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Enigma de um milhão de barris do Irã gera disputa dentro da OPEP

Anthony DiPaola e Grant Smith

03/06/2015 13h02

(Bloomberg) - Justo quando parecia que a OPEP estava vencendo a guerra contra os perfuradores de petróleo de xisto dos EUA, uma nova frente de batalha está se abrindo dentro de suas próprias filas.

A cúpula da Organização de Países Exportadores de Petróleo para determinar a produção do grupo, marcada para 5 de junho, será realizada três semanas antes do prazo final de um acordo sobre o programa nuclear do Irã. O governo em Teerã diz que pode acrescentar quase um milhão de barris à produção diária até seis meses depois que as sanções forem suspensas.

Trata-se de um milhão de barris com que a OPEP não estava tendo que se preocupar desde que adotou uma nova estratégia, em novembro, de preferir a participação do mercado em vez de apoiar os preços. O grupo já está extraindo a maior quantidade de petróleo em mais de dois anos para esmagar os produtores que têm custos mais altos, e, embora o retorno do Irã vá redobrar a pressão sobre os rivais da OPEP, também intensificará a concorrência por compradores dentro da organização.

"Está havendo muita competição pelas posições na OPEP neste momento", disse Ole Hansen, diretor de estratégia de commodities do Saxo Bank A/S, com sede em Copenhague, em entrevista por telefone. "Os sauditas estão incrementando a produção e todos os outros países-membros da OPEP que podem estão fazendo a mesma coisa. Se a OPEP não estiver disposta a diminuir a produção a fim de encontrar espaço para o Irã, eles terão que buscar reduções de produtores de fora do grupo".

A OPEP vai manter sua meta de produção de 30 milhões de barris por dia quando se reunir em Viena, segundo 33 dos 34 analistas e traders consultados pela Bloomberg no mês passado. Na realidade, o grupo vem extraindo uma quantidade maior do que essa há um ano, sinal de sua determinação em não ceder nem um barril de participação no mercado aos produtores rivais.

Estratégia

A estratégia da OPEP está funcionando: o número de torres ativas de perfuração de petróleo nos EUA caiu à taxa recorde de 60 por cento, para 646; em maio, a produção das formações americanas de xistodeclinou pela primeira vez desde fevereiro de 2011; e os produtores eliminaram bilhões de dólares de seus planos de gastos. Em contraste, a Arábia Saudita, o maior país-membro da OPEP e arquiteto da estratégia, está utilizando o maior número de torres em pelo menos duas décadas e operando com a menor capacidade de produção de reserva em cerca de três anos.

O Irã e seis potências mundiais, como os EUA, a Rússia e a China, estão tentando finalizar até 30 de junho os termos e detalhes de um acordo nuclear que restringiria o programa nuclear do Irã em troca de uma redução das sanções. A retomada das discussões está marcada para esta semana em Viena. Ambas as partes disseram que problemas complicados turvam a perspectiva de sucesso.

O aumento da produção do Irã e de seu vizinho, o Iraque, vai intensificar a concorrência dentro da OPEP pelas vendas aos mercados de maior crescimento na Ásia e colocará à prova a unidade do grupo. Isso também ameaça acabar com o rali de 40 por cento nos preços do petróleo bruto em relação ao valor mais baixo em seis anos, registrado em janeiro.

Produção

O Irã produziu 2,8 milhões de barris de petróleo bruto por dia no mês passado, em comparação com até 6 milhões na década de 1970, mostram dados compilados pela Bloomberg. A suspensão das sanções que têm limitado as exportações também incentivaria os gastos no setor petroleiro do país, que controla a quarta maior reserva do mundo. As negociações com investidores estrangeiros já começaram.

A Arábia Saudita, cuja população é de maioria muçulmana sunita, e o Irã, predominantemente xiita, estão cada vez mais contrapostos na disputa pela influência regional. O Irã declarou apoio aos rebeldes no Iêmen, a quem os sauditas se opõem, e está apoiando o governo de liderança xiita no Iraque.

"É provável que os sauditas não deem espaço para eles", disse Francisco Blanch, diretor de pesquisa sobre commodities do Bank of America Corp., em entrevista por telefone de Nova York. "Não há muita amizade entre esses dois".

Título em inglês: 'Iran's Million-Barrel Conundrum Brings Battle Back Inside OPEC'

Para entrar em contato com os repórteres: Anthony DiPaola, em Dubai, adipaola@bloomberg.net; Grant Smith, em Londres, gsmith52@bloomberg.net