Dólar e juro futuro sobem com preocupação com quadro fiscal e político
O dólar e os juros futuros registram firme alta no começo da sessão desta quinta-feira, enquanto a crise dos combustíveis eleva preocupações sobre a situação política e fiscal.
Num sinal de que os fatores específicos pesam no mercado brasileiro, o real tem desempenho mais fraco que a maioria dos emergentes. Numa lista de 33 divisas globais, a moeda local só está melhor que a lira turca, que enfrenta turbulência política por causa da política de juros.
Às 9h52, o dólar comercial subia 0,35%, a R$ 3,6376, com máxima em R$ 3,6548. O contrato futuro para junho, por sua vez, avançava 0,36%, a R$ 3,6425. A alta é mais acentuada que a observada ante o peso mexicano (+0,34%) e o rublo russo (+0,37%).
O ambiente mais adverso do mercado também se reflete nos juros futuros de longo prazo, mais suscetíveis a riscos estruturais. O DI janeiro/2023 voltava a bater os dois dígitos e subia 10,080% (9,990% no ajuste anterior). Já o DI janeiro/2025 avançava a 10,650% (10,530% no ajuste anterior).
No ambiente doméstico brasileiro, a principal novidade do dia é a decisão da Petrobras em cortar o preço do diesel em 10% por 15 dias, em meio à crise dos combustíveis. A Câmara dos Deputados aprovou a reoneração da folha, mas isentou o diesel do PIS/Cofins. Com isso, fica também a preocupação com quadro fiscal.
Para o estrategista-chefe da Coinvalores, Paulo Nepomuceno, o governo atual perdeu credibilidade e a agora a "arrumação da casa" fica a cargo da próxima administração. E com os partidos mais populistas e de esquerda na frente das pesquisas de intenção de votos, o quadro se torna ainda mais desafiador.
"O que afeta o mercado é a fragilidade do governo (...) negociar com os caminhoneiros abre portas para pressão de outras categorias", diz o especialista. Além disso, a redução do preço do óleo diesel acaba afetando a situação fiscal, pois fica a leitura de que será necessário aumentar outros impostos. "Ficou tudo razoavelmente abalado", acrescenta.
E o ambiente externo também não contribui para os ativos. "É a somatória de tudo: situação fiscal cada vez mais deteriorado, crise dos combustíveis e externo ainda bastante tenso com Itália e Turquia agora no radar", diz o operador Luis Laudísio, da Renanscença.
O mercado de taxas futuras também acompanha hoje o leilão tradicional de LTN e NTN-F. De acordo com operadores, até existe demanda por papeis de longo prazo, mas eles teriam de vir em níveis de taxas maiores. Até por isso, o Tesouro pode optar por lotes menores. Ouve-se inclusive de alguns profissionais que a instabilidade no mercado poderia pressionar o Tesouro a intervir no mercado com operações adicionais de compra e venda de títulos, embora o movimento ainda não seja explosivo nesta manhã.
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