Construtoras bombaram mais de 40% em 2023 na Bolsa: ainda vale investir?
No ano passado, das 25 ações do setor de construção civil da B3, 12 tiveram retorno acima de 50%. Cinco mais que dobraram de valor. No geral, o valor de mercado dessas companhias cresceu 64,6% em 2023, chegando a R$ 45,7 bilhões, conforme levantamento da consultoria Elos Ayta. O Ibovespa, no mesmo período, ficou em 22,3%. Até as 10 maiores empresas da Bolsa subiram mais de 40%.
Os juros em queda e o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) explicam essas altas. Com o início do ciclo de cortes na taxa Selic e o aumento da abrangência do MCMV, cujo limite de financiamento passou de R$ 264 mil para R$ 350 mil por pessoa, os investidores passaram a apostar nas maiores empresas desse setor. A ampliação do prazo de pagamento do financiamento da Caixa Econômica Federal, subiu 360 para 420 meses também ajudou.
Qual foi a maior valorização das 10 maiores empresas da Bolsa
- EzTec (EZTC3) 40,85%
- Direcional (DIRR3) 46,62%
- MRV (MRVE3) 47,76%
- Cury (CURY3) 52,98%
- Even (EVEN3) 91,88%
- Cyrela (CYRE3) 93,51%
- Lavvi (LAVV3) 102,99%
- Moura Dubeux (MDNE3) 129,43%
- Plano&plano (PLPL3) 201,35%
- Tenda (TEND3) 251,42%
Fonte: Elos Ayta / As dez maiores empresas de construção da Bolsa (em ordem de valor) e a variação de suas ações em 2023
Em geral, as empresas que mais subiram são as vinculadas ao segmento de menor renda. "Esse foi um dos setores da construção civil que mais foram afetados por causa da alta da taxa de juros", explica Bruno Corano, especialista em mercado financeiro.
Plano&plano, Tenda, Lavvi e Cury estão nesse conjunto. "Famílias que compraram imóveis na pandemia, com juros a 2% ao ano, não conseguiram continuar pagando a mensalidade quando o juro passou para mais de 13% ao ano. Aí, essas empresas sofreram muito", explica Fernando Bresciani, analista de investimentos do AndBank. Com o início dos cortes nos juros, tudo mudou.
Desde agosto, quando os juros começaram a cair, essas empresas foram as que mais ganharam valor, pois estavam com valores muito descontados na Bolsa.
E qual é a tendência para 2024?
O ano não começou bem para essas companhias. Das dez citadas, só duas estão com valorização positiva no acumulado de 2024: Plano & Plano, com 8,42% e Cury, com 2,56%, até o dia 26.
O que acontece é uma especulação sobre corte de juros nos EUA. O mercado, explica Bresciani, não está mais achando que os juros, nos Estados Unidos, começarão a sofrer cortes em março. "É muito cedo para cair em março. A economia americana ainda precisa entregar mais dados positivos para que o Federal Reserve, o banco central de lá, comece os ajustes", diz ele. É mais provável, segundo ele, que os cortes comecem em maio. Por isso, explica Daniel Alberini, diretor de gestão da CTM/TM3, neste começo de ano, as bolsas de países emergentes estão sofrendo uma fuga de investidores que ainda procuram a renda fixa, para aproveitar as taxas que ainda estão altas.
Se a trajetória de cortes de juros continuar, as empresas tendem a retomar a valorização, dizem os especialistas. "O consumo vai ser reaquecido, principalmente por causa do juros", diz Corano.
Se nada diferente do planejado acontecer- se a inflação não voltar, se nenhum conflito armado em alguma região do mundo desestabilizar as coisas - esse setor tem tudo para prosperar
Bruno Corano, especialista em mercado financeiro
Quais ações são bons investimentos?
Cyrela, Lavvi e Cury são boas alternativas, segundo Daniel Alberini. "Lavvi e Cury têm participação acionária da própria Cyrela", explica ele.
Para a XP, a ação da Cyrela tem potencial de valorização de 16,23%. O valor passaria de R$ 22,37 para R$ 26 até o fim do ano. Cury tem potencial de 13,21, o que faria a ação passar dos atuais R$ 18,55 para R$ 21. Lavvi é a com maior potencial de ganhos, de 24,5%, passando dos atuais R$ 7,55 para R$ 9,40.
O BTG recomenda compra de Tenda. Cotada atualmente na casa dos R$ 9, o banco calcula que o valor da ação pode chegar a R$ 10,14.
Em relação a MRV, o Itaú BBA recomenda compra e calcula que a ação, atualmente em R$ 7,90, pode chegar a R$ 12. O banco, entretanto, cortou as estimativas que fez para os ganhos da empresa. "Reduzimos nossas estimativas de lucro em 50% para 2024 e 40% para 2025", publicou o BBA num documento recente para investidores. O problema é a Resia, a incorporadora da MRV nos Estados Unidos. O BBA acredita que haverá um menor volume de vendas da Resia por conta de um ambiente ainda desafiador para habitação nos EUA. Além disso, diz o Itaú BBA, a MRV deve enfrentar maiores dificuldades relacionadas a despesas financeiras.
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