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Após euforia de recuperação, economia mundial teme nova desaceleração

Os Estados Unidos já deixaram para trás as marcas de sua pior recessão desde a Grande Depressão dos anos 1930  - Lee Jae-Won/Reuters
Os Estados Unidos já deixaram para trás as marcas de sua pior recessão desde a Grande Depressão dos anos 1930 Imagem: Lee Jae-Won/Reuters

Da AFP

28/12/2021 07h22Atualizada em 28/12/2021 08h18

Depois do cataclismo econômico de 2020, a recuperação da economia mundial tem sido vigorosa, mas a escassez de produtos essenciais, a inflação e a situação sanitária provocada pela covid trazem à tona os temores de uma desaceleração em 2022.

Da China aos Estados Unidos, da Europa à África, a pandemia paralisou as economias do mundo de maneira quase simultânea em março de 2020.

Dois anos e 5,3 milhões de mortes depois, a recuperação acontece de forma mais dispersa.

Os países ricos se beneficiaram do acesso privilegiado às vacinas: os Estados Unidos já deixaram para trás as marcas de sua pior recessão desde a Grande Depressão dos anos 1930 e a zona do euro poderia ter feito o mesmo no fim do ano.

Mas a variante ômicron e as restrições provocadas terão um impacto em vários setores, como transporte aéreo, gastronomia e turismo.

"A luta contra o vírus ainda está longe de ser vencida", destacam os analistas do banco britânico HSBC, que consideram a economia ainda "longe da normalidade".

Ao mesmo tempo, os países pobres não têm vacinas suficientes. Na África subsaariana, condenada segundo o FMI a uma recuperação mais lenta, menos de 4% da população está vacinada em países como Camarões, Etiópia ou Uganda, afirma a Universidade Johns Hopkins.

Inclusive na China, a locomotiva do crescimento mundial, a recuperação está desacelerando à medida que se acumulam os riscos, advertiu recentemente o FMI.

Na potência asiática, o consumo luta para voltar aos níveis anteriores à pandemia, há temores pelas dificuldades da incorporadora Evergrande e os cortes de energia elétrica prejudicam a atividade empresarial.

Inflação e escassez

"A maior surpresa de 2021 foi o aumento da inflação", escrevem os analistas do Goldman Sachs em suas previsões para 2022.

O aumento dos preços foi impulsionado pela desorganização das cadeias de suprimentos e pela escassez de produtos essenciais para o comércio internacional, como os semicondutores, uma consequência da explosão da demanda durante e depois da crise.

Mas também pelo desânimo de muitos atores do comércio mundial, como estivadores nos portos, caminhoneiros e caixas de supermercados que não voltaram ao trabalho após os confinamentos e provocaram escassez de mão de obra.

A inflação também se explica pelo aumento do preço das matérias-primas (madeira, cobre, aço) e da energia (gasolina, gás, eletricidade).

Considerada "temporária" por muito tempo pelos principais bancos centrais, a alta dos preços foi finalmente reconhecida como algo menos passageiro pelo Tesouro dos Estados Unidos, que vai acelerar a alta das taxas de juros no próximo ano, mesmo com o risco de frear o crescimento.

"A questão é se realmente saímos da crise", disse à AFP Roel Beetsma, professor de economia da Universidade de Amsterdã.

Por ora, o FMI continua esperando um crescimento mundial de 4,9% para o próximo ano.

A questão climática

O equilíbrio entre crescimento econômico e clima está cada vez mais longe de ser alcançado, como mostraram as conclusões da COP26.

O acordo alcançado na conferência pede aos Estados que aumentem seus compromissos de redução das emissões de gases do efeito estufa a partir de 2022, mas não coloca o planeta no caminho para limitar o aquecimento a "bem abaixo" de 2 °C, como se estabeleceu no Acordo de Paris em 2015.

"Pensar no curto prazo é um fenômeno comum, especialmente entre os políticos", lamenta Roel Beetsma, que defende um imposto sobre o carbono que seja uniforme em todas as indústrias e com poder suficiente de dissuasão, o que está longe de ser o caso na atualidade.

A mudança climática e as catástrofes naturais associadas também poderiam afetar o custo dos alimentos.

Os preços mundiais já estão perto do recorde de 2011, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

O trigo subiu quase 40% em um ano, os produtos lácteos 15% e os óleos vegetais estão batendo recordes.