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Juros altos: quem tem dinheiro para investir deve ser muito conservador

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Imagem: Thinkstock

Sophia Camargo

Do UOL, em São Paulo

03/06/2015 20h25Atualizada em 05/06/2015 11h32

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu nesta quarta-feira (3) subir a taxa básica de juros (Selic) de 13,25% para 13,75% ao ano

Com as taxas de juros mais altas, taxa de desemprego em elevação, inflação no maior nível desde 2004 e a economia em crise, quem tem dinheiro para investir deve ser extremamente conservador.

Esse é o conselho de Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest, e também de Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

"A recomendação para o momento é ser extremamente conservador, porque a economia deve piorar muito antes de melhorar. 2015 deve ser ruim e 2016 ainda é uma incógnita", afirma Oliveira.

"O maior investimento hoje é manter-se no emprego, manter-se com renda. E administrar muito bem o seu orçamento, porque o desemprego está aumentando e a economia brasileira vai encolher", diz Calil.

Quem tem dinheiro para aplicar vai ganhar mais juros investindo nas modalidades de renda fixa que pagam uma porcentagem do CDI, taxa fixada diariamente pelos bancos e que acompanha a evolução da Selic.

Poupança deve ser evitada

Com o aumento dos juros, a poupança perde competitividade diante dos fundos de renda fixa, até mesmo daqueles que têm altas taxas de administração, acima de 1%.

Com isso, a modalidade, que antes atraía os investidores pela facilidade de aplicação e também pela isenção de Imposto de Renda, agora tem seu rendimento afetado pela alta da inflação, pois a poupança paga rendimento fixo de 0,5% ao mês mais TR.

Mauro Calil sugere que o investidor conservador migre seu investimento da poupança para o Tesouro Direto.

"O Tesouro Direto é a nova caderneta de poupança", diz.

Segundo Calil, as mudanças que foram realizadas no Tesouro Direto facilitam a aplicação. "Hoje é possível entrar e sair todo dia no Tesouro Direto. De um dia para o outro o investidor já tem rentabilidade, diferentemente da poupança, que tem de esperar no mínimo 30 dias".

No Tesouro Direto, porém, a aplicação é taxada com IOF nos primeiros 30 dias e também pela tabela regressiva do Imposto de Renda. Quem retirar o dinheiro nos 180 primeiros dias paga 22,5% de IR e quem deixar por mais de dois anos paga 15%. Entre esses dois períodos, vigoram mais duas alíquotas (20% e 17,5%, dependendo do prazo da aplicação).

"Mesmo com esses impostos a aplicação ainda vale a pena ante a caderneta de poupança", afirma.

Tesouro Selic é a indicação para o momento

Com a alta da taxa de juros, os títulos do Tesouro indexados à taxa Selic são a indicação para o investimento mais conservador. "Além disso, esse papel não sofre com a temida marcação a mercado, pois ele simplesmente acompanha a variação da taxa de juros", diz Calil.

A marcação a mercado é a atualização para o valor do dia do preço que um papel irá pagar lá na frente. Os títulos do Tesouro indexados à inflação (Tesouro IPCA+) e os títulos que pagam juros prefixados (Tesouro Prefixado) estão sujeitos a essa variação diária.

Essa variação afeta apenas quem pretende sacar o investimento antes do fim do prazo. Quem aguarda até o fim do contrato recebe exatamente o que foi combinado.

Mesmo com a simplificação das regras para investir no Tesouro Direto, Miguel Oliveira acredita que a aplicação ainda traz dificuldades para o pequeno investidor. "Ainda é burocrático e não tem a simplicidade da caderneta", diz. "Para quem ainda se intimida com ele, a solução pode ser um fundo DI", diz.

Oliveira aconselha a buscar fundos cuja taxa de administração sejam as menores possíveis, abaixo de 1%. "Mas normalmente essas taxas estão disponíveis para investidores com mais recursos", diz. O fundo DI também acompanha a evolução da taxa Selic.

LCAs, LCIs e CDB

Apesar de atraentes pela isenção de Imposto de Renda, as LCAs e LCIs estão se tornando opções cada vez mais raras de investimento.

A dificuldade está ligada à retração do mercado imobiliário (no caso das LCIs) e também ao aceno do governo de começar a taxar esse tipo de aplicação.

"Caso consiga encontrar essas opções de investimento, papéis que paguem acima de 85% do CDI já são uma boa oportunidade", afirma Miguel Ribeiro. Mauro Calil diz que há boas opções que pagam entre 90 e 98,5% do CDI, dependendo do prazo do contrato.

Se a opção for um CDB, a aplicação deve pagar no mínimo 100% do CDI, afirmam os dois especialistas.

Se seu dinheiro estiver rendendo menos do que esse valor, está mal aplicado, pois é possível investir a partir de R$ 10 mil recebendo 100% do CDI hoje", diz Calil.

Bancos menores pagam taxas ainda mais atraentes, de até 120% do CDI, pois têm dificuldade para captar dinheiro e remuneram melhor quem investe em seus papéis.

No entanto, para aceitar esse tipo de risco é aconselhável limitar o valor do investimento a R$ 250 mil, atual garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Bolsa e dólar

Num cenário de juros elevados, a Bolsa costuma não ter um bom desempenho, já que os investidores não precisam correr tantos riscos para obterem boa rentabilidade.

"A Bolsa já perdeu muito valor e tem rendido pouco. Num ano de retração de economia como 2015, as empresas devem perder valor e pagar menos dividendos. Só deveria ir para a Bolsa quem aceita correr bastante risco e quiser investir num prazo longo. No curto prazo, o desempenho da Bolsa deve ser muito ruim", diz Oliveira.

Mauro Calil diz que a Bolsa agora é para quem já está acostumado a investir.

"É para quem já sabe fazer o arroz-com-feijão. Reinvestir os dividendos e os juros, investir em empresas que crescem, diversificar e ficar antenado, atuante. Para quem não entende do mercado e ainda assim quem investir em Bolsa, sugiro colocar um pouco de dinheiro num fundo de ações para ver como isso funciona", diz.

O investimento em dólar não é aconselhado pelos especialistas, a não ser que a pessoa pretenda fazer gastos na moeda estrangeira.

"Quem tem uma viagem programada ou tem gastos na moeda, deve ir comprando o dólar aos poucos e não tudo de uma vez, pois assim consegue fazer um preço médio e não ficar preso à cotação de um único dia", diz Oliveira.