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Recusa da OPEP em ceder ao xisto dos EUA dá início a uma nova era do petróleo

Nayla Razzouk e Maher Chmaytelli

28/11/2014 15h31

28 de novembro (Bloomberg) ? A decisão da OPEP de não ceder território aos produtores rivais colocou mais ênfase na guerra de preços do mercado do petróleo bruto e no desafio para os perfuradores de xisto dos EUA.

O grupo de 12 países abandonou seu papel como produtor estabilizador, ignorando a maior depressão dos preços do petróleo desde a recessão mundial para não alterar sua meta de produção. A decisão tomada ontem em Viena afundou os futuros para seu menor nível desde 2010, patamar que acarreta possíveis perdas para alguns produtores de xisto.

"Estamos entrando em uma nova era para os preços do petróleo, em que o próprio mercado vai administrar a oferta, não mais a Arábia Saudita ou a OPEP", disse Mike Wittner, diretor de pesquisa sobre petróleo da Société Générale SA em Nova York. "É algo enorme. Este é um sinal de que eles estão entregando os pontos. Os mercados mudaram e vão continuar mudando por muitos anos".

O boom do fracking levou a produção dos EUA para seu máximo em três décadas, contribuindo para um excedente mundial estimado ontem pela Venezuela em 2 milhões de barris por dia. A cifra equivale ou supera a produção de cinco países-membros da OPEP. A demanda pelo petróleo bruto do grupo cairá a cada ano até 2017 à medida que a oferta dos EUA se expandir, o que corroerá sua participação no mercado mundial para o mínimo em mais de um quarto de século, segundo as próprias estimativas do grupo.

O petróleo bruto Brent de referência sofreu a maior queda em mais de três anos após a decisão da OPEP. Os futuros para janeiro recuaram 6,7 por cento, para US$ 72,58, ontem em Londres após operarem por apenas US$ 71,25. O pico dos preços neste ano foi de US$ 115,71, em junho.

Sinais do mercado

"Produziremos 30 milhões de barris por dia durante os próximos seis meses e observaremos como o mercado se comporta", disse o secretário-geral da OPEP, Abdallah El-Badri, aos jornalistas em Viena após a reunião. "Não estamos enviando sinais a ninguém, só estamos tentando ter um preço justo".

A OPEP também sentirá a pressão, pois os preços agora estão abaixo do nível necessário para que os nove países-membros equilibrem seus orçamentos, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A renda obtida pela Venezuela com petróleo caiu 35 por cento, disse o presidente Nicolás Maduro pela televisão estatal em 19 de novembro. Os yields dos seus bonds de referência com vencimento em 2027 alcançaram seu máximo em seis anos neste mês, ao passo que as reservas em moeda estrangeira estão beirando seu mínimo em onze anos.

A Nigéria aumentou as taxas de juros pela primeira vez em três anos no dia 26 de novembro e desvalorizou sua moeda. O governo está planejando reduzir em 6 por cento seus gastos no ano que vem, disse a ministra das Finanças Ngozi Okonjo-Iweala no dia 16 de novembro.

Crash do xisto

A produção de petróleo dos EUA aumentou para 9,077 milhões de barris por dia na semana passada, o maior patamar em dados semanais da Secretaria de Informações sobre Energia, que começam em 1983. A produção chegará a 9,4 milhões no ano que vem, o máximo desde 1972, prognosticou a secretaria.

O boom foi conduzido por uma combinação entre perfuração horizontal e fraturamento hidráulico que liberou reservas de formações de xisto, entre elas a Bakken, na Dakota do Norte, e a Eagle Ford, no Texas. Normalmente, a técnica é mais cara do que a extração em reservatórios convencionais.

Somente cerca de 4 por cento da produção de xisto dos EUA precisa do preço de US$ 80 ou mais para ser lucrativa, diz a Agência Internacional de Energia, com sede em Paris. A maior parte da produção na formação Bakken, uma das maiores impulsionadoras da produção de petróleo de xisto, continua sendo lucrativa a US$ 42 por barril ou menos, diz a AIE. A agência espera que a oferta dos EUA aumente em quase 1 milhão de barris diários no ano que vem, com maiores fluxos para os mercados internacionais.

"A decisão da OPEP implica que agora depende dos EUA", escreveu por e-mail Miswin Mahesh, analista de commodities do Barclays Plc em Londres. "Isso abre as portas para que os EUA se tornem o novo produtor estabilizador".

Título em inglês: 'Oil in New Era as OPEC Refuses to Yield to U.S. Shale: Energy'

Para entrar em contato com o repórter: James Herron, em Londres, jherron9@bloomberg.net