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Por que maior investidor dos EUA aplica metade do seu dinheiro na Apple

Quase metade dos US$ 367 bilhões em investimentos da Berkshire Hathaway, liderada pelo americano Warren Buffett, está investida em apenas uma ação: os papéis da Apple (AAPL34). A fatia é de 45,5% dos investimentos da Berkshire, o que torna a empresa dona de 5,9% da fabricante do iPhone.

A estratégia pode parecer contrária a uma das regras de ouro do mercado: não colocar todos os ovos numa cesta só. Ou seja, não apostar tudo - ou boa parte - do que você tem apenas em uma ação ou ativo.

Por que a aposta de Buffet na Apple é tão grande

O primeiro investimento da Berkshire na Apple foi em 2016. Na época, o maior investidor dos EUA comprou 9,8 milhões de ações da empresa, a um valor equivalente a US$ 23,90 cada papel (considerando todos os ajustes e desdobramentos da ação nesses anos). Os dados são da Elos Ayta. Naquele ano, a fortuna de Buffet era de US$ 66,5 bilhões, segundo a Forbes.

De lá para cá, as ações da Apple renderam 663%. Segundo a Elos Ayta, esse rendimento foi muito superior à média do mercado. No mesmo intervalo, o índice S&P 500, das 500 maiores empresas americanas, evoluiu 144%. O Nasdaq Composite, 215%.

Ou seja, Buffet aproveitou o momento comprando mais ações no decorrer dos anos, e se deu bem. "O que acontece é que ele comprou no passado. A ação se valorizou e passou a representar uma parcela muito grande de sua fortuna", explica William Castro Alves, economista e sócio da corretora digital Avenue.

Buffett investe em grandes marcas

Buffett é conhecido por investir em empresas com grandes marcas e conhecidas do público. Além de Apple, ele tem papéis do Bank of America (BoFa), American Express, Coca-Cola e da petroleira Chevron.

Mas a Apple é diferente. Seus computadores, telefones e outros equipamentos conquistam pelo design e facilidade de uso. Geralmente, quem compra Apple uma vez, não troca mais. A empresa sabe disso e por isso cobra esse preço do consumidor.

Um iPhone em 2016 custava, nos Estados Unidos, US$ 649. Hoje, é vendido por US$ 799. É uma alta expressiva - em dólares - de 23,11%. Em reais, a disparidade é maior ainda, segundo Alves, da Avenue. "Os valores passaram de R$ 2.214 para R$ 10.549", diz ele.

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Buffet admira essa valorização. Tanto que ele chegou a dizer, anos depois, dando a Apple como exemplo, que o principal indicador de um negócio de sucesso é sua capacidade de aumentar os preços e manter os consumidores comprando

Por que Buffett apostava na valorização da Apple?

A ação da Apple, na época em que Buffet fez sua primeira compra, estava barata. Os papéis estavam em baixa e haviam perdido quase um terço de seu valor nos primeiros meses de 2016, quando a empresa anunciou sua primeira queda trimestral nas vendas em 13 anos.

O "valuation" da ação estava em baixa. O "valuation" é uma fórmula para saber se uma ação está barata ou não. O cálculo divide o preço da ação pelo lucro por papel que a empresa tem. É o chamado Preço sobre Lucro, ou P/L. Quanto menor esse número, teoricamente mais barata está essa ação. No primeiro trimestre de 2016, a relação preço/lucro da Apple era de 10,6 vezes. Hoje, esse múltiplo está em 28,7 vezes - quase o triplo. O valor de mercado da Apple era de US$ 580 bilhões. Hoje é de US$ 2,8 trilhões.

Mas Buffett diz que estudou os números da empresa. Em 2015, um ano antes de Buffett comprar as ações pela primeira vez, a Apple relatou uma margem operacional de 30%, o que é bem alta e chamou atenção do investidor. A margem operacional é a porcentagem de lucro que uma empresa consegue a partir da receita bruta.

Então, Buffett não fez em momento algum uma aposta especulativa em uma empresa de tecnologia desconhecida. "O Buffet é conhecido pela sua estratégia de investimento de longo prazo (horizonte de ao menos dez anos). Ele prefere investir em negócios que acredita e entenda bem" diz Gustavo Zuquim, diretor de portfólio do Andbank.

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E vale a pena comprar agora?

Não, a ação está cara. A Apple continua com uma política de preços agressiva, como em 2016. Suas contas também estão em dia. Mas a diferença agora é que a ação está bem mais cara - ou mais exatamente, sete vezes mais cara que em 2016, com todos os ajustes.

Uma relação preço/lucro muito alta cria um grande obstáculo para produzir fortes retornos no futuro. Portanto, é melhor esperar por um ponto de entrada melhor. É o que diz Leonardo Piovesan, analista da Quantzed. "Tem ações mais baratas com maior potencial de ganhos", diz ele. Uma delas seria a Nvidia (NVDC34), de chips para Inteligência Artificial.

Além disso, a Apple não tem o mesmo potencial de crescimento que tinha antes. "A Apple certamente vive um dos momentos mais desafiadores da sua história. No último ano, enfrentou quedas na receita por alguns períodos, em grande parte devido a baixa na demanda Chinesa, que é aproximadamente 20% do seu faturamento", diz Zuquim.

Além disso, fica cada vez mais difícil vender iPhones. "A oferta acumulada já é tão grande, por isso a Apple vem diversificando sua receita, aumentando a participação dos acessórios (fones de ouvido e o óculos de realidade aumentada Vision Pro) e de serviços, como App Store (loja de aplicativos), iCloud e Apple TV, que além de tudo são receitas de maiores margens", diz o especialista do Andbank.

E tem também a multa da Comunidade Europeia. Apple é acusada de prejudicar concorrência no streaming de música e pode receber uma multa de aproximadamente US$ 540 milhões.

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Por tantos motivos, até Buffet andou vendendo ações. A Berkshire divulgou em 15 de fevereiro que vendeu 10 milhões de ações da Apple no quarto trimestre, mas ainda detinha no final do ano passado mais de 905 milhões de papéis da empresa avaliados em cerca de US$ 174 bilhões.

Neste ano, as ações estão em queda. Embora tenham valorizado 49,01% em 2023, desde janeiro os papéis da empresa da maçã acumulam baixa de 5,19%.

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