Dólar tem em maio maior alta desde 2015 apesar de atuações do BC
O Banco Central despejou US$ 6,5 bilhões no mercado de câmbio ao longo de maio, sinalizou disposição para ofertar mais recursos, disse não ter "preconceito" contra o uso de swaps cambiais e, de forma surpreendente, manteve a Selic estável, estancando a queda do diferencial de juros entre o Brasil e o mundo. Mas, ainda assim, apenas conseguiu impedir uma deterioração ainda mais forte no mercado de câmbio.
O dólar subiu 6,65% em maio, alta mais forte desde setembro de 2015 (9,34%). Isso representa elevação de mais de 23 centavos apenas em um mês. A moeda havia terminado abril em R$ 3,5026. Nesta quarta-feira, encerrou a sessão a R$ 3,7373, praticamente estável ante ontem.
Para meses de maio, a valorização é a mais forte desde 2013, quando o mundo vivia os efeitos do Taper Tantrum após o Federal Reserve (Fed, BC americano) sinalizar redução de estímulos monetários.
Alta do dólar em todo o mundo, aumento das preocupações com emergentes e queda do diferencial de juros foram alguns dos argumentos mais citados durante o mês para justificar o comportamento do câmbio. Porém, nas últimas semanas o mercado precisou atualizar as justificativas, cedendo mais espaço aos "drivers" internos.
No meio do caminho, a sensação de um BC hesitante ao atuar no câmbio, o fluxo zerado ao longo do mês, a paralisação dos caminhoneiros (que já deteriora as expectativas para o PIB) e o enfraquecimento flagrante do governo e de sua articulação com o Congresso acabaram aumentando a pressão sobre o dólar, que por pouco não alcançou a marca de R$ 3,80.
Tudo isso regado a cada vez mais incerteza política, já que as pesquisas eleitorais voltaram a indicar ausência de vigor dos candidatos pró-reformas econômicas e, junto a isso, ganho de terreno por parte de candidaturas consideradas mais extremas.
"As incertezas persistem - principalmente no campo político -, o que deverá impedir melhora substancial dos patamares atuais", diz o profissional de um banco. "A menos que surja perspectiva de um candidato reformista passar para o segundo turno, creio que o nervosismo permanecerá presente e limitará o espaço para recuperação dos preços", acrescenta, ampliando a análise para o mercado como um todo.
Evidência disso, o real foi uma das poucas moedas que não conseguiu se valorizar de forma consistente frente ao dólar. Pares como rand sul-africano, lira turca e peso mexicano avançaram entre 0,7% e 2%, por exemplo.
Mais cedo, o Banco Central voltou a colocar US$ 750 milhões em dinheiro "novo" no mercado cambial, com a venda de 15 mil contratos de swap. Mas os investidores como um todo continuam com uma dose de ceticismo. E isso foi percebido hoje especialmente no mercado de juros, em que taxas de longo prazo chegaram a subir mais de 30 pontos-base apenas hoje, antes de experimentarem algum alívio.
"O mercado entrou numa dinâmica ruim, com posicionamento técnico ruim. E a sensação é que não há onde se proteger a não ser no dólar ou nos juros", diz o profissional de uma corretora.
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