceito" contra a venda de swaps cambiais e reiterou que a queda do estoque desses contratos desde que assumiu o cargo dá à autoridade monetária poder de fogo.

Real interrompe queda após ação do BC

Evolução da divisa brasileira ante cesta de 11 divisas emergentes

Fonte: Valor PRO

Em maio, o BC já colocou no mercado US$ 3,5 bilhões em dinheiro "novo", na forma de venda líquida de swaps cambiais. A expectativa é que mais US$ 3 bilhões sejam injetados até o término do mês. Os US$ 6,5 bilhões que entrarão no mercado representarão a maior venda líquida de dólar via swap desde maio do ano passado, quando a colocação chegou a US$ 10 bilhões.

Hoje, a queda do dólar no Brasil voltou a refletir a combinação de mais oferta de moeda pelo BC e um dia mais ameno para divisas emergentes como um todo.

O dia começou com algumas preocupações com países específicos, com a lira turca em amplo "sell-off", o que levou alguns agentes a retomar o tema de contágio de risco entre emergentes.

Mas ao longo do pregão tanto o real quanto outras moedas se mantiveram alheias à questão turca. De toda forma, a atuação do BC da Turquia, que elevou os juros em 300 pontos-base, ajudou a acalmar os ânimos de forma geral.

E, consolidando o dia positivo para moedas, o Federal Reserve (Fed, BC americano) trouxe, na ata de sua última reunião de política monetária, elementos considerados "dovish" pelo mercado. Era o argumento que faltava para investidores intensificarem as vendas de dólares em todo o mundo.

A Icatu Vanguarda destaca o comentário do Fed de que as taxas neutras de juros nos EUA podem estar atualmente mais baixas do que as estimativas para o longo prazo. Além disso, também é vista como "dovish" a referência sobre o objetivo "simétrico" para a inflação no longo prazo, o que sugere que o Fed toleraria alta da inflação acima da meta.

No fim da tarde, enquanto o real ganhava 0,56%, a lira turca saltava 2,6%, o rand sul-africano se apreciava 0,9%, o peso mexicano subia também 0,9%, e o peso chileno somava 0,2%.

"Não acredito que seja o caso de falar em contágio entre emergentes", diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, em referência a crescentes preocupações sobre uma crise mais ampla em emergentes. Ele acrescenta que não há razões fundamentais para a continuidade da escalada do dólar vista no Brasil.

Ainda assim, Rosa não espera que o dólar volte aos patamares em torno de R$ 3,20 praticados meses atrás. "Agora devemos voltar para um patamar mais razoável aos níveis de risco, que aumentaram desde então. Por isso acredito que um patamar entre R$ 3,50 e R$ 3,60 faça mais sentido."

Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da consultoria Capital Economics, também vê a moeda oscilando nessa banda, mais especificamente em R$ 3,58 ao fim do ano. Mas chama atenção para os riscos não só relacionados à política monetária americana ou ao cenário eleitoral doméstico. E destaca que as perspectivas de longo prazo para a China - grande importador de commodities - têm ficado menos animadoras.