Um pouco de inflação é saudável e melhor que deflação, diz economista
O Plano Real faz 21 anos nesta quarta-feira (1º), e a inflação fez a moeda perder 80,1% do seu valor. A inflação, no entanto, pode ser positiva, segundo especialistas.
O professor Heron do Carmo, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) explica que a inflação em si não é algo ruim para a economia.
"É natural que se tenha alguma inflação. Uma inflação de 2% a 3% ao ano é saudável porque os preços subindo um pouco ativam a economia."
"A pior coisa que pode acontecer num país é a deflação (queda generalizada de preços). Quando isso acontece, é porque tudo vai mal, há um aumento do desemprego, o salário cai, as pessoas não querem gastar. É muito pior deflação do que inflação."
Inflação acima de 10% ao ano é perigosa para a economia
No entanto, uma inflação acelerada, acima de 10% ao ano, passa a ser perigosa para a economia. "Agora já há uma previsão de que a inflação vai fechar o ano em 9,5%. Se deixar, ela vai a 15%, depois a 50%, como já vimos acontecer. É preciso conter esse mecanismo", diz.
No Brasil, uma herança dos tempos de hiperinflação ajuda a alimentar essa inflação persistente: a indexação, que é o reajuste de preços por algum índice de inflação.
"Isso ainda é muito difundido na economia", afirma o professor Pedro Linhares Rossi, pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon) da Unicamp.
Segundo ele, há diversos exemplos de indexação formal, por meio de contratos (caso dos aluguéis) e também de indexação informal, quando as pessoas tendem a repassar no preço dos produtos ou serviços o aumento da inflação passada.
Para o professor Heron do Carmo, se o Brasil conseguisse manter as taxas de inflação dentro dos limites de 2% a 3% ao ano, seria possível fazer contratos sem reajuste por um período maior de tempo. "Isso ajudaria a conter o processo inflacionário."
Quem perde mais com a inflação?
A inflação só representa perda de poder aquisitivo quando o salário real não cresce, ou seja, quando não tem reajuste que recomponha as perdas provocadas pela inflação. "Entre 2004 e 2014, o salário mínimo teve um aumento real (acima da inflação) de 68%", diz o professor Rossi.
A crise econômica atual mudou esse cenário. André Nassif, professor dos MBAs da FGV, explica que, enquanto havia pleno emprego, os trabalhadores conseguiram repor não só a inflação como também ganhos de produtividade. "Agora a conjuntura é desfavorável para os trabalhadores", diz.
Nesse cenário de inflação alta, crise econômica e desemprego, quem tem maior capacidade de defesa para manter o preço mesmo diante de uma conjuntura recessiva são os setores oligopolizados, ou seja, mais concentrados. "Bancos, por exemplo."
"Quem mais perde são os mais pobres e os mais vulneráveis, os que trabalham na informalidade."
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