Katherine Rivas

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Reportagem

Com dólar alto, quais ações valorizam mais e oferecem bons dividendos?

Após bater recordes por conta do estresse fiscal, o dólar fechou a sexta-feira (29) cotado a R$ 6,0005 com alta de 0,19%. A moeda americana renovou recorde pelo terceiro fechamento seguido e encerrou acima de R$ 6 pela primeira vez.

Mais cedo, diante do mau humor do mercado com o novo pacote fiscal anunciado pelo governo nesta semana, o dólar chegou a ser negociado a R$ 6,11. Conteve a disparada da moeda, declarações de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, que indicaram que a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5000 só vai ocorrer se não prejudicar as contas públicas. Em novembro, o dólar teve valorização de 3,79% frente ao real.

O Ibovespa também melhorou diante destas declarações, fechando o dia com leve alta de 0,85%, aos 125.667,83 pontos. Apesar disso, não foi possível se recuperar na semana, na qual o índice teve queda de 2,68%. No mês, o declínio do Ibovespa é de 3,12%.

Mesmo com paliativos, o sentimento de incerteza nos mercados permanece. A desvalorização do real frente ao dólar traz consigo alguns efeitos colaterais, que já são perceptíveis no mercado. Um deles é a inflação elevada, que por consequência gera juros elevados para conter a alta dos preços e tem como resultado uma fuga de investidores da Bolsa de Valores.

Com pouca procura, a maioria das ações sofre com queda nos preços, mas há alguns segmentos que conseguem ser resilientes neste cenário. Empresas exportadoras, por exemplo, tendem a ser beneficiadas já que suas receitas em dólares se tornam mais valiosas quando convertidas para reais, explica Régis Chinchila, head de research da Terra Investimentos.

Quando o assunto é dividendos, as exportadoras e aquelas que tem relação com commodities também são favorecidas. Com receitas maiores, o fluxo de caixa se torna robusto, o que se traduz em uma remuneração gorda para os acionistas.

Mas então, onde se encontram as melhores alternativas para usufruir de um cenário com dólar em alta? O UOL consultou alguns especialistas e traz a resposta a seguir:

Até quando o dólar deve continuar subindo?

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o novo patamar do dólar deve oscilar entre R$ 6 e R$ 6,50 no decorrer de todo o ano de 2025. "Para mudar esse cenário e ver uma apreciação do real, precisaria ter um novo pacote fiscal mais robusto e obviamente isso não vai acontecer. O governo vai seguir com o pacote atual, que é muito frágil, consolidando assim um cenário de câmbio de R$ 6 para cima", afirma Vale.

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Segundo o economista, isso deve se traduzir em uma inflação acima de 4,5% e juros que podem até chegar a 14% no primeiro semestre de 2025. Aliás, Vale acredita que a inflação pode ficar muito próxima da meta nos quatro anos do governo Lula, fazendo com que os juros permaneçam elevados. "Este governo está contratando um cenário muito difícil para ele, tanto em 2025 e 2026, com chances de termos alguma recessão por conta desse cenário", destaca.

André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica, tem uma visão semelhante. Embora acredite que seja difícil identificar até onde o dólar pode valorizar, ele destaca que o real não deve reagir tão rápido em 2025.

O motivo é que além das questões domésticas envolvendo o pacote fiscal, há outros fatores no exterior que devem impulsionar a valorização do dólar frente ao real. Um deles, segundo Galhardo, é a gestão de Donald Trump nos Estados Unidos, que deve aumentar as tensões comerciais com Europa, América Latina e China, o que acaba impactando o dólar e desvalorizando outras moedas emergentes.

O efeito imediato da desvalorização do real seria uma pressão inflacionária, levando assim ao Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central ser mais austero na próxima reunião de dezembro sobre a Selic.

Quais ações devem valorizar mais?

Para Chinchila, do Terra, os efeitos de um dólar em tendência de alta na bolsa devem perdurar até pelo menos meados de 2025, aliado a um cenário de juros elevados tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

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Neste contexto, empresas exportadoras são as mais favorecidas e podem valorizar. Entre os setores mais beneficiados, Chinchila destaca o de commodities, como papel e celulose e o agronegócio.

Já Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, cita também mineradoras, petrolíferas, frigoríficos e empresas de fazendas, dentro do agro, dado que estas vendem grãos.

Na hora de apontar companhias que mais podem usufruir do cenário e ver alta nas cotações dos seus papéis, o analista da Terra Investimentos aponta para Suzano (SUZB3) e SLC Agrícola (SLCE3), empresas com forte exposição ao dólar, que têm suas receitas atreladas a moeda norte-americana, enquanto seus custos permanecem em reais. "Com a alta do câmbio, estas empresas têm seus lucros ampliados", diz Chinchila.

No caso da SLC Agrícola, por exemplo, 96% das vendas realizadas pela empresa são em moeda estrangeira. "O dólar em alta deve gerar bons resultados financeiros e valorização das suas ações", reforça.

Entre as preferidas para buscar valorização, Queiroz elege a Minerva (BEEF3). Diferente dos pares que tem receita e custos em dólar, a Minerva possui receita em dólar e custos em reais, segundo o analista. Ele destaca que 70% da receita do frigorífico é oriunda da exportação.

Já frigoríficos como Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3) também acabariam se beneficiando, mas em menor proporção por ter os custos dolarizados.

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No setor de petróleo, Queiroz tem preferência pela Brava (BRAV3) e em mineração pela CSN Mineração (CMIN3).

Quais ações devem ter espaço para dividendos maiores?

Para quem busca renda passiva também há alternativas, principalmente nos setores de commodities, celulose e papel, alimentos e frigoríficos. Com o dólar valorizado, as exportadoras geram um caixa robusto, o que favorece o pagamento de dividendos mais elevados.

Chinchila, da Terra, recomenda as ações da Bradespar (BRAP4) e JBS (JBSS3) para quem busca dividendos consistentes e potencial de valorização no longo prazo. Ele destaca que a Bradespar (BRAP4) é uma holding que detém uma participação significativa na Vale (VALE3) e deve continuar se beneficiando da alta do dólar e dos bons preços do minério de ferro. Para 2025, ele projeta que a Bradespar entregue um dividend yield (retorno em dividendos) entre 8% e 10%.

Já na JBS (JBSS3), Chinchila destaca que grande parte da sua receita é em dólares, principalmente por conta das exportações de carnes. "Esse câmbio elevado melhora suas margens de lucro e resulta em um forte fluxo de caixa, permitindo a continuidade da política de dividendos robusta", aponta. Ele espera que a JBS entregue um dividend yield entre 5% e 6% nos próximos 12 meses.

Para Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest, a Petrobras (PETR4) deve ser uma das principais beneficiadas deste cenário de dólar em alta, o que pode potencializar as suas receitas. Por ter uma programação já estabelecida de remuneração dos acionistas, como anunciado no seu plano estratégico 2025-2029, o investidor pode ficar confiante de receber dividendos robustos. Saiba mais nesta reportagem.

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"Esperamos um dividend yield entre 12% e 14% para os próximos 12 meses", comenta Saravalle.

Ainda na lista de boas pagadoras, Bruno Oliveira, analista CNPI do Projeto Vida de Acionista, enumera a CSN Mineração (CMIN3), que também tem receita em dólares e custos em reais. A empresa também tem um diferencial, que pode favorecer o investidor em tempos de juros elevados. É o fato de ter um endividamento negativo e R$ 5 bilhões em caixa, o que a deixa confortável para ter um forte ciclo de investimento e ainda remunerar os seus acionistas. Lembrando que empresas endividadas podem ter seus dividendos pressionados com a alta dos juros.

Oliveira tem uma projeção conservadora para os dividendos da companhia, de R$ 0,50 e 9,6% de dividend yield para 2025. No entanto, a companhia pode pagar mais e surpreender positivamente o investidor a depender dos seus resultados.

Por último, Oliveira cita a fabricante de papel Klabin (KLBN11), que tem diversos clientes espalhados pelo mundo, o que faz com que a companhia exporte seus produtos. Mas, um detalhe importante, a dívida da empresa também é em dólares.

No entanto, Oliveira explica que a Klabin tem forte flexibilidade operacional e comercial, para aumentar a oferta dos seus produtos de acordo com o cenário cambial mais favorável. Além disso, a companhia tem sua dívida protegida por sistemas de hedge, o que mitiga boa parte dos efeitos financeiros na alta do dólar.

"Se por um lado a dívida fica mais cara em reais, eles conseguem exportar mais, recebendo mais dólares e amenizando o efeito cambial do endividamento", observa Oliveira.

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O analista projeta um dividend yield de 5% para 2025, algo próximo a R$ 1,08 por unit.

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