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Balanços estão melhores que esperado, e isso pode render dinheiro na Bolsa

Profissionais de mercado dizem que média de balanços de 4º trimestre das empresas com ações são positivos e apontam impacto em investimentos - Amanda Perobelli/Reuters
Profissionais de mercado dizem que média de balanços de 4º trimestre das empresas com ações são positivos e apontam impacto em investimentos Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

03/03/2022 11h00

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A divulgação de balanços referentes ao quarto trimestre de 2021 (4T21) até agora mostra que os resultados das empresas estão vindo conforme o esperado ou acima das expectativas, segundo especialistas ouvidos pelo UOL. Para eles, os números sinalizam que a maior parte das companhias conseguiu reforçar o caixa e melhorar a eficiência operacional —com cortes de custos— para atravessar a crise econômica provocada pela pandemia.

Esse ambiente pode alimentar um ciclo de alta na Bolsa. Mas também ressaltam que cenários de incerteza são adversários do bom desempenho de ações, como o conflito entre Rússia e Ucrânia, no exterior, e a continuidade da inflação e dos juros elevados, no Brasil. Veja abaixo setores em destaque até agora e estratégias de investimento apontadas pelos analistas entrevistados.

Expectativas que estavam traçadas antes

O mercado abriu a temporada de balanços referentes ao quarto trimestre esperando uma queda de 15,1% no lucro por ação (valor de lucro distribuído para cada ação), mesmo acreditando em um aumento de 18,6% no lucro operacional (resultado antes de juros, impostos e depreciação) e de 26,3% na receita total.

Essas expectativas estão sendo superadas até agora pelas empresas que divulgaram resultados até o momento, com o lucro por ação crescendo mais de 10% em média, graças a avanços da ordem de 20% do lucro operacional e de uma receita subindo aproximadamente 30%.

Expectativas conservadoras

Especialistas afirmam que, no geral, as projeções para os balanços referentes ao quarto trimestre foram feitas com um bom grau de conservadorismo. Isto é, ao traçar as estimativas —antes da divulgação dos balanços—, eles colocaram na conta o impacto da crise econômica provocada pela pandemia de covid-19 nas vendas e nos lucros das empresas.

As expectativas estavam de certa forma já baixas por causa da pandemia. Então, o fato de os números superarem as projeções não representa necessariamente que os resultados estão muito fortes.
João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos

Base de comparação favorável

Outro ponto que os entrevistados destacam é que a base de comparação também contribui para variações positivas nos indicadores de balanço das companhias no quarto trimestre de 2021 em comparação ao mesmo período de 2020.

Os resultados no quarto trimestre de 2020 foram afetados mais fortemente pelas medidas de isolamento social para enfrentamento da covid-19 que no quarto trimestre de 2021, quando as atividades econômicas —em especial no comércio e nos serviços— estavam praticamente liberadas.

A base de comparação (2020) foi bastante prejudicada e, por conta disso, os crescimentos apresentados nos balanços são mais expressivos.
João Daronco, analista da Suno Research

Setores em destaque

Segundo os analistas, alguns setores da atividade econômica conseguiram se destacar no último trimestre de 2021: ou foram beneficiados por fatores econômicos; ou fizeram bem a tarefa de melhorar o balanço, reforçando caixa, cortando custos e reduzindo o peso das dívidas.

Confira abaixo uma análise de cada setor:

Matérias-primas (commodities): empresas produtoras e exportadoras de commodities (como petróleo, minério de ferro, milho) conseguiram se aproveitar da alta do dólar e da valorização da matéria-prima para faturar mais. Essas companhias —como a Petrobras, empresas de siderurgia e mineração e exportadoras do agronegócio— têm ajudado a puxar para cima a média dos indicadores de balanços referentes ao quarto trimestre.

As empresas ligadas às commodities continuam se aproveitando da valorização das matérias-primas que vem ocorrendo durante toda a pandemia e também do dólar valorizado no último trimestre do ano passado.
Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos

Bancos: a alta dos juros ao longo do ano passado, quando a taxa básica Selic saiu de 2% para quase 10%, beneficiou os bancos, que ganham dinheiro emprestando ou aplicando o próprio caixa em títulos do governo.

Consumo e varejo: grandes empresas do varejo têm maior capacidade de acompanhar a inflação —repassando aos consumidores os aumentos de custos da economia, porque são líderes dos setores em que atuam. Assim, conseguem preservar as margens de lucro mesmo em um ambiente de despesas crescentes.

Estamos num ambiente inflacionário e as grandes empresas geralmente conseguem repassar a inflação. Então, você tem resultados bastante robustos, conforme as empresas sobem preços.
Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama

De forma genérica sobre os balanços, Filipe Villegas, da Genial Investimentos, diz que "os resultados do quarto trimestre até aqui mostram que as grandes empresas, com acesso a crédito, conseguiram se organizar para enfrentar a crise".

Cenário para os próximos trimestres

Os analistas afirmam que 2022 será um ambiente desafiador para as empresas com ações negociadas em Bolsa e apontam os motivos logo abaixo.

Conflito entre Ucrânia e Rússia preocupa: os impactos econômicos provocados pela invasão da Ucrânia pela Rússia devem alimentar ondas de valorização para as commodities e para o dólar, o que pode favorecer as exportadoras de matérias-primas.

Mas essas empresas também podem ter as vendas e os lucros afetados pelo mesmo conflito, por causa das sanções econômicas contra a Rússia que já prejudicam o comércio global e os meios de pagamentos entre exportadores e importadores.

Inflação e juros elevados no Brasil: para as empresas que dependem do mercado doméstico brasileiro, os adversários são a inflação e os juros, que estão mais resistentes do que o esperado.

O próprio conflito no leste europeu afeta a cadeia de comércio global de matérias-primas e o petróleo, o que deve seguir puxando para cima preços de alimentos e combustíveis no Brasil. Isso realimenta reajustes de preços em toda a economia. Isso tende a forçar o Banco Central (BC) a elevar mais e por mais tempo os juros, na tentativa de segurar a inflação.

Ao analisarmos o mercado doméstico, podemos ter uma compressão de margens e maiores dificuldades para realizar vendas. Ano de eleições, em geral, também gera certa instabilidade, e as empresas tendem a ficar mais conservadoras.
João Daronco, analista da Suno Research

O que investidor pode fazer?

Os analistas declaram que o ambiente de juros elevados, incertezas externas e dúvidas internas deve provocar o sobe e desce no mercado acionário. Assim, a Bolsa terá momentos de recuperação, mas também ciclos de ajustes para baixo.

Por outro lado, eles afirmam que os preços de muitas ações estão descontados (baixos), o que representa oportunidades para quem quer investir agora.

Com esse cenário no radar, os especialistas dizem que há espaço para o investidor comprar mais ações, mas desde que:

Orientações para dois perfis opostos de investidor

Conservador: para o investidor que não gosta ou não pode assumir risco no curto ou médio prazos, a renda fixa se mostra agora bastante atrativa e está fora da oscilação dos mercados neste momento, de acordo com os entrevistados.

É preferível que esse investidor pague um pouco mais caro lá na frente, se quiser entrar na Bolsa depois, para assim ter mais previsibilidade e menor exposição às oscilações de mercado, agora.
Filipe Villegas, Genial Investimentos

Agressivo (ou arrojado): já para o investidor mais agressivo e que tem um horizonte de mais longo prazo, o ambiente de 2022 representa oportunidades que surgem dentro do sobe e desce das ações, quando o aplicador pode elevar a alocação em empresas a preços mais justos, apontam analistas.

Não estamos com perspectiva de alta forte no Ibovespa, mas há muitas oportunidades em ações individuais. Os setores de varejo e de menor capitalização, por exemplo, apresentam grandes oportunidades.
Phil Soares, Órama Investimentos

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