José Paulo Kupfer

José Paulo Kupfer

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Choque de oferta no Sul não impedirá deflação em alimentos no meio do ano

A inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), não trouxe surpresas no resultado de abril, divulgado nesta sexta-feira (10), pelo IBGE. Subiu 0,38%, ligeiramente acima das expectativas dos analistas.

Nesse resultado, não há, obviamente, qualquer influência da catástrofe climática no Rio Grande do Sul. Os efeitos das quebras de oferta de alimentos e das dificuldades de distribuição da produção começarão a aparecer agora em maio, mas, principalmente, entre junho e julho.

Choque de oferta reduzirá deflação

As pressões sobre os preços de alimentos, porém, serão em parte compensadas pela tendência sazonal histórica de deflação no grupo alimentação, nos meses de meio de ano. Nas projeções de Fabio Romão, economista da LCA Consultores, um do mais experientes especialista em acompanhamento de preços, preços de alimentos ainda devem recuar em junho e julho.

"As deflações de preços de alimentos, típicas desse período, devem continuar a ocorrer, mas em nível bem menor do que o tradicional, justamente pelo efeito negativo das quebras de oferta na região atingida pelos alagamentos". Fabio Romão, especialista em acompanhamento de preços da LCA Consultores.

A marcha projetada dos preços no grupo alimentação prevê alta de 0,5% em maio e recuos de 0,2% e 0,4%, em junho e julho. Em 2023, nestes mesmos meses, a variação de preços de alimentos foi zero, em maio, com recuos de 1,1% e 0,72%, em junho e julho.

Inflação de alimentos mais alta

Mesmo com a dissipação dos efeitos do choque de oferta no Sul, os preços dos alimentos já não repetiriam, em 2024, as quedas observados no ano passado. Nas projeções de Romão, a alta, este ano, já seria de 3,9%. Depois da catástrofe climática no Rio Grande do Sul, suas previsões para a inflação do grupo alimentação subiram para 4,5%, em 2024.

Mas, como a tendência de outros grupos de preços é de refluxo — caso dos combustíveis, no grupo Transportes, e energia elétrica, no grupo Habitação —, Romão manteve a previsão de inflação cheia, neste ano, em 3,7%.

No caso da inflação de abril, a elevação refletiu os aumentos anuais de preços dos medicamentos, e a prevista retomada de altas em alimentos, depois de um período de deflação. Também altas nos preços dos combustíveis deram sua contribuição. No ano, o IPCA acumula alta de 1,8% e de 3,69%, em 12 meses, recuando em relação aos 3,93% registrados em março.

Tendência é benigna

A tendência para a variação mensal do IPCA até o fim do ano é benigna. Previsões atualizadas indicam altas em torno de apenas 0,2% a cada mês, com exceção de dezembro, com estimativa de elevação 0,4%.

Continua após a publicidade

Com isso, o ritmo do acumulado em 12 meses subiria para 4%, em junho e julho (mesmo com variações mensais nas mínimas do ano), e daí em diante retrocederia até fechar 2024 em torno de 3,7% — acima do centro da meta de 3%, fixado no sistema de metas de inflação, mas folgadamente dentro do intervalo de tolerância, que vai até 4,5%.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.