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Hedge funds apostam em mais perdas para colheitas ante aumento da oferta

Debarati Roy

27/04/2015 15h08

(Bloomberg) -- Como as condições de plantio estão melhorando no Centro-Oeste dos EUA, os hedge funds estão apostando que as colheitas deste ano vão acumular um excedente global e aumentar as perdas nos preços de milho, soja e trigo.

A sementeira de milho já está mais avançada do que o ritmo do ano passado, e as chuvas recentes que impediram a semear em algumas áreas mudarão para condições mais secas nesta semana, de acordo com a MDA Weather Services. Nas Grandes Planícies, as condições de trigo de inverno são melhores do que em 2014. Colheitas recorde na Argentina e no Brasil estão se somando aos suprimentos de soja, e estima-se que os produtores norte-americanos plantarão a maior quantidade de acres no próximo mês.

Colheitas generosas significam que os investidores vão se afastar e que os administradores de recursos manterão uma posição líquida curta nas três colheitas por oito semanas consecutivas, de acordo com dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC). É o período mais longo desde 2013. Os excedentes levaram os custos internacionais de alimentos aos níveis mais baixos desde 2010, e à redução das despesas para a produtora de carne Tyson Foods Inc. e para a fabricante de etanol Archer-Daniels-Midlands Co.

"Há um forte excedente no estoque nos EUA e, ainda mais, mundialmente", disse Gillian Rutherford, que ajuda a administrar US$ 20 bilhões como gerente de portfólio de commodities na Pacific Investment Management Co. em Newport Beach, Califórnia, em entrevista por telefone, no dia 23 de abril. "É difícil ver as vantagens dos níveis atuais".

Baixistas dos grãos

As posições combinadas para as três colheitas foram uma posse líquida baixista de 209.427 contratos futuros e de opções até 21 de abril, mostram dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA publicados três dias depois. A aposta de curto prazo no trigo é a maior desde que os dados começaram a ser publicados em 2006.

Cultivadores de milho dos EUA, o maior produtor do mundo, colheram safras recorde em duas temporadas consecutivas, o que encheu os silos e provocou uma queda de mais de 28 por cento do preço nos últimos 12 meses, que chegou a US$ 3,6775 o bushel em Chicago. O Conselho Internacional dos Cereais aumentou na semana passada sua estimativa para a próxima colheita global em 1,1 por cento em relação à previsão de março.

Produtores do Canadá

Produtores de trigo do Canadá, o maior exportador depois dos EUA, planejam aumentar as plantações em cerca de 4 por cento nesta temporada, anunciou o governo na semana passada. Os administradores de recursos aumentaram sua posição de curto prazo e chegaram ao recorde de 96.624 contratos em comparação com os 82.122 na semana anterior, mostram os dados da CFTC.

Embora os especuladores estejam apostando no declínio do preço do milho, do trigo e da soja, eles diminuíram sua posição baixista nos óleos vegetais. A posição líquida curta caiu de 81.716 contratos para 47.505 em uma semana.

O processamento de soja nos EUA vai aumentar 3,5 por cento neste ano à medida que os trituradores transformando a oleaginosa em ração animal e biocombustível, mostram os dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A demanda por exportações norte-americanas vai aumentar 8,7 por cento, prevê a agência. Na China, o maior importador, a demanda vai bater recordes, mostram dados do USDA. O consumo de milho e trigo do país também vai aumentar.

'Lado da demanda'

"Há muito foco no fornecimento, mas as pessoas não deveriam esquecer o lado da demanda", disse Sameer Samana, estrategista internacional do Wells Fargo Investiment Institute, em St. Louis, que gerencia US$ 1,6 trilhão, em entrevista por telefone, no dia 23 de abril. "Podemos chegar a uma situação em que qualquer deficiência no fornecimento, seja por mau tempo ou porque os fazendeiros plantem menos acres, poderia levar a uma recuperação nos preços dos grãos".

A produção de trigo na Índia poderia cair para o pior nível em 12 anos, pois fortes chuvas e granizo assolaram as fazendas, de acordo com a ITC Ltd., fabricante de biscoitos e farinha. Nos EUA, as condições de secas moderadas a extremas se expandiram desde o ano passado nas Planícies Altas.

As reservas internacionais de soja antes da colheita deste ano no Hemisfério Norte chegarão ao recorde de 89,55 milhões de toneladas, de acordo com o USDA. O órgão disse que as reservas internacionais de milho vão crescer 10 por cento em relação ao ano anterior, ao passo que os estoques de trigo vão aumentar 5,7 por cento.

"Trata-se de uma história positiva de oferta para muitas das commodities, e isso se aplica ao mercado de grãos", disse Rob Haworth, estrategista sênior de investimentos do U.S. Bank Wealth Management em Seattle, que administra US$ 126 bilhões, em entrevista por telefone, no dia 23 de abril. "Podemos observar certa volatilidade, mas os preços vão continuar neutros ou diminuir".

Título em inglês: 'Hedge Funds Betting on More Losses for Crops as Supplies Swell'

Para entrar em contato com o repórter: Debarati Roy, em Nova York, droy5@bloomberg.net