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Ibovespa fecha em queda em meio a cautela doméstica e externa

21/06/2018 18h06

O alívio de curto prazo que deu trégua à bolsa brasileira por dois dias seguido passou. O Ibovespa voltou a refletir as preocupações dos investidores com a trajetória dos juros no Brasil, diante da escalada inflacionária após a greve dos caminhoneiros.

O ambiente no exterior hoje também não contribuiu com a bolsa, já que o investidor voltou a evitar o risco, o que afeta sobretudo ativos emergentes. As bolsas desses países todas operaram hoje no vermelho, e o real só conseguiu se valorizar contra o dólar por causa das ofertas de swaps cambiais pelo Banco Central (BC). O mercado de juros simetricamente operou em alta hoje.

A combinação de um ambiente doméstico e externo ruim fez o Ibovespa se aproximar dos 69 mil pontos, ao cair quase 3% na mínima do dia (70.019 pontos). No fechamento, o índice caiu 2,84%, aos 70.075 pontos. Do pico ao piso do dia, a bolsa perdeu mais de dois mil pontos.

Os impactos da greve dos caminhoneiros sobre a economia começam a ficar mais claros agora. A inflação medida pelo IPCA-15, divulgado hoje, subiu a 1,11% em junho, acima da média das expectativas do mercado. O avanço foi, inclusive, superior ao teto das estimativas, que estava em 1,07%.

Isso sinaliza um cenário ruim para a renda variável. São precisamente os efeitos da greve que preocupam os investidores, depois que o próprio Banco Central (BC) deixou claro que está acompanhando essa variável para definir a sua política de juros no futuro ? ontem, a autoridade manteve a Selic estável em 6,5% ao ano. E hoje, diversas casas grandes, incluindo o UBS, já revisaram suas projeções para a inflação medida pelo IPCA.

A ameaça de que o juro básico possa subir ainda em 2018 é o bastante para que o investidor reduza ainda mais exposição à bolsa. A elevação dos juros faz com que as ações fiquem mais baratas porque crescem os custos projetados para as empresas. Elas precisam, portanto, operar "descontadas".

"A nossa economia já vem patinando e agora fica claro que os efeitos da greve não podem ser ignorados", diz Ari Santos, gerente da mesa de operações da H. Commcor. "O que garantiu nosso alento nos últimos dois dias foi o exterior, e isso não tivemos hoje. A guerra comercial entre China e Estados Unidos ainda preocupa e a cautela voltou a forçar ajustes nas posições."

O "modo cautela" fez com que os agentes deixassem as ações dos bancos e da Petrobras hoje. A ON da estatal caiu 5,01%, enquanto a PN cedeu 6,85%. A piora no momento final do pregão no caso da Petrobras ocorreu também porque há um risco grande de que a companhia saia perdedora no julgamento do Tribunal Superior do Trabalho (TST) de uma ação bilionária contra a empresa, em que trabalhadores exigem um novo cálculo de complementos de salários. São R$ 17 bilhões a serem desembolsados a 51 mil empregados. O placar no TST pende contra a empresa nesta tarde.

No setor bancário, fecharam com queda hoje o Banco do Brasil (-3,67%), Bradesco ON (-3,10%), Bradesco PN (-4,15%) e Itaú Unibanco (-3,39%). A Vale ON, por ser também mais líquida, sofreu com a mesma dinâmica, e fechou em baixa de 3,28%.

Ari Santos ainda vê mais testes de força para a bolsa à frente. Na semana que vem, o mercado vai acompanhar de perto a análise do Supremo Tribunal Federal (STF) de um pedido do ex-presidente Lula para que sua prisão seja suspensa.

Os receios dos investidores cresceram muito depois que, nesta semana, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) foi absolvida pela segunda turma da Corte das acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Com a apreciação do caso de Gleisi, fica livre a pauta do STF para analisar o pedido de Lula, na próxima terça (26). Não é possível inferir que os ministros votariam a favor de Lula mas, na dúvida, o investidor não leva o risco para casa.