Sem regulamentação, Pix parcelado exige cuidado por risco de endividamento
O Banco Central está desenvolvendo uma nova modalidade de parcelamento via Pix, chamada de Pix Garantido, que permitirá aos consumidores dividir o valor de compras em prestações mensais diretamente pelo aplicativo do banco.
O Pix Garantido funciona de forma semelhante ao crediário, oferecendo uma alternativa para pagar compras de bens e serviços em prestações mensais. No entanto, quem proporciona o parcelamento é o banco do qual o consumidor é cliente e não a loja, com seus cartões próprios e carnês.
Como a ferramenta ainda está em estágio inicial de construção no BC, não se sabe a data de lançamento nem detalhes sobre a taxa máxima de juros permitida, por exemplo. Alguns bancos se adiantaram e estão oferecendo a modalidade, com regras próprias de parcelamento e taxas, o que demanda cuidado extra dos clientes para administrar todos os parcelamentos contratados e evitar o superendividamento.
Como está funcionando neste momento
Ainda sem a regulamentação do BC, o Pix Garantido funciona, na prática, como um empréstimo pessoal no app do banco. Quando o consumidor opta por fazer um pagamento parcelado com Pix, ele escolhe o valor e o número de prestações, além de verificar os juros aplicados à operação e taxas, como o IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras). Uma vez concluído o processo de contratação, a transferência é enviada automaticamente ao lojista ou prestador de serviço, que recebe o valor integral da transação. Depois, nas datas combinadas, o banco desconta da conta corrente do cliente as parcelas.
O parcelamento representa uma oportunidade para o mercado oferecer mais uma linha de crédito à população. Com a popularização do Pix, novos modelos de pagamento surgem como uma forma de ampliar a oferta de financiamentos no país, permitindo que os consumidores dividam grandes valores em prestações menores.
As condições atualmente aplicadas pelos bancos que oferecem o Pix parcelado variam bastante. No Banco do Brasil, por exemplo o correntista precisa ter um limite de crédito suficiente para cobrir todo o valor da transferência que será enviada. No PagBank, há um valor mínimo de R$ 5 por parcela e é possível dividir as compras em até 18 prestações. No Santander Brasil, o parcelamento pode ser feito em no máximo 24 vezes, com até 59 dias para começar a pagar.
No formato atualmente empregado pelos bancos, o cliente que não tiver recursos suficientes para honrar as parcelas do futuro Pix Garantido no vencimento pode acabar usando o limite do cheque especial. Se não houver esse limite ou se o limite for ultrapassado, há cobrança de mais juros.
Em resposta a questionamento do UOL, o BC disse que não tem nenhum detalhe sobre os estudos da regulamentação para divulgar neste momento. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirmou que ainda não participou de discussões sobre as características da modalidade.
Quem pode usar o Pix parcelado
Clientes com nome sujo, score de crédito baixo ou dívidas altas podem nem ter a opção do Pix parcelado no app do banco. Como em qualquer tipo de financiamento, as instituições financeiras fazem análise detalhada do perfil financeiro do cliente antes de liberar o crédito. Também avaliam o histórico de pagamentos do consumidor para saber se costuma atrasar contas e analisam se tem ganhos suficientes para arcar com as parcelas sem comprometer despesas fixas. Dívidas existentes, como financiamentos e limites de cartão usados, podem dificultar a aprovação.
Uso frequente e equilibrado do Pix pode ser uma vantagem na avaliação. Clientes que utilizam a ferramenta regularmente, sem estourar saldos ou fazer movimentações arriscadas, tendem a ser vistos de forma mais positiva pelos bancos.
Relacionamento de longo prazo com o banco facilita o acesso ao crédito. Clientes antigos, com contas ativas há anos e bons históricos, deverão ter mais facilidade para acessar o Pix parcelado. Apesar disso, os critérios podem variar entre as instituições.
Cuidados com o superendividamento
Antes de optar pelo Pix parcelado, o cliente tem que comparar com outras modalidades de pagamento e parcelamento. A facilidade de fazer prestações com o Pix no app do banco pode estimular a impulsividade nas compras e o descontrole. "Como o processo é muito rápido, há uma tendência de clicar no 'OK' sem refletir, o que pode gerar dívidas desnecessárias", diz Thaísa Durso, educadora da plataforma de investimentos Rico. "É fundamental avaliar o custo-benefício de cada modalidade e não se deixar levar apenas pela conveniência." O Pix parcelado também não oferece benefícios como pontos, milhas ou cashback, comuns em cartões de crédito.
É essencial entender quais são os juros cobrados na transação e os prazos de pagamento. Usando o Pix parcelado ou o crediário, que cobram juros, o consumidor sempre acaba pagando mais caro pelo produto ou serviço do que se quitasse o valor à vista. Muitas empresas até oferecem descontos sobre o valor à vista para quem paga com o Pix, mas esse desconto pode ser menor do que os juros do parcelamento feito pelo app do banco.
Para evitar ficar endividado demais, o consumidor deve controlar o número de operações contratadas, as prestações e os vencimentos. Cada banco apresenta essas informações no seu aplicativo de forma diferente.
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Quero receberO ideal é manter um controle rigoroso e assegurar que as parcelas caibam no orçamento sem comprometer outras prioridades.
Thaísa Durso, educadora financeira da corretora de investimentos Rico
Entender o impacto da dívida no orçamento é crucial. Colocar os números na ponta do lápis permite avaliar se as parcelas cabem no orçamento sem comprometer despesas essenciais ou investimentos. "Para emergências, essa modalidade pode ser útil, mas deve ser usada com cautela para evitar endividamentos desnecessários", diz Fernando Oliveira, assessor de investimentos da consultoria EWZ Capital.
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