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Fundo como o do São Paulo antecipa recursos e cobra juros; conheça o FIDC

Vinícius Pereira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/09/2019 04h00Atualizada em 30/09/2019 16h01

Um tipo de investimento pouco conhecido pelos brasileiros virou assunto no mundo do futebol: o São Paulo anunciou que iria lançar um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) para antecipar receitas. Afinal, o que é um FIDC? Para que serve? Qual sua vantagem? O UOL ouviu especialistas para tirar essas dúvidas.

Atualmente, o investimento ainda é restrito a investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão), mas há a possibilidade de ser aberto a mais pessoas. Confira abaixo.

O que é o FIDC?

O FIDC é um fundo de renda fixa que antecipa recursos para empresas e, em troca, cobra juros.

Por exemplo, uma empresa que vende um produto a prazo tem diversas parcelas a receber dos consumidores. Se ela precisar desse dinheiro antes, pode vender o montante que tem a receber (chamado de recebível ou direito creditório) para um FIDC.

"Se, de repente, a empresa precisar de capital de giro, ela recorre a um banco ou a um FIDC para fazer a antecipação desse recebível e, mediante uma taxa de juros, recebe hoje aquilo que estaria previsto para 60 dias", disse Luis Eduardo da Costa Carvalho, diretor da ANFIDC (Associação Nacional dos Participantes em Fundos de Investimento em Direitos Creditórios Multicedentes e Multissacados).

Qual a vantagem para a empresa?

Ela consegue antecipar receitas para financiar novos projetos ou pagar dívidas, por exemplo, com juros menores do que os bancos normalmente cobrariam.

"O papel importante desse produto é preencher uma lacuna do mercado bancário. Os FIDCs vieram criar um mercado alternativo para pequenas e médias empresas que passaram a ter muita dificuldade em obter crédito nas instituições, dada a concentração bancária do país", disse Carvalho.

Produto ainda é restrito...

FIDC é um produto de renda fixa que rende, geralmente, um percentual do CDI. Porém, só está disponível a investidores qualificados, ou seja, com ao menos R$ 1 milhão investido, por causa dos riscos que o produto oferece. Afinal, se a empresa levar calote, o FIDC é que vai acabar no prejuízo.

"O investidor pessoa física tem um custo alto para entender se esses recebíveis são bons ou não. Ele, por si só, geralmente não consegue entender, infelizmente", afirmou Johnny Silva Mendes, professor da Faap e especialista em finanças. Normalmente, a avaliação dos recebíveis é feita por consultorias especializadas, que cobram caro —o que torna o serviço inacessível a pequenos investidores.

...mas isso pode mudar

Há uma pressão para que os FIDCs sejam oferecidos a investidores menores também. "Está no forno uma possível mudança de legislação da CVM [Comissão de Valores Mobiliários] que deixaria um investidor não qualificado aplicar nesse tipo de produto", disse Carvalho, diretor da ANFIDC.

Se houver essa mudança, a responsabilidade da avaliação dos riscos ficaria com as corretoras que oferecerão o fundo aos pequenos investidores, na opinião de Carvalho.

Paga mais, mas tem mais risco

Apesar de ser de renda fixa, todo FIDC tem riscos. Por isso, a remuneração acaba sendo maior do que a de outros produtos mais comuns, como o CDB, e normalmente chegam a 140% do CDI.

Os FIDCs contam com ratings (avaliações de riscos) feitos por grandes empresas, como a S&P. A relação entre risco e retorno, que comanda o mundo dos investimentos, também dá as caras por aqui. Quanto pior o rating, mais retorno ele precisa oferecer ao investidor.

Um fundo desse tipo pode ser aberto, no qual os investidores podem solicitar o resgate quando quiserem, ou fechado, no qual as cotas são resgatadas apenas ao fim do prazo.

O rendimento do FIDC tem tributação regressiva de Imposto de Renda, que vai de 22,5% a 15%, a depender do prazo de resgate para fundos fechados. Os abertos replicam a tributação, mas tem um acréscimo de 15% semestralmente.

Futebol será chamariz?

O uso de FIDCs por clubes de futebol pode trazer ao mercado novos investidores, de acordo com especialistas, mas isso ainda depende da alteração na legislação para pequenos investidores. O aporte inicial do São Paulo, por exemplo, é de R$ 200 mil por investidor.

Além da captação do dinheiro rapidamente no mercado, como o São Paulo fez ao tentar antecipar cotas da TV Globo previstas inicialmente em 2020, o clube tenta remunerar o investidor de maneira mais tímida, apostando na paixão pelo clube.

"Isso é usar a marca e o apelo comercial para que alguns investidores possam ajudar, de certa forma, o clube de coração. Conseguindo o uso da marca, o apelo do time, o clube que faz isso, como o São Paulo, consegue captar dinheiro a um custo ainda mais baixo", disse Carvalho.

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