Americanas, Casas Bahia e Magalu sofreram: 2024 será melhor para o varejo?
As ações de varejo são sempre as preferidas pelo investidor pessoa física. Mas 2023 não foi um bom ano para elas: as Americanas (AMER3) revelaram uma fraude contábil e entrou em recuperação judicial logo no início do ano. Os papéis das Casas Bahia (BHIA3) levaram um tombo de mais de 70% no ano. Magazine Luiza (MGLU3) teve momentos de alta e baixa, mas acabou fechando 2023 no negativo, em cerca de 5%. Com a queda de juros, elas têm chances de se recuperar?
O que pode acontecer com o varejo em 2024
Com a queda de juros, a economia tende a se reaquecer. Isso porque o crédito tende a ficar mais barato, e empresas podem investir em seu crescimento. Além disso, tomar empréstimos fica mais acessível para os consumidores, que voltam a comprar mais. Essa expectativa levou inclusive o Ibovespa, principal indicador da Bolsa, a atingir o maior patamar da história nesta semana, aos 130.842,09 pontos.
Mas isso pode demorar para acontecer. "Vai melhorar, mas os juros continuam bem altos. Tanto para elas, que estão endividadas, quanto para o consumidor", diz Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos.
O comércio só vai retomar o ritmo saudável em 2025, diz Lage. A previsão do mercado é que, somente em pouco mais de um ano, os juros devam estar na casa dos 8% ao ano, o que ajudaria mais os consumidores endividados, quanto as companhias do varejo.
A obsolescência do que foi comprado na pandemia pode ser um leve . Fritadeiras, TVs, celulares e pequenos eletrônicos - que bateram recorde de vendas em 2020, durante o isolamento social - agora já estão mais velhos. E isso pode aquecer as vendas novamente, mas de leve, dizem os especialistas.
Muita gente vai precisar trocar esses produtos por novos agora e, por isso, pode haver melhora de vendas.
Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama Investimentos
Segredo está em como cada empresa vai lidar com suas dívidas
Recuperação do setor vai depender do gerenciamento da dívida de cada uma. É o que dizem os especialistas consultados pelo UOL. "A Selic mais baixa, pelo menos comparada à de 2023, deve aliviar o resultado das operações financeiras dessas varejistas", diz Gilberto Nagai, superintendente de renda variável na SulAmérica Investimentos. Ou seja, com taxas menores, as despesas com pagamento de juros devem diminuir.
Para o Magazine Luiza, por exemplo, a preocupação é que ele continua queimando caixa. A empresa tem uma dívida de curto prazo, que vence até o final de 2024, de R$ 3 bilhões. "A queima de caixa (a diferença negativa entre o que a empresa ganha e o que ela gasta) continua sendo uma preocupação" afirmou o analista Vitor Pini, em relatório do Banco Safra. No terceiro trimestre deste ano, houve um aumento de R$ 258 milhões na dívida líquida da companhia. Com isso, a queima total de caixa foi de R$ 1,2 bilhão nos últimos 12 meses.
As Casas Bahia têm uma dívida de R$ 10,7 bilhões, sendo R$ 1,9 bilhão de curto prazo. E, ao fim do terceiro trimestre de 2023, o caixa da empresa somava R$ 2,8 bilhões. Em setembro, o grupo de varejo lançou uma oferta primária de ações. A expectativa era vender 778,65 milhões de ações adicionais no mercado, para levantar cerca de R$ 1 bilhão e melhorar o capital da empresa. Para isso, a ação teria que chegar a valer R$ 1,28 cada. Mas a empresa conseguiu levantar apenas R$ 623 milhões. Cada ação saiu por R$ 0,80, desconto de quase 28% em relação ao preço de fechamento do papel de R$ 1,11 na época.
Para as Americanas, tudo vai depender de quanto dinheiro for injetado nela. A varejista anunciou em novembro ter fechado um acordo com quatro bancos credores para receber uma capitalização de R$ 24 bilhões. Desse total, R$ 12 bilhões devem vir dos acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. "Se for realmente feita essa injeção, ela terá chances de sobreviver, mas com um tamanho bem menor", diz Lage.
Outra coisa que pode abalar as contas dessas empresa é a medida provisória (MP 1185). Ela introduz um novo regime tributário para subvenções do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A medida reduz fortemente os incentivos fiscais de imposto de renda para o varejo. O foi aprovação na Câmara dos Deputados em dezembro.
E vale investir nessas empresas?
Não é recomendado investir nas Americanas. Em Magazine Luiza e Casas Bahia, só vale investir se a estratégia for de longo prazo. Até 2025, é esperado que tanto BHIA3, MGLU3 oscilem muito, com altas e quedas fortes.
Pelas estimativas do Itaú BBA, o preço atual de MGLU3, de R$ 2,28, pode passar para R$ 3 até o final do ano que vem. Isso representaria uma valorização de 31,6%. O BTG é mais positivo em relação ao potencial da ação e recomenda compra, com preço alvo de R$ 6 para o final do ano que vem.
O papel da Casas Bahia deve ter trajetória semelhante, de acordo com a XP. Ao longo de 2024, a ação poderá passar de R$ 0,52 para R$ 0,70, com um ganho potencial de 34,62%. O BTG, nesse caso, aposta num preço alvo de R$ 3.
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