Na Bolsa, ações de petróleo subiram mais que as de energia renovável
A temperatura do planeta está subindo - e já enfrentamos as consequências disso, como climas extremos e desastres ambientais. Mas, nas Bolsas de Valores do mundo, as ações de empresas no segmento de energia renovável crescem menos que as que estão no setor do petróleo.
Nas Bolsas americanas, as ações de empresas de energia renovável estão em queda forte. O iShares Global Clean Energy ETF, um fundo negociado em bolsa que acompanha todo o setor, caiu mais de 30% este ano.
Na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, o setor teve crescimento, mas abaixo da alta no setor de petróleo. Os seis papéis de empresas que atuam com energia eólica e solar tiveram, em média, retorno de 9,33%. Os dados são de um levantamento da Economatica, considerando o intervalo entre o início do ano até o final de novembro. O Ibovespa, no mesmo intervalo, variou 19%.
As empresas de petróleo subiram, na média, mais que o dobro. As dez ações de nove companhias que atuam com óleo ou combustíveis fósseis alcançaram retorno médio de 23,04%.
Petróleo tem mais força na Bolsa
Há mais ações de petróleo na Bolsa. São seis de energia renovável contra dez de petróleo. Além disso, as petroleiras são bem maiores.
Entre as de energia solar ou eólica, só quatro estão no Ibovespa, enquanto Petrobras é muito forte no índice. São Eletrobras (ELET3 e ELET6), Cemig (CMIG4), Eneva (ENEV3) e Engie (EGIE3). Juntas, elas representam 6,11% do índice. Só a Petrobras responde por 11,88% do índice. O setor todo fica com 16,06% (considerando apenas as ações que fazem parte do Ibovespa).
Veja quais são as empresas de energia renovável e quanto elas cresceram
- Alupar (ALUP11): É a que mais investe em fontes renováveis, gerando e transmitindo energia eólica. Rendimento no ano: 13,10%
- AES Brasil (AESB3): Gera energia eólica e solar. Rendimento no ano: 12,53%
- Eletrobras (ELET3 e ELET6): Atua na geração e transmissão de energia. Além de usinas termelétricas, tem também hidreléticas e usinas eólicas e solar. Rendimento no ano: -2,36% e 0,55%
- Cemig (CMIG4): Atua na geração de energia eólica, uma das pioneiras no Brasil no segmento. Rendimento no ano: 5,19%
- Eneva (ENEV3): Atua na produção de energia solar. Rendimento no ano: 6,37%
- Engie (EGIE3): Tem usinas hidrelétricas e atua com energia eólica. Rendimento no ano: 22,50%
Fonte: Empresas e Economatica, de 1º de janeiro a 30 de novembro
Veja quanto renderam as petroleiras na Bolsa
- Petrobras (PETR3 e PETR4): Maior petroleira do Brasil. Rendimento no ano: 69,31% e 89,04%, respectivamente
- Ultrapar (UGPA3): Dona dos postos Ipiranga, Ultragaz e Ultracargo, entre outras empresas. Rendimento no ano: 104,46%
- Enauta (ENAT3): Explora petróleo. É uma das chamadas "junior oils", companhias privadas do setor. Rendimento no ano: 16,25%
- Prio (PRIO3): Reativa postos de extração de petróleo já explorados. Também é uma das "junior oils". Rendimento no ano:22,43% é
- Cosan (CSAN3): Tem negócios nas áreas de açúcar, álcool, energia, lubrificantes, e logística. Rendimento no ano: 6,50%
- PET Manguinhos (RPMG3): A refinaria de petróleo produz os principais derivados do petróleo. Rendimento no ano: 23,53%
- 3R Petroleum (RRRP3): Outra "junior oil", é uma das maiores produtoras privadas independentes de petróleo e gás natural. Rendimento no ano: -19,33%
- Lupatech (LUPA3): Fornecedora nacional de equipamentos e serviços para a Petrobras. Rendimento no ano: -45,01%
- OSX Brasil (OSXB3): Em recuperação judicial, foi criada em 2009 pelo empresário Eike Batista. Fornecia plataformas de petróleo. Rendimento no ano: - 37,80%
Fonte: Economatica, de 1 de janeiro a 30 de novembro
Por que investidores preferem empresas do setor de petróleo
O investidor está interessado em retorno de curto prazo. "O aquecimento global, as mudanças climáticas não fazem parte da tomada de decisão dos grandes investidores", diz Ana Leoni, especialista em comportamento e planejamento financeiro.
O setor de petróleo é grande e já está estabelecido. "O petróleo junto com outros combustíveis fósseis são a principal matriz energética do mundo", diz Daniel Biolo, especialista em mercado de capitais. O mercado de energia renovável ainda está em crescimento, precisa de investimentos e por isso o retorno nesse tipo de investimento é mais a longo prazo. "A matriz energética baseada em energia renovável ainda tem pouco peso", diz o especialista.
E o investidor - tanto a pessoa física quanto o institucional - não tem visão de longo prazo. É o que diz André Vasconcellos, diretor adjunto do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI). "Ele não enxerga energia limpa como algo importante. O investidor só pensa nisso quando há algum desastre ambiental ou uma onda de calor extremo", afirma ele.
A Engie, por exemplo, é a maior empresa do setor de energia limpa no Brasil, mas não é recomendada por grandes casas de análise. Pelo BTG e pela XP, a classificação da ação é neutra: melhor não comprar, nem vender. Segundo o banco e a corretora, embora a empresa esteja crescendo ainda precisa investir muito para se expandir mais.
Como isso pode mudar?
A preocupação com o clima só vai fazer parte das decisões de investimento se houver uma mudança de mentalidade. É o que dizem Ana Leoni e André Vasconcellos. "Se a sociedade pressionar mais, as empresas teriam que se explicar mais para conseguir os investimentos das pessoas. Teriam que investir mais em energia limpa e em poluir menos", diz Ana Leoni.
Enquanto isso não acontece, os dividendos podem ser um chamariz. "As empresas de energia limpa têm um faturamento muito constante, ao contrário das petroleiras, cujos ganhos variam conforme as oscilações do preço do barril de petróleo internacionalmente. Então elas pagam bons dividendos constantemente. "Para o investidor que gosta de receber dividendos com frequência elas são um prato cheio", diz o diretor do Ibri.
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