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Carne bovina com menos colesterol e mais saudável é pesquisada na USP

Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo

30/01/2014 06h00Atualizada em 21/07/2015 18h10

Uma carne vermelha mais nutritiva e com menor nível de colesterol foi desenvolvida em uma pesquisa da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (Universidade de São Paulo), em Pirassununga.

Para conseguir esse resultado, os pesquisadores acrescentaram selênio, vitamina E e óleo de canola na ração de engorda de bois, nos três meses anteriores ao abate. O estudo levou dois anos.

O consumo desses elementos por humanos ajuda a neutralizar a ação de radicais livres --que afetam o sistema imunológico e provocam o envelhecimento das células--, a prevenir doenças do coração e a reduzir os níveis de colesterol.

“Constatamos que o teor de selênio na carne produzida chegou a ser quase seis vezes maior do que na carne comum. A quantidade de vitamina E foi quatro vezes maior”, disse a pesquisadora Lisia Correia.

Marcus Antonio Zanetti, professor e coordenador do projeto, afirmou que a análise de amostras do sangue e da carne dos animais --da raça nelore, que é predominante no país-- indicou que houve diminuição do colesterol considerado prejudicial à saúde.

Além disso, o selênio e a vitamina E, por serem antioxidantes, contribuíram para elevar o tempo de conservação da carne, em relação à carne bovina comum. A pesquisa ainda não quantificou esse aumento na durabilidade.

A carne proveniente dos animais que receberam ração mais nutritiva tem gosto mais agradável, afirma Lisia Correia. "Por não se oxidar rapidamente, ela apresenta o gosto de carne mesmo, mas ainda não fizemos testes às cegas [com consumidores, para comparação]”, diz.

O enriquecimento da carne apenas com selênio, segundo cálculos de Zanetti, aumentaria o custo do quilo em R$ 0,20. Mas não há previsão para o produto chegar ao mercado, já que a venda de carne enriquecida é proibida no país.

A divulgação da pesquisa, de acordo com os profissionais da USP, pode incentivar o interesse da população e levar o governo brasileiro a liberar sua comercialização, a exemplo do que já ocorre na Europa e Estados Unidos, segundo eles.

Produto fortificado foi testado na alimentação de idosos

Para avaliar se o consumo da carne aumentaria a disponibilidade de selênio e a diminuição de colesterol no sangue de humanos, os pesquisadores fizeram um estudo com 80 idosos de uma instituição assistencial em Leme (a 188 km de São Paulo).

Os idosos foram escolhidos, de acordo com a pesquisadora, porque em geral eles têm queda da imunidade e anemia por deficiência de ferro e de proteína.

A carne fortificada foi incluída nas refeições três vezes por semana, durante três meses. A análise de amostras de sangue coletadas dos idosos indicou que a quantidade de selênio no organismo aumentou após 45 dias de consumo.

Carne vermelha deve ser consumida com moderação

Para a nutricionista Salete Brito, do Hospital das Clínicas (SP), os elementos presentes na carne fortificada podem ser obtidos em outros alimentos, numa dieta balanceada.

"O selênio, que combate radicais livres e previne doenças cardiovasculares, pode ser consumido na castanha-do-pará, por exemplo. Já a vitamina E, que é antioxidante, está presente na linhaça e nas nozes; o óleo de canola tem ômega 9, que também está no azeite", diz.

Ela afirma que, se chegar ao mercado, a carne mais nutritiva deverá ser consumida apenas duas ou três vezes por semana, assim como a carne vermelha comum. "Não é bom exagerar em nada", diz.