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Colecionadores americanos ricos veem Cuba como novo e promissor mercado de arte

Mary Romano e James Tarmy

22/12/2014 17h02

22 de dezembro (Bloomberg) -- Ron Pizzuti, incorporador do estado americano de Ohio, pode não esperar até maio, quando será realizada a bienal de arte, para fazer a sua próxima viagem a Cuba. Uma visita rápida para "reconhecimento de terreno" antes da chegada de uma multidão faminta pode valer a pena, disse ele.

Pizzuti, 74, possui cerca de 100 trabalhos de arte cubanos e no ano passado abriu um museu privado em Columbus com uma mostra inaugural dedicada a artistas do país comunista. Ele pagou US$ 5.000 a US$ 200.000 nos últimos seis anos por trabalhos de artistas como Enrique Martínez Celaya.

"Eu prevejo um aumento nos preços à medida que os artistas ganharem mais exposição", disse Pizzuti. Ele e sua esposa Ann construíram uma coleção de 2.000 trabalhos contemporâneos ao longo de 40 anos. "Isso é bom para eles, só não é bom para mim. Mas é inevitável quando um novo mercado se abre".

Com a notícia de que os EUA estabelecerão laços diplomáticos e flexibilizarão as barreiras econômicas aplicadas a Cuba, o mundo da arte está olhando para Cuba, situada a 145 quilômetros da costa da Flórida, como um mercado novo e promissor. A expansão da riqueza privada ampliou o número de colecionadores que, por sua vez, impulsionaram os preços no mercado de arte. Em duas semanas de leilões em Nova York, no mês passado, foram vendidos recordes US$ 2,3 bilhões em arte.

O descongelamento das relações "terá um enorme impacto porque Cuba era um mercado limitado em termos de quem via arte nas galerias de Chelsea e Miami", disse Alberto Magnan, cubano de nascimento fundador e coproprietário da Magnan Metz, uma galeria no bairro de Chelsea, em Manhattan. "Esse número agora se tornará enorme".

Viagens mais fáceis

Com a mudança política surpresa do presidente Barack Obama, permitindo que as empresas americanas façam negócios em Cuba após um embargo de mais de 50 nos, as restrições de viagens serão flexibilizadas e as instituições financeiras dos EUA poderão abrir contas em bancos cubanos. Os turistas americanos terão permissão de levar para casa até US$ 100 em charutos cubanos.

Os americanos têm conseguido contornar o embargo americano e levar trabalhos artísticos para casa legalmente porque esses itens são classificados como bens culturais. Os colecionadores americanos viajavam ao país em turnês educativas ou humanitárias. Eles também encontravam curadores ou marchands de galerias que recebiam licenças de viagem da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro dos EUA.

Cuba deve se preparar para o afluxo de colecionadores, disse Magnan, que durante anos levou americanos a Havana para buscar e comprar pinturas e esculturas. Magnan disse ter recebido pelo menos 25 telefonemas de colecionadores nas 24 horas seguintes ao anúncio de Obama do dia 17 de dezembro. A meta deles é adquirir trabalhos de artistas emergentes antes que eles sejam descobertos e que seus preços subam.

"Eles querem ir a Cuba antes de as coisas mudarem mais", disse Magnan, que representa artistas cubanos como Alexandre Arrechea, Roberto Diago e Glenda León. "Por isso, eu praticamente ficarei em Havana nos próximos 12 meses".

Bienal de Havana

A Bienal de Havana, que tem mais de 30 anos, atrairá colecionares e outros visitantes quando for aberta, no dia 22 de maio. Pizzuti disse que pretende estar lá. Em sua primeira viagem a Cuba, seis anos atrás, ele comprou um trabalho de arte feito de anzóis, de Yoan Capote, uma hora após sua chegada.

"Há uma quantidade enorme de talento", disse Pizzuti, cujo museu está planejando outra mostra cubana para julho do ano que vem.

A arte cubana está subavaliada, disse Kaeli Deane, especialista em arte latino-americana da casa de leilões Phillips, em Nova York. Uma venda de arte latino-americana em novembro de 2013, na Phillips, incluiu uma seção especial dedicada a artistas cubanos vivos. Avaliados entre US$ 2.300 e US$ 25.000, todos os lotes foram vendidos.

Os preços já estão subindo. A Sotheby's vendeu um trabalho abstrato de 1944 de Wifredo Lam, que morreu em 1982, por US$ 4,6 milhões em 2012, um recorde em leilões do artista, de acordo com a empresa de pesquisas Artnet, com sede em Nova York. Lam é o artista cubano mais vendido em leilões nos últimos 10 anos, com seis de seus trabalhos no top 10 da categoria, segundo a Artnet.

Os artistas que moram em Cuba têm permissão legal para vender seus trabalhos internacionalmente e especialistas de mercado disseram que a implementação de uma melhoria nos serviços como métodos de pagamentos e entrega dos trabalhos levará tempo.

Liz Klein, conselheira de arte da Reiss Klein Partners, em Nova York, que visitou Havana na companhia de colecionadores e curadores do Museu de Belas Artes de Boston e se reuniu com artistas durante cinco dias em 2012, disse que qualquer interessado em Cuba deveria visitar o país logo.

"Quando o país realmente se abrir, o cenário mudar e os dólares ocidentais arrumarem as coisas, vai ser preocupante a velocidade com que o charme se perderá", disse ela.

Título em inglês: Wealthy U.S. Collectors Look to Cuba as Next Hot Market for Art

Para entrar em contato com os repórteres: Mary Romano, em Nova York, mromano6@bloomberg.net; James Tarmy, em Nova York, jtarmy@bloomberg.net.