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REPORTAGEM

Freio do avião precisa ser trocado como no carro? Como piloto sabe a hora?

Freio de um Boeing 737 exposto após a roda ser removida para a troca do conjunto - Alexandre Saconi
Freio de um Boeing 737 exposto após a roda ser removida para a troca do conjunto Imagem: Alexandre Saconi

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/06/2022 04h00

Os freios de um avião possuem um princípio similar ao de um carro, mas têm um funcionamento diferente. Nos carros, um conjunto de pastilhas entra em contato com o disco da roda, fazendo com que o atrito desacelere o veículo até sua parada.

Em um avião, o que existe é um conjunto de pastilhas intercaladas, como um pacote de pão de forma. Algumas são estáticas, ligadas ao eixo do trem de pouso, e outras giram acompanhando a roda do avião.

Ao serem pressionadas umas contra as outras, o atrito entre elas faz a aeronave parar. Essas pastilhas possuem formato arredondado, com tamanho que varia de modelo para modelo, mas costumam ultrapassar os 40 centímetros.

Durabilidade

Assim como nos carros, os freios dos aviões necessitam ser trocados periodicamente conforme se desgastam. Entretanto, como o peso e a velocidade de um avião são bem maiores que nos carros, acabam sendo muito mais exigidos e precisam ser trocados com maior frequência.

Segundo a Gol, a duração de cada freio varia de acordo com a sua utilização. Por exemplo, pousos em pistas maiores não exigem tanto do freio quanto pousos em pistas curtas, o que muda a durabilidade do dispositivo.

Outro fator que também define a necessidade da troca é o tipo de pastilha utilizada. Existem dois tipos predominantemente: as de aço e as de carbono, que são do mesmo tipo encontrado nos carros de Fórmula 1.

Na Gol, os freios de carbono duram em torno de 11 meses, enquanto os freios de aço duram em torno de quatro meses. Segundo a companhia, esses números são baseados na atual quantidade média de pousos que a frota da empresa realiza diariamente, e podem variar entre as companhias.

Haste - Montagem/Alexandre Saconi - Montagem/Alexandre Saconi
À esquerda, o freio com a haste indicadora apontando a necessidade de troca. À direita, o freio novo
Imagem: Montagem/Alexandre Saconi

No geral, as equipes sabem a hora de trocar um conjunto de freios quando ele apresenta um desgaste considerável. Uma haste ligada ao conjunto diminui de tamanho conforme as pastilhas vão se desgastando. Quando ela chega a determinada marca no trem de pouso, é o momento de trocar o freio.

Antes de voar, os pilotos inspecionam essas hastes para garantir que tudo esteja dentro dos padrões para decolar e pousar em segurança.

Como funcionam?

Os freios dos aviões funcionam de maneira similar à de um carro, por meio de pedais e força hidráulica. No caso das aeronaves de grande porte, o piloto pressiona o pedal do freio e, nesse momento, um sistema hidráulico aplica pressão em um conjunto de pistões que comprimem as pastilhas entre si, tanto as rotativas quanto as estáticas.

Há a possibilidade de o acionamento ser feito de maneira automática, por meio dos computadores da aeronave. Eles calculam o peso do avião e a velocidade de aproximação e definem qual será o modo de frenagem (mais brusco ou mais suave).

A temperatura dos freios pode passar de 600º C quando acionados. É comum que, quando um avião aborta uma decolagem, ele tenha de esperar um pouco antes de tentar decolar novamente.

Isso se deve ao fato de que é necessário aguardar que o freio esfrie pois, caso esteja quente, pode perder sua eficiência e não parar na pista se for exigido novamente em um curto período.

Em alguns casos, as empresas optam por trocar os passageiros de avião para prosseguirem a viagem enquanto a aeronave em que estavam é inspecionada pelas equipes de manutenção.

Como é feita a troca?

Aerotech - Alexandre Saconi - Alexandre Saconi
Equipe da Gol Aerotech realiza a troca de um conjunto de freios e do pneu de um Boeing 737
Imagem: Alexandre Saconi

Para trocar o conjunto de freios do avião, é preciso remover toda a roda do trem de pouso para se ter acesso a ele. Nesse caso, a troca é do conjunto completo, que é enviado para uma oficina onde as pastilhas serão trocadas e todo o freio será testado antes de ser colocado de volta em um avião.

O avião é suspenso (com um macaco hidráulico, por exemplo) e, após a retirada da roda, o freio é removido e separado para ser enviado para a manutenção. Enquanto isso, um conjunto já preparado e com pastilhas novas é inserido no lugar.

Toda essa operação dura cerca de uma hora em um Boeing 737.

Dependendo do tipo de avião, pode haver sistemas maiores ou menores, com mais ou menos conjuntos de pastilhas. A quantidade de pistões que pressiona as pastilhas também muda, chegando a 14 em aviões maiores.

Curiosidades

  • Quando o freio esquenta demais, um dispositivo esvazia o pneu do avião para evitar um acidente
  • O conjunto de freios de um Boeing 737 pesa entre 180 kg e 200 kg
  • Freios à base de carbono são mais leves (economizam combustível) e conseguem absorver mais energia
  • Uma decolagem abortada é o momento em que o freio é mais exigido
  • Alguns modelos de avião possuem uma espécie de ventoinha que ajuda a resfriar o freio
  • O avião possui um sistema que armazena pressão para que, caso o sistema hidráulico falhe durante o pouso, os pilotos consigam frear o avião mesmo assim

Veja como é a troca de um conjunto de freios de um Boeing 737, realizada no hangar da Gol Aerotech no aeroporto de Congonhas, em São Paulo:

Fontes: Alexandre Medeiros Gandini, gerente de manutenção técnica da Gol, Carlos Nagatani, gerente de manutenção de linha na Gol, e manuais dos fabricantes