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Recessão derruba ministro da economia na Argentina

26/12/2016 18h18

Buenos Aires, 26 dez 2016 (AFP) - O presidente argentino, Mauricio Macri, provocou um terremoto político ao demitir o ministro da Fazenda, Alfonso Prat-Gay, em meio a uma recessão econômica e a reformas impopulares em seu primeiro ano de governo.

"O presidente pediu a renúncia (a Prat Gay). É um tema de divergências políticas", anunciou o chefe de Gabinete, Marcos Peña, em uma surpreendente coletiva de prensa.

A queda do maior responsável pela política econômica de Macri ocorreu também diante de uma reforma, na qual a pasta foi dividida em duas partes ao nomear os economistas liberais Luis Caputo (Finanças) e Nicolás Dujovne (Fazenda).

A economia mantém acumulada uma dívida de 2,4% até o momento. A recessão começou com a desvalorização de 32% disposta por Macri ao assumir em dezembro de 2015 e se aprofundou com uma inflação anual de mais de 40%, com forte queda do poder aquisitivo dos salários e do consumo, segundo consultorias econômicas.

Macri está de férias na paradisíaca cidade de Villa La Angostura, no sudoeste do país, na região dos lagos andinos. Peña elogiou Caputo por ser o funcionário que até agora comandava o setor do governo dedicado ao financiamento público.

Sete em cada dez argentinos acham que Macri "governa para os ricos", segundo um pesquisa da consultoria CEOP, do sociólogo Roberto Bacman.

Macri reduziu os impostos a grandes produtores do campo e de mineração, enquanto aumentou a pressão tributária sobre setores médios e assalariados, inclusive com um 'tarifaço' nos preços de energia. Além disso, estabeleceu um teto nos reajustes de salários, que perderam poder frente a uma elevada inflação. Reduziu também o orçamento de ciência e tecnologia.

EndividamentoPrat-Gay divergia com o titular do Banco Central argentino, Adolfo Sturzenegger, a quem pedia uma redução da taxa de juros de 25% para reativar a economia. Mas Sturzenegger a manteve alta, como uma estratégia de combate à inflação.

A missão de Caputo será "conseguir financiamento", disse Peña. Caputo teve um papel crucial nas negociações para por fim ao esgotador conflito judicial com credores ultra especulativos ("fundos abutres").

A Argentina voltou ao mercado financeiro mundial, deixando para trás a política estatista e de desendividamento do governo de centro-esquerda de Cristina Kirchner (2007-2015). "Caputo vem manejando muito bem o tema das finanças", elogiou Peña.

A Argentina foi líder em captação de fundos este ano, somando quase 50 bilhões de dólares à sua dívida pública, fazendo-a saltar de 42% para 53% do Produto Interno Bruto.

Regresso ao FMIDujovne foi economista-chefe do privado Banco Galicia (capitais locais) e consultor do Banco Mundial. "É muito valioso por sua experiência", apresentou Peña.

O então ministro de Fazenda também discordava da política de choque do governo com o 'tarifaço', que motivou protestos de rua e uma onda de processos judiciais.

Em um informe recente, ele disse que a Argentina poderia pedir empréstimos ao Fundo Monetário Internacional (FMI), caso as taxas de juros subam muito após a posse de Donald Trump nos Estados Unidos.

O FMI elogiou as reformas de Macri em favor dos mercados.

Quase nenhum setor da economia se salvou da crise em 2016, salvo entidades financeiras, exportadores agrícolas e empresas mineradoras.

A indústria registrou uma queda anual de mais de 5%. A câmara de comerciantes informou o fechamento de mais de 6.000 estabelecimentos. Organizações de pequenos e médios empresários indicam que essas quebras castigaram mais de 2.000 de seus afiliados.

As demissões em setores públicos e privados somam 200.000, segundo a consultoria CEPA.