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Contrabandistas lançam tábua de salvação para grupo cada vez menor de cafeicultores da Venezuela

Andrew Willis e Anatoly Kurmanaev

30/01/2015 16h19

(Bloomberg) -- Em um momento em que os venezuelanos não conseguem encontrar o café de seu país nos supermercados, os produtores rurais do país, em dificuldades, estão recorrendo a uma fonte de alívio improvável: a Colômbia, um dos mercados mais competitivos do mundo.

Atingidos pela escassez de fertilizante e forçados a vender a preços abaixo do custo de produção, os produtores rurais da região cafeeira do oeste da Venezuela estão vendendo sua produção ilegalmente para intermediários que, depois, a transportam pela fronteira colombiana, segundo os produtores.

"Nos últimos tempos, as pessoas vêm optando por vender para intermediários, porque eles pagam mais do que o preço estabelecido", disse Fermín Azuaje, cafeicultor de pequeno porte do estado venezuelano de Portuguesa. "Por que eles estão pagando esse preço? Porque eles estão vendendo em outra parte".

Os controles de preço e o colapso da receita com o petróleo estão tornando mais difícil para os venezuelanos, neste ano, a compra de produtos básicos, criando uma nova crise para o governo do presidente Nicolás Maduro. Os moradores de Caracas formam fila por horas do lado de fora dos supermercados para comprar café moído subsidiado, a maior parte dele importado.

A produção nacional de café da Venezuela caiu mais de 70 por cento desde 1998, quando o falecido Hugo Chávez foi eleito presidente, segundo a Federação Nacional de Cafeicultores venezuelanos, conhecida como Fedecave.

Os intermediários pagam aos agricultores 130 bolívares (US$ 0,70, pela taxa de câmbio do mercado paralelo) por um quilo de café, aproximadamente um terço a mais do que o preço fixado pelo governo, disse Azuaje, em entrevista concedida no dia 11 de janeiro em sua casa em Biscucuy, capital da maior municipalidade produtora de café da Venezuela. O café, então, é transportado por caminhão até cidades fronteiriças como San Antonio del Táchira, onde é vendido a colombianos por 220 a 280 bolívares o quilo, disse ele.

Papel fundamental

Os produtores que recebem subsídios estatais não têm permissão para vender seu café fora da Venezuela. Em uma tentativa de acabar com o contrabando, um decreto do governo publicado no dia 8 de dezembro proibiu o transporte de café para três estados venezuelanos que fazem fronteira com a Colômbia. O café só pode ser vendido a organizações controladas pelo Estado, segundo o decreto.

"Eles proibiram os intermediários que realizam um serviço importante", disse o coordenador nacional da Fedecave, Maximiliano Pérez. "Eles compram café de pequenos produtores que frequentemente não podem entregá-lo aos centros de distribuição".

A federação de produtores de café da Colômbia preferiu não comentar os relatos de contrabando de café para o país. A agência aduaneira do país não respondeu a um e-mail em busca de comentário.

Moradores da cidade

O consumo anual de café da Venezuela é de aproximadamente 1,3 milhão de quintais, uma medida equivalente a 46 quilos. Pérez disse que 1 milhão de quintais desse total será importada em 2015 de países como Brasil e Nicarágua. Essa situação contrasta com a de 1998, quando a Venezuela cobria o consumo nacional e exportava 600.000 quintais, disse ele.

Forçados a vender seu café abaixo do custo de produção e confrontados pela escassez de fertilizantes, inseticidas e sementes, muitos produtores rurais venezuelanos migraram para o negócio de criação de gado ou deixaram a vida rural para ir morar nas cidades.

"Antes, o contrabando de café era feito da Colômbia para a Venezuela", disse Pérez. "Agora é ao contrário, porque estamos em uma situação pior".

Título em inglês: Smugglers Toss Lifeline to Venezuela's Vanishing Coffee Farmers

Para entrar em contato com os repórteres: Andrew Willis, em Bogotá, awillis21@bloomberg.net; Anatoly Kurmanaev, em Caracas, akurmanaev1@bloomberg.net.