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Velho fantasma da dívida volta a assombrar a África

01/04/2015 11h20

Paris, 1 Abr 2016 (AFP) - A brutal queda da cotação das matérias-primas e o recurso crescente à emissão de títulos fizeram reaparecer na África o fantasma da dívida, que parecia longe de se aproximar novamente, depois das medidas de redução do déficit nos anos 2000.

"Trata-se claramente de um motivo de preocupação", afirmou Julien Marcilly, economista-chefe da asseguradora Coface.

"Temos que nos acertar para não voltar a cair na cilada da dívida", disse na semana passada em Abidjan, Costa do Marfim, o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, a um auditório repleto de líderes africanos.

Essa deterioração é ainda mais inesperada quando se leva em conta que 30 países africanos conseguiram reduzir a maior parte da sua dívida entre os anos 2000 e 2014 graças à iniciativa Países Pobres Muito Endividados (PPTE, na sigla em inglês), reduzindo sua dívida externa, de 119% do PIB para 33%, lembra um estudo publicado pelo Tesouro francês.

Liberados de boa parte de sua dívida, os Estados começaram a ter à sua disposição uma margem de manobra orçamentária mais ampla, o que permitiu acelerar um crescimento estimulado pelo aumento da cotação das matérias-primas.

Os países africanos se beneficiaram "por condições de financiamento incomumente favoráveis", lembrou recentemente a agência Standard and Poor's.

Em pouco tempo, no entanto, começaram a voltar a se endividar, desta vez nos mercados. Os credores não são mais países, que podem perdoar as dívidas com uma canetada, mas agentes privados reticentes em deixar passar as dívidas contraídas.

Alguns países regressaram aos velhos costumes, "voltando a se endividar em um ritmo sustentável", ressaltou o Tesouro francês, lembrando que 13 dos 30 países do PPTE "viram sua dívida crescer em 10 pontos do PIB nos últimos cinco anos".

Com um aumento de 25 pontos percentuais, Congo Brazzaville lidera o ranking, seguido por Níger (+23) e Malauí (+19).

Clima sombrio para as economias emergentesUm clima sombrio paira sobre as economias emergentes: depois da queda dos preços das matérias-primas, agora os países enfrentam a desaceleração de suas economias e a queda de suas moedas.

"A depreciação das moedas locais inflaram a dívida em moeda estrangeira em numerosos países", ressalta a S&P.

Apesar disso, os países africanos continuam sendo menos endividados do que muitos países ricos. "A dívida pública total da África chegava a 38% do PIB continental em 2014 em comparação aos 111% dos países da OCDE", lembra o secretário-executivo da comissão econômica da ONU sobre a África, Carlos Lopes. Mas "o ruim é que não leva em conta a volatilidade das taxas de câmbio".

"O endividamento vai se agravar nos países com um nível baixo de disciplina orçamentária e naqueles que se endividam excessivamente", adverte Lopes.

No final de 2015, sete países se encontravam em risco de endividamento elevado: Burundi, Camarões, Gana, Mauritânia, República Centro-africana, São Tomé e Príncipe e Chade, segundo Tesouro francês, apesar de se acreditar que no caso da maioria dos países africanos que se beneficiaram do TTPP, "não se deve temer um super endividamento a curto prazo".

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