Faturando na renda fixa

É possível investir em empresas e bancos na renda fixa e ganhar bons rendimentos

Márcio Anaya Colaboração para o UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto/hocus-focus

A pandemia do novo coronavírus deixou marcas profundas na economia e chacoalhou o mercado financeiro, incluindo a renda fixa, segmento no qual alguns produtos ainda desfrutavam da percepção de baixa volatilidade. Sobretudo em março, a onda de saques fez com que fundos de crédito privado, por exemplo, tivessem que vender ativos rapidamente, amargando perdas expressivas.

A boa notícia é que, na visão de especialistas, o susto ficou para trás e ainda por cima deixou oportunidades interessantes de investimento para quem está disposto a correr riscos maiores em busca de retornos mais elevados. São investimentos em títulos de empresas e bancos, como debêntures e CDBs.

Nossa visão é de que o mercado de crédito, nos níveis atuais, continua sendo um investimento bastante atrativo para que o investidor diversifique sua carteira, a despeito da queda da Selic (taxa básica de juros do país).
Pierre Jadoul, gestor de crédito da ARX Investimentos

Na opinião de Jadoul, o "spread de crédito", que é a taxa paga por uma companhia acima da remuneração oferecida por um título público, ainda está elevado quando se compara com o risco embutido nos papéis de grandes grupos, os chamados "high grade", considerados de alta qualidade. Para ele, quem tiver o perfil de investimentos desse tipo deve aproveitar, pois o cenário tende a mudar com o passar do tempo.

No médio e longo prazo, não devemos ver empresas de baixíssimo risco de crédito emitindo títulos a CDI (Certificado de Depósito Interbancário) mais 2% a 3% ao ano. Em um horizonte mais curto, acreditamos que ainda vai haver.
Pierre Jadoul, da ARX Investimentos

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Cardápio inclui CDB, LCI e LCA, debêntures e fundos

O universo do crédito privado é bastante amplo, incluindo papéis de instituições financeiras ou de empresas, com os mais variados portes e perfis de atuação. O foco de atenção nesse segmento é a saúde financeira e a consequente capacidade de pagamento do emissor desses papéis.

Opção 1: investimento direto

As alternativas de investimento incluem a compra direta de:

A maioria desses papéis tem cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), para valores até R$ 250 mil por CPF e instituição, o que representa uma segurança a mais para o aplicador. A exceção são as debêntures, que não são garantidas.

Opção 2: investimento via fundo

Existe ainda a possibilidade de investir nesses e em outros papéis via fundos:

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Risco é empresa não pagar

Segundo Luiz Nazareth, diretor de investimentos da Azimut Brasil Wealth Management, o crédito privado tem uma volatilidade muito menor do que o mercado de ações, por exemplo.

Porém, existe o que se chama de "risco silencioso", que precisa ser acompanhado trimestre a trimestre, com a divulgação de informações financeiras da companhia emissora.

"Em alguns momentos, portanto, o risco se torna binário, que basicamente é a capacidade de pagamento ou não desse crédito pelo emissor da dívida."

Segundo ele, a queda dos juros não pode ser uma desculpa para o investidor ser menos cuidadoso.

A Selic tendo recuado a 2% ao ano não significa que tenhamos que tolerar mais risco de crédito. Com todo esse processo de pandemia, entendemos que ainda existem ativos com ótima qualidade de pagamento oferecendo taxas que fazem sentido.

Luiz Nazareth, diretor de investimentos da Azimut Brasil Wealth Management

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Especialistas recomendam investir por meio de fundos

Em meio a tantas opções, consultores financeiros dizem que o caminho mais simples para investir em crédito privado é via fundos de investimento. Eles observam que a compra direta desses papéis tem menos custo, pois não existe a taxa de administração.

Por outro lado, o investidor pode ficar concentrado em um risco maior. Isso porque dificilmente conseguirá adquirir um número elevado de títulos diferentes, enquanto um fundo de crédito privado pode ter papéis de mais de 100 emissores distintos, por exemplo.

Uma carteira pulverizada reduz substancialmente o risco e traz a chance de sair do óbvio, ou seja, de investir em boas companhias que não são conhecidas do grande público.

Ulisses Nehmi, diretor-presidente e sócio da gestora de fundos Sparta

Fundo de debêntures incentivadas não paga IR, mas tem prazo maior

Entre as opções de fundos, existem também os que investem somente em debêntures incentivadas, nas quais há a isenção de Imposto de Renda (IR) para a pessoa física —o que também vale para a compra direta desse papel.

Ulisses Nehmi afirma que o benefício fiscal é uma vantagem a ser considerada, mas que, além disso, os produtos atendem a perfis diferentes de investidor.

Enquanto um fundo de crédito privado normal costuma ter prazo mais curto, que varia de dois a três anos, em média, nos portfólios de debêntures incentivadas, esse intervalo em geral supera cinco anos.

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Como saber se a remuneração é boa

Para entender o atual momento das taxas pagas por papéis privados, é preciso olhar o histórico antes da pandemia. As LCIs e LCAs, emissões primárias típicas, com horizonte de dois anos, eram negociadas em 2019 com remuneração ao redor de 96% do CDI, diz Nazareth. Ele afirma que, neste ano, o volume de ofertas é menor e existem operações no patamar de 100% a 102% do CDI.

"Mas quando se compara o nível atual de juros, mais baixo que no ano passado, não há muita diferença em termos líquidos. Trata-se de uma nova realidade."

Nos CDBs, bancos pequenos e médios pagavam em 2019 uma taxa da ordem de 115% e 120% do CDI e, atualmente, o que se vê é algo em torno de 125% a 135% do CDI.

No caso das debêntures remuneradas pelo DI, o índice da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostrou perdas expressivas entre março e abril, mas já se vê uma reação desde junho. Neste ano, até julho, o indicador acumula queda de 0,45%.

No mercado secundário de debêntures incentivadas, Nazareth diz que papéis de grandes companhias, com vencimentos de dois a quatro anos, têm apresentado remuneração de IPCA mais 1,7% até IPCA mais 2,2% ao ano. Quando o cliente tem um horizonte de investimento um pouco mais longo, de cinco a dez anos, o patamar sobe para IPCA mais 2,7% até IPCA mais 4,5% ao ano.

Nehmi diz que, historicamente, um fundo de crédito normal oferecia rendimento mais próximo de CDI mais 1% ao ano. "Hoje, as taxas médias das carteiras estão na casa de CDI mais 2% a 2,5% ao ano", diz ele, ponderando que os valores podem variar, para baixo ou para cima, de acordo com o prazo da aplicação.

De acordo com o especialista, essa realidade não muda muito quando se olha os fundos de debêntures incentivadas, mas é preciso lembrar que tais carteiras contam com isenção de IR.

FIDCs são indicados para o investidor arrojado

Outra modalidade no universo do crédito privado são os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), que podem ter na carteira desde o papel de uma única companhia até um volume considerável de recebíveis de empresas pequenas, por exemplo.

Trata-se de uma classe de ativo com risco maior, indicado para investidores com perfil mais arrojado. É um produto no qual a seletividade é ainda mais importante. Demanda um trabalho de acompanhamento mais elaborado e frequente.
Luiz Nazareth

Além da complexidade natural, ele recomenda cautela em função da conjuntura. "Recentemente, não aumentamos posições de clientes em FIDCs, pois precisamos ter uma visibilidade maior de como algumas empresas menores vão estar daqui para frente, considerando o ambiente de pandemia."

Pelas características, são produtos atualmente restritos aos chamados "investidores qualificados", que têm de comprovar a condição de mais de R$ 1 milhão aplicados no mercado financeiro.

Uma alternativa é o investidor optar por um fundo de crédito normal que compre cotas de um FIDC.

5 pontos a considerar antes de decidir

  • 1

    Refletir sobre seu perfil de investidor e o objetivo da aplicação

  • 2

    Contar com profissionais com grande capacidade de análise

  • 3

    Buscar sempre diversificar o portfólio de investimentos

  • 4

    Não escolher ativos apenas pelo histórico de rendimento ou a taxa esperada

  • 5

    Saber que, quanto maior o retorno desejado, maior o nível de risco

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