Pensa que aplicação em renda fixa é imune ao coronavírus? Não é bem assim
Resumo da notícia
- Novo corte da Selic reduz ainda mais ganho dos fundos renda fixa que aplicam em títulos do Tesouro
- Incerteza sobre economia provoca volatilidade nos preços de títulos do governo e de empresas
- Dos 16 tipos de fundos de investimento renda fixa, nove estão com perdas em março
Se você aplicou a maior parte - ou a totalidade - de sua carteira em fundos de renda fixa e está certo de que a pandemia de coronavírus que transformou a Bolsa em uma montanha-russa não vai contaminar suas aplicações, melhor repensar o assunto. A mais forte volatilidade dos mercados em todo o mundo em mais de uma década também está afetando os títulos do Tesouro e os papéis de empresas, como debêntures, que fazem parte dessas carteiras.
O impacto é bem menor que o registrado nas ações negociadas em Bolsa. Mas com a taxa básica de juros no Brasil, a Selic, numa nova mínima histórica após mais um corte por parte do Copom (Comitê de Política Monetária), perder qualquer naco de rendimento dos fundos de renda fixa já atrapalha o ganho.
Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais), dos 16 tipos de fundos de renda fixa, nove estão em março com uma rentabilidade negativa, segundo dados até o dia 16.
Para o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, esse ambiente de volatilidade deve continuar por mais algumas semanas. "Temos muitas incertezas. Então é provável que essa volatilidade continue em março e abril", afirmou.
Veja abaixo como o impacto do novo coronavírus sobre a economia afeta diferentes fundos de renda fixa.
Fundos renda fixa DI
Os fundos de renda fixa referenciados DI aplicam quase 100% do patrimônio em títulos públicos federais do Tesouro Direto que acompanham a taxa CDI ou Selic. "Portanto, o rendimento desses fundos sempre estará próximo à taxa básica de juros e tem seu rendimento afetado com mais um corte da taxa Selic", diz o fundador da plataforma APP Renda Fixa, Francis Wagner, especialista em investimentos.
Fundos renda fixa prefixados
Os tradicionais fundos de renda fixa que aplicam em títulos prefixados apresentam variações de acordo com as expectativas futuras da alta ou queda da taxa de juros, caso de papéis como Tesouro Prefixado, ou da inflação - por exemplo, Tesouro IPCA+.
Como as incertezas lançadas pelo impacto do covid-19 sobre a economia deixaram os agentes de mercado no escuro, diminuiu a previsibilidade sobre o que vai acontecer com o PIB, a inflação e os juros no Brasil. Ou seja, os títulos que acompanham IPCA e projeções de juros também sofreram alterações de valor.
Por regra do mercado, os gestores dos fundos precisam fazer um ajuste no valor da cota do fundo, a chamada marcação a mercado, para estipular diariamente o valor de cada cota com base no valor de face atual do ativo, mesmo que esses ativos não estejam sendo negociados no momento.
Quanto mais longo o título que está na carteira, maior é a variação de preço que esse ativo sofre nessa marcação a mercado.
"Essa marcação a mercado impacta diretamente o valor da cota do fundo. Afinal, se você precisar resgatar o valor aplicado em um determinado momento, o gestor tem que vender o ativo no preço que o mercado estiver pagando naquele momento", afirma Wagner.
Mas isso acontece só se houver o resgate neste momento, Se o investidor não tirar o dinheiro agora, não tem esta perda.
Fundos de crédito privado
Os fundos de renda fixa crédito privado também aplicam em títulos do governo, mas buscam retornos mais elevados comprando títulos de empresas, como debêntures, LCIs e outros. Essas carteiras também podem sofrer variações por causa da marcação a mercado.
Alguns desses fundos sofrem até um duplo impacto: tanto da variação dos títulos das empresas como pela volatilidade no preço dos papéis do governo, em especial aqueles que acompanham a inflação.
O CEO da Sparta, Ulisses Nehmi, gestor de carteiras de crédito privado, afirma que o mercado de lançamento de debêntures e, portanto, dos fundos de crédito privado, está meio parado no meio dessa turbulência.
"O mercado primário ainda está muito tímido, buscando um denominador comum para taxas de emissão, já que os investidores têm exigido mais retorno do que estava se praticando nos últimos anos. No mercado secundário, temos visto um volume menor sendo negociado", disse.
Empresas mais precavidas
Os gestores de recursos que atuam nesse segmento destacam que os títulos das empresas passaram por um forte ajuste no último trimestre do ano passado. Por isso, a volatilidade este ano tem sido mais leve.
"Não acredito em uma variação de preços forte neste momento, porque as empresas já fizeram muitos ajustes no ano passado", afirma o sócio gestor da Devant Asset, Bruno Eiras, que atua com foco nesse segmento de mercado.
Eiras admite que, se as medidas para conter o coronavirus durarem muito tempo, podem provocar queda das vendas das companhias. Nesse cenário, as empresas teriam menos dinheiro entrando no caixa e, assim, menos recursos para pagar credores, caso dos donos de debêntures.
Mas o gestor da Devant destaca que as companhias brasileiras também fizeram ajustes durante os anos de crise, reduzindo o endividamento e, em média, estão com mais dinheiro em caixa. Então, afirma Eiras, a tendência é que esses fundos que compram títulos de empresas tenham menor volatilidade.
Outro profissional que atua no segmento de crédito privado, Pierre Jadoul, gestor da ARX Investimentos, afirma que a ampla maioria das debêntures que estão nos fundos de investimento pertence a empresas com boa nota de crédito, ou seja, com baixo risco de calote. O que também reduz a volatilidade dessas carteiras.
Como atenuar a perda
Os gestores de recursos lembram ainda que o investidor que puder manter o dinheiro do fundo neste momento de variação negativa consegue evitar o prejuízo. Isso porque se os títulos forem carregados até o vencimento, a rentabilidade paga será aquela determinada pelo valor de face do ativo.
Assim, o rendimento menor em março, por exemplo, será compensado adiante, na medida em que os papéis forem chegando ao vencimento. "O fundo vai chegar ao mesmo ponto que estava combinado antes. Se andou mais devagar agora, vai acelerar mais na frente", afirma a consultora de investimentos da Órama, Sandra Blanco.
Veja mais economia de um jeito fácil de entender: @uoleconomia no Instagram.
Ouça os podcasts Mídia e Marketing, sobre propaganda e criação, e UOL Líderes, com CEOs de empresas.
Mais podcasts do UOL em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.