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Saída do Reino Unido da União Europeia prejudicaria principalmente fabricantes de veículos alemãs

Elisabeth Behrmann e Brian Parkin

29/05/2015 14h55

(Bloomberg) -- Meses ou anos antes de os eleitores britânicos lançarem os dados a respeito do futuro de seu país na União Europeia, as empresas alemãs estão começando a contabilizar o custo de uma possível saída. Fabricantes de veículos como a BMW AG podem ser as que mais têm a perder.

Em um encontro com a chanceler Angela Merkel para um almoço em Berlim, na sexta-feira, no final de uma viagem por quatro países europeus, o primeiro-ministro britânico David Cameron salientou as mudanças que ele vem buscando na relação da Grã-Bretanha com a UE, as mesmas que já havia adiantado aos líderes dos Países Baixos, da França e da Polônia. A legislação para permitir a realização de um referendo no Reino Unido no final de 2017, após uma renegociação dos termos de adesão à UE, recebeu prioridade em seu programa de governo, anunciado na quarta-feira.

O Reino Unido é o parceiro comercial mais importante da Alemanha na Europa, com um superávit de 42 bilhões de euros (US$ 46 bilhões) em 2014, atrás apenas dos EUA no mundo, segundo o Departamento Federal de Estatísticas do país, em Wiesbaden. Cerca de um quinto de todos os carros produzidos na maior economia da Europa, um total avaliado em quase 18 bilhões de euros, foi destinado a motoristas britânicos no ano passado, transformando o país no principal destino de exportações em volume da indústria automotiva da Alemanha desde 2001, segundo dados da VDA, a associação local de fabricantes de veículos.

'Totalmente imprevisível'

"O exemplo da indústria automotiva alemã ressalta a total imprevisibilidade e as consequências arriscadas de uma possível saída do Reino Unido da União Europea para a economia britânica e a alemã", disse Joachim Pfeiffer, porta-voz principal de políticas econômicas da União Democrata-Cristã, o partido de Merkel, no Parlamento, por telefone. "Se o Reino Unido saísse, isso significaria a perda de uma economia grande, liberal, orientada ao mercado, de pensamento semelhante ao nosso e localizada no coração da Europa".

Uma saída britânica da UE lança dúvidas sobre se as empresas alemãs não acabariam tendo mais dificuldades para vender produtos ao Reino Unido. Expressando suas "claras esperanças" de que o Reino Unido continue fazendo parte do bloco, Merkel disse que havia áreas de "preocupação" nas demandas de Cameron por mudanças, em comentários a repórteres após a reunião. Os pontos de divergência vão desde o veto do Reino Unido a regras da UE até o impedimento aos pagamentos de benefícios para imigrantes.

"Onde há vontade, há um caminho -- é o que a Europa nos prova constantemente --", disse Merkel. "Nós queremos seguir em frente, agora, respeitando esse princípio".

Não é só a Alemanha que pode sair perdendo, segundo um estudo da Bertelsmann Foundation, de 27 de abril. Enquanto uma possível saída do Reino Unido pode reduzir em cerca de 2 por cento as exportações alemãs de carros para a Grã-Bretanha até 2030, ela também pode implicar em 300 bilhões de euros em crescimento econômico perdido no mesmo período para o Reino Unido, segundo as conclusões da Bertelsmann.

UE é crucial

O acesso ao mercado comum da UE, com seus 500 milhões de clientes, tem sido crucial para as pequenas e médias empresas britânicas, segundo John Cridland, diretor da Confederação da Indústria Britânica, em um artigo de opinião publicado no site do órgão na terça-feira.

"É um benefício para o Reino Unido continuar sendo um membro ativo e influente da UE", disse Peter Schwarzenbauer, membro do conselho da BMW responsável pelas marcas Mini, Motorcycles e Rolls Royce. "O Reino Unido cumpre um papel crucial na rede de produção do grupo BMW e é o nosso quarto maior mercado em nível mundial".

Merkel e a Comissão Europeia precisam "fazer todo o possível para manter a Grã-Bretanha" na UE, disse Matthias Wissmann, presidente da VDA.

Título em inglês: Germany Counting U.K. Exit Cost Shows Autos May Lose Most

Para entrar em contato com os repórteres: Elisabeth Behrmann, em Munique, ebehrmann1@bloomberg.net; Brian Parkin, em Berlim, bparkin@bloomberg.net.