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França mantém BCE em suspenso nos últimos meses do presidente de Banco da França na chefia

Mark Deen

02/03/2015 15h38

(Bloomberg) - Quando Christian Noyer se aposentar do Banco da França, as repercussões poderiam ir bem além da instituição.

A iminente saída de Noyer, um dos membros originais do Conselho do Banco Central Europeu 17 anos atrás, pressagia uma reforma maior no BCE caso o membro da Comissão Executiva Benoît Cœuré siga seus passos e o substitua em Paris.

Cœuré é o diretivo mais próximo do presidente do BCE, Mario Draghi, com uma carteira que inclui a implementação da flexibilização quantitativa e o tratamento da maior dor de cabeça da região: a Grécia. Uma mudança para o banco central nacional é considerada tão provável pelos economistas que a especulação se concentra em quem será nomeado pelo presidente da França, François Hollande, para substituí-lo na Comissão Executiva.

"Como o debate dentro do BCE está se tornando cada vez mais político, a França tem que enviar suas mentes mais capazes para Frankfurt", disse Ludovic Subran, economista-chefe da Euler Hermes em Paris. "Hollande precisa propor alguém com habilidades técnicas impecáveis e uma excelente capacidade de comunicação".

Laurence Boone, assessora econômica de Hollande desde o ano passado, e Claire Waysand, chefe de gabinete do ministro das Finanças, Michel Sapin, são dois dos nomes discutidos para o cargo, segundo duas fontes do setor que falaram sob condição de anonimato.

Apesar de que a França não tem uma bancada garantida, o país sempre teve um dos seus cidadãos na Comissão Executiva. Noyer foi vice-presidente do BCE quando o banco central começou a funcionar em 1998, antes de se transformar em presidente do Banco da França em 2003.

Idade de aposentadoria

Ele chegará ao limite de idade de aposentadoria para os servidores públicos franceses em outubro, quando completará 65 anos, e precisaria de uma isenção especial para permanecer no cargo. Considerando o tempo necessário para que o Parlamento Europeu avalie e apoie novos membros para a comissão do BCE, o momento para que o presidente francês decida o que fazer está chegando.

Os governos europeus têm sido pressionados para colocar mais mulheres em posições sênior no BCE desde que a nomeação de Yves Mersch para a comissão foi protelada durante meses em 2012 devido às preocupações do parlamento com o Conselho do BCE, composto inteiramente por homens.

Entre os atuais 25 membros do Conselho - a soma dos 19 presidentes dos bancos centrais nacionais e os seis membros da Comissão Executiva - há apenas duas mulheres: a membro da comissão Sabine Lautenschläger e a presidente do Banco Central do Chipre, Chrystalla Georghadji.

Candidatos

Embora Waysand e Boone estejam atualmente no foco das considerações da França, o conjunto de candidatos possíveis inclui Robert Ophèle e Anne Le Lorier, dois vice-presidentes do banco central do país. Normalmente, os membros da Comissão Executiva do BCE vêm de bancos centrais nacionais. Também foi mencionado o ex-diretor do Tesouro da França, Ramon Fernandez.

Hollande também deve definir de que forma sua escolha poderia alterar o equilíbrio na criação de políticas econômicas. Tanto Noyer quanto Cœuré apoiaram a campanha de Draghi para criar um programa de compras de bonds em grande escala a fim de combater a deflação diante da oposição de uma minoria liderada pelos alemães.

Waysand, 45, quem passou sua carreira na burocracia francesa, oferece a Hollande a opção de manter essa tradição. Ela entrou no Tesouro em 1997 e trabalhou no FMI durante três anos, de 2009 a fevereiro de 2012, quando foi nomeada vice-diretora do Tesouro. Ela manteve o cargo durante pouco mais de um ano, antes de passar para a secretaria do primeiro-ministro e depois voltar para o Ministério das Finanças como chefe de gabinete de Sapin em abril de 2014.

Escolher Boone, 45, ex-economista-chefe do Bank of America Merrill Lynch e do Barclays Plc para a Europa, quebraria o molde francês e introduziria uma prática mais tipicamente britânica e americana de procurar talentos externos. Sua experiência no setor privado e seu instinto para antecipar as reações do mercado poderiam ser um ativo valioso para o BCE.

"A experiência conta muitíssimo na política monetária", disse o ex-presidente do BCE Jean-Claude Trichet em uma entrevista em dezembro. O BCE precisa de "pessoas que entendam muito bem como o mundo funciona".

Título em inglês: 'France Holds ECB in Suspense as Noyer Era Reaches Final Months'

Para entrar em contato com o repórter:

Mark Deen, em Paris, markdeen@bloomberg.net