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REPORTAGEM

Top Gun: Por que os EUA trituraram seus caças F-14, iguais ao do filme?

F-14D Tomcat, avião que muda a geometria de sua asa, o que facilita alguns tipos de operação - Smithsonian National Air and Space Museum
F-14D Tomcat, avião que muda a geometria de sua asa, o que facilita alguns tipos de operação
Imagem: Smithsonian National Air and Space Museum

Alexandre Saconi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/07/2022 04h00

Os caças F-14, apelidados de Tomcat, tiveram uma carreira de destaque na Marinha dos Estados Unidos. O fim de sua vida, entretanto, não foi tão bonito quanto sua trajetória ou os combates intensos exibidos no filme Top Gun (1986), onde o modelo foi pilotado por Maverick, personagem de Tom Cruise.

Os F-14 foram sucateados, com exceção de poucos exemplares que tiveram a fuselagem preservada para serem expostos. A aposentadoria ocorreu em 2007, em decorrência da presença de aviões mais modernos na frota das forças armadas dos EUA, tornando o modelo obsoleto.

O que aconteceu em seguida ao fim do tempo em serviço foi o desmantelamento da frota, com as peças sendo trituradas. Apesar de parecer loucura, havia um objetivo bem claro por trás dessa atitude: evitar que componentes caíssem nas mãos do inimigo, no caso, o Irã.

Irã e seus F-14

Em 1972, o xá (soberano) Mohammad Reza Pahlevi, então líder do Irã, visitou os Estados Unidos em busca de um novo avião para compor a frota do país. A visita amistosa pode parecer algo estranho, mas eram outros tempos.

Pahlevi participou da demonstração de dois fabricantes, McDonnell Douglas, com o seu F-15, e Grumman, com o F-14. Após a apresentação, o xá escolheu o F-14, entre outros motivos, pela sua versatilidade: ele tem a asa com geometria variável, ou seja, ela se dobra para trás de acordo com a necessidade (enflechamento).

Com a asa aberta, mais similar a um avião comercial, ele consegue ter melhor desempenho em baixas velocidades, como pousos e decolagens. Quando sua asa é retraída para trás, ele diminui a resistência ao ar e pode voar melhor em velocidades supersônicas.

Ao todo, foram compradas 80 unidades em meados da década de 1970. Tudo isso ocorreu antes da Revolução Islâmica de 1979, que tornou o país uma república islâmica e abriu caminho para a rivalidade com os EUA.

Até lá, o país já contava com dezenas de unidades do avião entregues e pilotos altamente treinados para usar o caça.

Eixo do mal

O acirramento dos ânimos entre os dois países fez os Estados Unidos passarem a considerar o Irã como integrante do chamado "Eixo do Mal" com o passar dos anos, levando à necessidade de reforçar o controle sobre os materiais retirados da aeronave. Tudo isso com o objetivo de não fornecer capacidade de ataque ao inimigo.

Com a aposentadoria do modelo, a escolha de sucatear os exemplares restantes tinha a meta de impedir que peças pudessem ser extraviadas e fornecidas para o Irã manter sua frota em operação.

Além disso, há um embargo no fornecimento de peças de reposição ao Irã. Assim, para o país do Oriente Médio manter seus Tomcats voando, ele tem de canibalizar os exemplares que já possui para fornecer peças aos outros aviões.

Como o Irã é o único país a operar o F-14 atualmente, ele dificilmente poderá obter novas peças. Mesmo que pedaços dos aviões que pertenceram aos EUA fossem traficados ilegalmente para o país eventualmente, a opção pelo desmantelamento e sucateamento da frota toda de Tomcats nos EUA dificultou esse tipo de operação.

F-14 - Reprodução/Revista do 309 AMARG a Força Aérea dos EUA - Reprodução/Revista do 309 AMARG a Força Aérea dos EUA
Alguns dos últimos F-14 Tomcat são levados para serem picotados em pequenos pedaços nos EUA
Imagem: Reprodução/Revista do 309 AMARG a Força Aérea dos EUA

Os exemplares remanescentes, localizados em sua maioria em museus, não estão operacionais ou não possuem peças fundamentais para o avião voar.

E também como estão em locais com constante vigilância, torna-se mais difícil que alguma parte seja removida para ser enviada ao Irã.

Ficha técnica

Modelo: F-14
Fabricante: Grumman
Produção: De 1969 a 1991
Primeiro voo: 1970
Aposentadoria: 2007
Comprimento: 19,10 metros
Envergadura (distância de ponta a ponta da asa): 19,55 metros (com a asa "aberta") ou 11,65 metros (com a asa enflechada)
Altura: 4,88 metros
Peso máximo de decolagem: 33,7 toneladas
Velocidade: Até cerca de 2.500 km/h
Autonomia (distância máxima voada): Cerca de 3.220 km
Altitude máxima de voo: Em torno de 17 km
Preço: Estimado em US$ 38 milhões à época
Observação: As informações podem ser levemente diferentes entre as variações do F-14 fabricadas ao longo dos anos

F-14 - Divulgação/Nasa - Divulgação/Nasa
F-14 Tomcat utilizado pela Nasa para testes de aerodinâmica
Imagem: Divulgação/Nasa

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Errata: este conteúdo foi atualizado
O primeiro filme Top Gun é de 1986 e não de 1988, ao contrário do que dizia a matéria. A informação foi corrigida.